A guerra na Ucrânia abriu um novo capítulo na utilização de drones. De acordo com especialistas está a ocorrer uma revolução militar e tecnológica.
No campo de batalha, do lado da Ucrânia e da Rússia, drones de todos os tipos tornaram-se a arma de eleição para a defesa, também contra as armas convencionais.
A maioria das pessoas está mais familiarizada com os dispositivos para uso quotidiano e civil, mas a evolução neste campo levou à criação de drones que podem viajar centenas de quilómetros, voar durante um dia inteiro ou mesmo atingir uma altitude de até 5 quilómetros.
São vários os países que os produzem - Turquia, Irão, EUA - e os preços variam, mas o objetivo é sempre o mesmo: que sejam cada vez mais rápidos, indetetáveis, acessíveis e capazes de causar destruição.
Mas para que servem, de facto, os drones?
As missões dos drones consistem em identificar posições inimigas, marcar o local a bombardear e bombardear ou corrigir a posição no caso de o bombardeamento falhar. Estão em áreas específicas e, normalmente, aproximam-se a um quilómetro ou a centenas de metros.
Os drones passaram de instrumentos marginais, utilizados em missões de reconhecimento, para se tornarem, inesperadamente, numa prioridade na guerra. As evoluções tecnológicas - eficácia dos novos sistemas de óptica estabilizada, com visão noturna, e outras novas tecnologias - tornam-nos apelativos. Até porque, este é um instrumento que antes só estava ao alcance de alguns exércitos, em termos de custo, e está agora ao alcance de quase toda a gente, mesmo de particulares.
Que tipos de drones estão a ser utilizados na guerra da Ucrânia?
"Nem a Ucrânia nem a Rússia estavam, realmente, preparadas para esta guerra em termos de drones", referia César Pintado. "A Rússia estava atrasada" em termos tecnológicos e "tinha incorporado no seu exército drones de fabrico israelita". Agora, que está "sujeita a sanções e ao bloqueio tecnológico, está a fazer compras maciças de drones iranianos e isrealitas", este perito pergunta-se mesmo se não se verão outros de fabrico chinês.
Já a Ucrânia, referia a mesma fonte, que é também analista do Estado-Maior das Forças Armadas de Espanha, parte "de uma situação de inferioridade, com poucos drones próprios", mas estão a evoluir em termos de material próprio e daquele que está a ser fornecido por aliados como os EUA.
Mas a estrela, dizia César Pintado, é o Bayraktar TB2, um veículo aéreo de combate não tripulado, com grande autonomia e que circula a média altitude, desenvolvido pela empresa turca Baykar.
Estes drones são capazes de causar destruição maciça?
Sobre se os drones que estão a ser utilizados têm capacidade destrutiva suficiente para causar danos de importância estratégica, o Professor Pintado salienta: "Isso é mais duvidoso. Os drones podem atingir alvos estratégicos, como atacar a capital do inimigo", como se viu nos últimos bombardeamentos. Mas ainda há um caminho a percorrer para serem decisivos.
De facto, a Ucrânia tem um site United24 onde recebe todo o tipo de doações de drones. Especifica as suas necessidades e o seu principal objectivo "monitorizar, constantemente, uma enorme linha da frente de 2470 km e apoiar uma resposta eficaz aos ataques inimigos". Os principais pontos de recolha são os EUA e a Polónia.
"Também precisamos de drones mais simples. Precisamos de milhares deles. Não voam tanto e tão longe, mas também podem desempenhar importantes funções de reconhecimento", lê-se na mensagem do sítio na internet promovido pelo próprio Presidente Volodymir Zelenski.
O site tem patrocinadores como o próprio Mark Hamill, o famoso ator que interpretou Luke Skywalker na Guerra das Estrelas. Angaria fundos para o RQ-35 Heidrun, salientando que o seu sistema de rádio é muito fiável e capaz de resistir à guerra eletrónica. A lista de nomes parece mais extensa do lado ucraniano e, de acordo com alguns relatórios, o número de drones também.
Quantos drones estão a ser utilizados na guerra ucraniana?
As perdas deste tipo de veículos não tripulados ucranianos rondam os 10 000 por mês, de acordo com uma investigação recente do Royal United Services Institute, britânico.
No entanto, de acordo com César Pintado, este número é "totalmente exagerado". O especialista em drones para aplicações militares duvida mesmo que existam 10 000 drones em serviço nos exércitos europeus. Para ele é "uma gralha ou um disparate".
A Rússia, por seu lado, também está a fazer compras maciças, observava Pintado. "Li recentemente nos media que assinou um contrato para 2.000 unidades e é a maior compra de que já ouvi falar", afirmava este especialista em Defesa.
No entanto, são necessários muito mais drones para que a "guerra dos drones" seja produtiva. Abishur Prakash expplicava à Euronews que seriam "necessários (...) centenas de milhares de drones para travar uma guerra eficaz".
Quem está a fornecer os drones para a guerra da Ucrânia?
De acordo com Pintado, os fornecedores de drones à Rússia, neste momento, são Israel e o Irão, "principalmente com os drones kamikaze Shahed 136".
O diretor executivo da Geopolitical Business, Abishur Prakash, salientava que: "nos céus da Ucrânia, não há apenas a luta entre a Ucrânia e a Rússia".
Prakash apontava o exemplo do navio de guerra mais poderoso da Rússia, alegadamente afundado com a ajuda de drones turcos. "Os países distantes da Ucrânia, distantes geograficamente deste conflito, podem de repente desempenhar um papel neste conflito com drones (...), as fronteiras do conflito estão a alargar-se", acrescentava.
Como é que os drones se podem tornar mais relevantes?
O Professor Prakash alerta para uma situação que pode surgir se a necessidade de drones se expandir. O que aconteceria se o Irão começasse a construir fábricas dentro da Rússia? "E se a Rússia for capaz de construir a sua própria cadeia de abastecimento interna?" Isso poderia, provavelmente, influenciar o curso do conflito. Como acontece com os ciberataques seria uma guerra, que envolveria também o Irão, mas sem que a mesma fosse, de facto, declarada.