Exposição em Madrid explora relação entre Picasso e uma das suas maiores influências

A exposição explora a influência de El Greco (suposto autorretrato à esquerda) no cubismo de Picasso (à direita).
A exposição explora a influência de El Greco (suposto autorretrato à esquerda) no cubismo de Picasso (à direita). Direitos de autor AP/Canva Images
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De  Theo FarrantAP
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Intitulada "Picasso, El Greco e o Cubismo Analítico", a mostra examina a forte influência do mestre grego na obra de Picasso

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O famoso Museu do Prado, em Madrid, inaugurou esta terça-feira uma exposição para comemorar o 50.º aniversário da morte de Pablo Picasso.

A mostra "Picasso, El Greco e o Cubismo Analítico" analisa o profundo fascínio de Picasso pelas obras de arte do mestre grego El Greco.

A exposição reúne uma cuidadosa seleção de pinturas de Picasso e El Greco, apresentando-as lado a lado. Assim, revela as fortes semelhanças que as obras de ambos partilham em termos de paletas de cores, técnicas de pincelada e elementos de composição.

Miguel Falomir, diretor do Museu do Prado, explica que a mostra foi feita "com um tema muito preciso e específico, que é a relação ou a inspiração que Picasso terá encontrado em El Greco para aquela que foi a sua grande contribuição - provavelmente a mais revolucionária - para a história da pintura: o cubismo analítico".

Quem foi El Greco?

Wikimedia Commons
Presumido autorretrato de El GrecoWikimedia Commons

El Greco, nascido como Domḗnikos Theotokópoulos em 1541, cresceu na cidade cretense de Heraklion, que era então conhecida como Candia, sob o controlo da República Veneziana.

O apelido El Greco, que significa "o grego" em espanhol, refere-se à sua herança grega.

Tal como outros artistas e intelectuais de Creta durante o século XVI, El Greco mudou-se para Veneza, onde estudou sob a tutela do pintor italiano Ticiano.

No final da década de 1570, estabeleceu-se na cidade espanhola de Toledo, onde desenvolveu o seu próprio estilo, caracterizado por figuras alongadas e uma paleta de cores sombrias, mas vibrantes.

O legado do artista permanece imortalizado nas suas pinturas religiosas e nos seus retratos.

Os "borrões cruéis" que inspiraram Picasso

AP Photo
As obras de Picasso e El Greco estão expostas lado a lado, no Museu do Prado.AP Photo

Carmen Giménez, especialista na obra de Picasso, é a curadora da exposição.

Giménez diz que El Greco foi o primeiro artista a utilizar técnicas cubistas, particularmente durante a fase final da sua carreira.

"Ao longo de toda a carreira de El Greco, também se pode ver a influência que ele poderia ter tido no Cubismo, mas, acima de tudo, é nos últimos "Apóstolos" [uma série de obras do artista] que o pintor se sente livre", explica a curadora. 

Começa, então, "a fazer aquilo a que Pacheco chamava de 'borrões cruéis', que foi o que inspirou Picasso, que veio para cá como aluno da Academia de Belas Artes".

O termo "borrões cruéis" refere-se às pinceladas imediatas e arrojadas que o artista grego aplicava diretamente na superfície de pintura. A técnica é evidente em obras como "O Aficionado" e "O Acordeonista".

Em vez de se basear nas linhas tradicionais para definir a forma e a profundidade, El Greco dispôs as formas em dobras abstratas. 

Estes "borrões cruéis" também se encontram nas obras cubistas analíticas de Picasso, juntamente com a paleta preferida do grego, de cinzentos, ocres e castanhos, utilizada nas suas pinturas dos "Apóstolos".

Picasso rapidamente reconheceu o caráter distintivo da abordagem artística de El Greco em relação aos seus contemporâneos.

Picasso e o Museu do Prado

AP Photo
O artista espanhol Pablo Picasso posa com um dos seus últimos quadros, no jardim do seu estúdio em Vallauris, no sul de França, em outubro de 1950.AP Photo

Carlos Alberdi, coordenador da celebração de Picasso em Espanha, destaca a ligação especial entre o pintor e o Museu do Prado.

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"Esta exposição no Museu do Prado tem uma importância excecional, porque Picasso foi diretor do museu durante a Guerra Civil [Espanhola]", explica Alberdi. "Isto significa que existe uma ligação muito particular, para além do facto de Picasso visitar este museu praticamente desde criança".

A mostra inclui ainda documentos oficiais de 1936 relativos à nomeação do artista espanhol como diretor e ao seu salário no museu.

"A primeira vez que [Picasso] vem ao Prado fica fascinado por Velázquez. A segunda vez que vem ao Prado descobre El Greco e fica deslumbrado. É o início do cubismo, digamos assim. Foi El Greco que fez Picasso ver a dupla dimensão e, por isso, podemos dizer que ele foi fundamental na conceção do cubismo", acredita Giménez.

Ao justapor as obras dos dois influentes artistas, sobretudo os quadros cubistas de Picasso e as pinturas tardias de El Greco, a exposição abre novas perspetivas sobre o significado da sua relação na formação da arte de vanguarda do século XX.

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