Terrorismo e terroristas, jornalismo e jornalistas

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De  Sophie Desjardin com Com António Oliveira e Silva, AFP e France Televisions
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Os meios de comunicação franceses e europeus questionam a necessidade de identificar ou não os autores de atentados terroristas.

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Com António Oliveira e Silva, AFP e France Televisions

Os ataques terroristas que têm marcado a atualidade internacional, em particular na Europa e no Médio Oriente, colocam desafio aos jornalistas e ao seu trabalho, assim como aos meios de comunicação a que pertencem.

É o caso da cobertura de acontecimentos como os atentados de Paris, em novembro de 2015, os atentados de Bruxelas, em março, o ataque em Nice, o tiroteio de Munique ou a tomada de reféns numa igreja perto de Rouen, em julho deste ano.

A principal questão prende-se com a necessidade de ser estabelecido um equilíbrio entre a liberdade de informação e o necessário respeito pelas vítimas, evitando, por outro lado, a chamada glorificação dos atos cometidos por indivíduos considerados como terroristas perante a lei, seja qual for o motivo dos ataques.

Nesse sentido, países europeus como a Suiça e a França debatem a necessidade de evitar a divulgação dos nomes e imagens com os rostos dos terroristas. Se em Portugal, Espanha, Itália em França (neste último caso, até há bem pouco tempo), fotografias e nomes de quem comete atentados são divulgadas sem qualquer limitação, diversos meios de comunicação suiços decidiram evitar a difusão das imagens dos terroristas.

O debate em França

Em França, o debate começou há pouco tempo. O diário vespertino Le Monde, anunciou que deixaria de publicar imagens dos atacantes depois do ataque com um camião levado acabo no Passeio dos Ingleses, a marginal de Nice, dia 14 de julho. Posição partilhada pelo canal de informação por cabo, a BFMTV, mas não pelo diário Le Figaro, que aposta pela publicação das fotos dos terroristas, ainda que “tendo em conta o bom senso e a moderação.” Os meios de comunicação franceses que optaram por deixar de divulgar as identidades dos terroristas dizem querer evitar uma apologia involuntária do terrorismo. Em poucas palavras, a possível glorificação dos que levam a cabo os atentados, que serviriam de exemplo a potenciais terroristas.

A decisão surge depois de diferentes polémicas relativas à cobertura de ataques nos últimos meses. Em janeiro de 2015, durante os ataques contra a revista satírica Charlie Hebdo e ao supermercado judaico, um jornalista do canal BFMTV divulgou, em direto, o refúgio de um dos reféns do estabelecimento, uma mulher que acabou por ser morta. Mais recentemente, durante o ataque em Nice, um jornalista do canal da televisão pública France 2 decidiu entrevistar um homem, pouco depois do ataque, no Passeio dos Ingleses. Um pormenor: o homem encontrava-se ao lado de um cadáver coberto, que era o da sua mulher, morta depois de ter sido atropelada pelo camião.

Délibération du CSA sur la couverture médiatique de l'attentat de Nice https://t.co/eL5NBvvC9B

— CSA (@csaudiovisuel) 27 juillet 2016

O canal emitiu, posteriormente, um pedido de desculpas, mas o Conselho Superior para o Audiovisual ou CSA, a autoridade para a rádio e televisão em França, decidiu abrir um inquérito à France 2 por “falta de respeito pelo princípio da dignidade da pessoa humana.”

Édition spéciale sur l'attentat de #Nice : France Télévisions présente ses excuses. https://t.co/AUOQUKmUiR

— France 2 (@France2tv) 15 juillet 2016

A posição da Euronews

**Neste contexto em que o equilíbrio entre a informação e o distanciamento dos factos se revela cada vez mais delicado, a Euronews decide adotar uma posição editorial clara.**O canal de informação europeu, cuja difusão diária chega aos quatro cantos do planeta, decide dar conhecer todos os elementos que explicam a realidade. Dessa mesma realidade, neste caso, fazem parte as identidades, os nomes, os rostos e as fotos de quem comete atentados. Por isso, estes elementos são divulgados sem qualquer impedimento, ainda que sejam tomadas medidas para evitar qualquer tipo de glorificação posterior e para evitar que a Euronews ajude, ainda que involuntariamente, os terroristas a atingirem os seus objetivos.

Nota da Direção de Informação da Euronews

*A política editorial da Euronews é a de mostrar aos telespetadores a realidade do mundo baseada em factos.*As identidades e as imagens de quem comete atentados na Europa, no Médio Oriente e em todo o mundo constituem esses mesmos factos, factos que se tornam editorialmente relevantes e que, como tal, são parte da nossa cobertura, destinada a uma audiência mundial.

Seguimos, no entanto, uma série de regras a nível editorial para que nos possamos assegurar de que não glorificamos o terrorismo nem ações terroristas e que não promovemos o que os terroristas entendem como os seus objetivos. Por outro lado, as vítimas têm sempre um papel mais importante na cobertura de todo e qualquer ato desta natureza durante o nosso trabalho.

A Direção de Informação da Euronews.

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