A sobrevivência nos campos de refugiados rohingya do Bangladesh

A sobrevivência nos campos de refugiados rohingya do Bangladesh
De  Euronews
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A Euronews visitou a região, onde milhares de muçulmanos do Myanmar escaparam ao que dizem ser as atrocidades do exército birmanês.

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A Euronews foi testemunha o que parece ser um êxodo sem fim. Os Rohingya, minoria muçulmana do Myanmar, antiga Birmânia, procuram refúgio nos campos do Bangladesh.

Desde o início da repressão levada a cabo pelo exército birmanês, no final de agosto, milhares de pessoas atravessaram a fronteira. Só no ponto de passagem de Anjuman Para, na região de Cox Bazar, foram registados quatro grandes fluxos em três meses. Calcula-se que, só no mês de outubro, mais de 35 mil pessoas tenham atravessado a fronteira.

Aid Zone Bangladesh
Face a uma situação de crise grave, as organizações não governamentais no terreno decidiram agir. Chegaram médicos e foram enviados mantimentos e água. Criou-se uma rede de contactos com equipas prontas para assistir os refugiados que vão chegando.

Kutupalong, 450 mil pessoas numa cidade de lama e bambú
Ainda assim, a situação é difícil de controlar. Alguns dos campos de refugiados são formados sem qualquer planificação. Em Kutupalong estão agora mais de 450 mil pessoas. Uma cidade de lama e bambu sem as estruturas para os milhares de refugiados que acolhe.

Rashida tem 25 anos e encontra-se entre milhares de Rohingya que dizem ter sido vítimas das violência cometidas pelo exército birmanês. Contou à Euronews que os soldados birmaneses queimaram a casa da família com os pais dela lá dentro. “Foram queimados vivos”, disse. “Os militares roubaram tudo o que puderam”.

Perto de Rashida estava Sayed, que diz ter abandonado a localidade onde vivida, no estado birmanês de Rakhine, porque os soldados imepdiam a livre circulação das pessoas. “Depois, queriam autorizações especiais para podermos trabalhar. E sempre que vinham a minha casa, os soldados roubavam coisas.”

Em entrevista à Euronews, Christos Stylianides, Comissário Europeu para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises, fala numa situação de extrema urgência.

“Temos de convencer o Governo birmanês de que esta é uma questão de Direitos Humanos. Não é um problema de religião. Falamos de Direitos Humanos, os direitos fundamentais de qualquer pessoa, de qualquer Ser Humano”, disse Stylianides.

“Concordo com o Secretário-Geral António Guterres quando diz que enfrentamos um caso de limpeza étnica”.

Famílias assassinadas pelo exército birmanês
Casos como o de Rafika parecem ilustrar a situação defendida pelas Nações Unidas e pela Comissão Europeia: A jovem chegou a Kutupalong há dois meses. Os pais foram mortos em Myanmar quando tentavam escapar da aldeia. Só Rafika e a avó sobreviveram, fugindo depois para o Bangladesh.

A Euronews falou com a jovem refugiada nas instalações da organização não governamental Ação Contra a Fome, onde contou que chegou ao campo “com muita fome”.

https://t.co/fzhrppyLLt

— Monica Pinna (@_MonicaPinna) 3 novembre 2017

“Depois de comer, senti-me muito melhor. Não comi durante sete dias, o tempo de viagem até ao Bangladesh.”

A Organização Não Governamental Ação Contra a Fome serve cerca de 800 refeições por dia no campo de refugiados de Kutupalong. Quando chegaram, em agosto, tinham menos recursos, pelo que ajudavam apenas mulheres gravidas e em amamentação. Há 15 cozinheiros que preparam as refeições todos os dias. Contam com a ajuda de voluntários Ronhingya.

Falta de água potável e crianças subnutridas
Os campos recebem até 70 mil litros de água por dia. O refugiados Rohingya não têm acesso a água potável. Em muitos casos, encontrar um balde para transportar água é uma dificuldade.

A UNICEF diz que mais de 20% das crianças com menos de cinco anos em campos como este sofre de subnutrição. Uma situação que se agravou, apesar de toda a ajuda humanitária.

O acesso ao estado birmanês de Rakhine, onde vive a maioria do povo Rohingya, é muito difícil, mesmo para as organizações nao governamentais. O Comissário Christos Stylianides esteve na região.

“Foi uma experiência absolutamente dolorosa. Vimos como as coisas se passavam e chegámos à conclusão de que algo estava muito errado. As pessoas não comunicam. E é esse o grande obstáculo ao fim do conflito no terreno”, explicou o Comissário Europeu para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crises à Euronews.

Detenções, tortura e desaparecimentos
As Nações Unidas dizem que há indícios de execuções sumárias, desaparecimentos, detenções arbitrárias e de tortura. Indícios confirmados pelas milhares histórias dos refugiados Rohingya.

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All the groups consulted spoke of fear for their physical safety and security on account of being stateless #IBelonghttps://t.co/qXCEWEUOCSpic.twitter.com/jLwO2tqJRD

— UN Refugee Agency (@Refugees) 20 novembre 2017

O fim do êxodo dos Rohingya só pode ser alçancado quando o Bangladesh e Myanmar chegarem a um acordo para a repatriação dos refugiados. Um acordo que a União Europeia defende, embora consciente das dificuldades. Uma posição defendida também pelas Nações Unidas, ainda que a organização receie que refugiados como Rafika possam ser enviados para campos de detenção em Myanmar.

Com António Oliveira e Silva, Nara Madeira e Michel Santos

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