Na Croácia, os pescadores em pequena escala estão a tentar tornar a atividade mais sustentável. Com a ajuda de apoios europeus e de ONG, esperam também poder trabalhar menos e ganhar mais.
Junto à cordilheira de Velebit, na Croácia, Šime Barić dedica-se à apanha de lagostins. Muito conhecidos e apreciados no país, estes frutos do mar podem atingir preços elevados. Mas, apesar do valor das capturas, Šime escolheu pescar menos.
É oficialmente um "pescador em pequena escala", uma classificação que tem por base critérios, como o tamanho do barco e o tipo de equipamento usado nas capturas.
Nos debates políticos, estes profissionais são muitas vezes ofuscados pela grande indústria pesqueira. Mas, tanto a nível cultural, como económico, os pequenos pescadores desempenham um papel importante em pequenas comunidades costeiras como a aldeia de Barić Draga, onde, de acordo com Šime, a pesca é provavelmente "a única forma de trabalhar durante todo o ano e ganhar algum dinheiro".
A pesca do lagostim em pequena escala faz-se por captura com caixas em rede, no fundo do mar. Dependendo do profissional, ou da escala em que a apanha é feita, a prática pode ser mais, ou menos sustentável para o ambiente.
Šime garante que, na área onde opera, " todos os lagostins nesta área foram apanhados com equipamentos seletivos para capturar apenas os maiores, que não passam através da malha", com um impacto reduzido no meio e contribuindo para "um produto de primeira qualidade".
Investigação ao serviço da pesca
Atualmente Šime trabalha com Marina Mašanović, oceanóloga da Universidade de Zagreb e filha de pescador. Marina usa o projeto de investigação do próprio doutoramento para ajudar pequenos pescadores a tornar os equipamentos de pesca ainda mais seletivos.
O objetivo da é evitar a captura de pequenos lagostins, que apesar de legal dá tão pouco rendimento que não vale o esforço.
"Investiguei e cheguei ao tamanho ideal da malha, para que os pescadores não tenham de passar mais tempo a classificar as capturas e assim capturem apenas os indivíduos maiores, que são realmente mais adequados para o mercado", afirma.
Todos os lagostins fêmeas são também devolvidos ao mar. Mesmo os maiores, que poderiam ser facilmente vendidos a 35 euros o quilo. A prática é na verdade um investimento, tendo em conta que cada fêmea pode produzir até mil ovos e libertá-las significa capturas maiores no futuro.
No entanto, a investigadora, que defende a ilegalização da captura de fêmeas com ovos, adverte que "o atual regulamento não exige isto, alguns pescadores fazem-no por iniciativa própria".
Trabalhar menos e ganhar mais
Escolher pescar menos tem custos, começando pelos equipamentos. Mas Organizações Não-Governamentais (ONG) como a WWF estão a usar apoios europeus para ajudar os pescadores nesta transição.
As organizações querem mostrar que, a longo prazo, as medidas vão beneficiar tanto o ambiente, como os pequenos pescadores. Os peixes e mariscos capturados de forma sustentável valem mais e são mais procurados pelos restaurantes mais caros. Ou seja, com uma abordagem mais seletiva, os pescadores podem trabalhar menos e ganhar mais.
Fabijan-Hrvatin Peronja, gestor de projeto da WWF, explica que o seu papel passa por fazer "a ponte com o mercado. Formamos cooperativas, construímos planos de negócios, criamos marcas que os clientes possam reconhecer e apreciar. E, dessa forma, queremos diferenciar estes pescadores, que trabalham de um modo sustentável, dos outros pescadores.
Com o apoio do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos, das Pescas e da Aquiculturaviabilizado pela WWF, os pescadores locais formaram uma cooperativa de pesca sustentável e estão prestes a abrir um mercado de peixe na aldeia de Ražanac.
Para a ONG, estes exemplos provam que, com a assistência certa, mais pescadores de pequena escala em todo o Mediterrâneo poderiam escolher pescar menos e ganhar mais, ajudando as populações de peixes a recuperar, sem perda de empregos, nem de património.
Da pesca para o turismo de pesca
Em algumas áreas turísticas, os pescadores artesanais estão a reinventar-se como guias turísticos. Na ilha de Kythnos, na Grécia, Christos e Lea, um casal de pescadores, criaram um negócio de turismo de pesca, depois de as capturas na zona terem diminuído consideravelmente.
"O problema aqui é a pesca excessiva. Com muitos barcos a lançar e arrastar as redes dia após dia, o peixe está a tornar-se escasso. Em geral, à volta da ilha, verifica-se um grande declínio. A cada ano que passa, a situação piora. E a pesca foi o único trabalho que tive. Mas agora, graças ao turismo da pesca, podemos voltar ao mar, o mar que eu amo", conta Christos.
Durante um dia no barco, os turistas podem aprender como os pescadores artesanais trabalham e como se preocupam com o bem-estar marinho. Também apanham peixe suficiente para um saboroso almoço a bordo. Não é barato - uma viagem de 5 horas para um grupo de quatro turistas fica em 400 euros - mas muitos consideram que a experiência única vale bem o preço.
As transições para o turismo de pesca também são apoiadas pelos programas europeus e da WWF. O líder do projeto, na Grécia, Michalis Margaritis, acompanha a reconversão profissional, através de seminários sobre turismo pesqueiro dos pescadores, "porque o turismo é uma atividade com a qual não estão familiarizados".
Os pescadores em pequena escala representam metade de todo oemprego no setor das pescas da Europa. Sozinhos terão dificuldade em enfrentar os crescentes desafios económicos e ambientais.
Para Marco Costantini, gestor de projeto do Programa Mediterrâneo da WWF, "a maior parte do investimento e da atenção dada pelos governos estão concentradas na pesca industrial em grande escala". Mas para os pequenos pescadores serem sustentáveis precisam de apoio e cooperação.
"Há várias coisas que podemos fazer, mas é necessária uma interação coerente entre pescadores, cientistas, ONG e decisores, todos juntos e empenhados na transformação deste setor pesqueiro".