Limpar, dessalinizar, reciclar: há mais água a chegar aos europeus

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De  Cyril FournerisEuronews
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Com o aumento da procura e as alterações climáticas, a Europa está a investir em novas formas de reaproveitar um dos recursos mais valiosos do mundo: a água.

A vida na Terra depende da água doce, um recurso sob pressão. A explosão da procura global e as alterações climáticas estão a torná-la cada vez mais preciosa. Mesmo na Europa, onde inundações e secas são cada vez mais brutais e estão a afetar a vida de milhões de pessoas.

Também corremos o risco de os químicos presentes no nosso quotidiano estarem a passar para o que bebemos e persistirem no ciclo da água.

Mas, por outro lado, a qualidade dos cursos de água está a melhorar, em geral, e o acesso à água potável é elevado, indo ao encontro da ova diretiva europeia sobre a água potável visa garantir o acesso de todos a uma água de qualidade.

O maior reservatório de água potável da Europa

O Lago de Constança, na região alemã de Baden-Württemberg, é o maior reservatório de água potável da Europa, bebida por milhões de pessoas. Orgulho da cidade, rege-se por um princípio simples: quanto menos poluída for a água, menos terá de ser limpa.

Marie Launay, uma cientista francesa radicada na Alemanha, trabalha na região, à frente de uma unidade dedicada à luta contra os micropoluentes, nocivos para os peixes, os ecossistemas e seguramente para os seres humanos.

"Estamos a usar cada vez mais químicos em casa, nos produtos domésticos. Estamos a usar mais medicamentos e também mais pesticidas. E estas substâncias, quando são persistentes, também persistem no ambiente. Por isso, é importante poder eliminá-las para preservar a qualidade da água”, afirma.

Parte da solução está nas estações de tratamento de águas residuais que tratam a água que usamos, antes de a devolver à natureza.

Várias estações deste estado federal alemão foram equipadas com um tratamento adicional, por ozono, em que os poluentes são decompostos.

A tecnologia deverá ser desenvolvida noutros locais, numa altura em que a regulamentação europeia sobre as águas residuais está a mudar e é provável que a lista de poluentes a eliminar aumente.

"Existem planos para eliminar os micropoluentes das grandes estações e das regiões sensíveis a nível da União Europeia. Está previsto que as indústrias farmacêutica e cosmética paguem o financiamento destas instalações de proteção ambiental.

Pode pensar-se que dessalinizar a água do mar é caro, mas é melhor do que não ter água
José Luis Zaplana
Diretor da fábrica de dessalinização Cadagua, Valência, Espanha

Espanha aposta na rega com água do mar

Espanha, o nível das reservas de água é preocupante, sobretudo em algumas regiões como Valência, regularmente afetada pela seca. 

Para fazer face a esta situação, o país criouinstalações de dessalinização, que produzem água doce a partir da água do mar e são responsáveis por cerca de 9% da água doce consumida a nível interno.

Trata-se de uma tecnologia cara e que consome muita energia, mas necessária, 

José Luis Zaplana, diretor da fábrica de dessalinização Cadagua, na  zona industrial valenciana. explica que, por exemplo, a sua central "permite que a água do rio Jucar seja devolvida a outras populações que não dispõem deste recurso". 

"Pode pensar-se que dessalinizar a água do mar é caro, mas é melhor do que não ter água", defende.

Também Mariola Dura, responsável pelas operações da companhia de saneamento Acuamed, reconhece as vantagens da tecnologia. 

"Ajuda muito o motor económico, o turismo, a agricultura, neste caso a indústria. Não temos de nos preocupar tanto se chove, ou não".

Há lugares no mundo onde a água que sai das estações de tratamento de águas residuais pode ser bebida
Juan Ángel Conca
Diretor da EPSAR, Valência, Espanha

Águas residuais contribuem para bebida local

Espanha é também campeã europeia na reutilização de águas residuais. Sobretudo para a agricultura, que capta muitos recursos.

Da horta, uma grande zona agrícola perto do centro da cidade de Valência, saem regularmente produtos frescos para os habitantes, por vezes regados na totalidade com águas recicladas na estação de tratamento de águas residuais.

A prática será incentivada e regulada através de novas regras europeias, que vão entrar em vigor este verão.

Mas as vantagens destas fábricas de reciclagem de água, lembra Juan Ángel Conca, diretor da Companhia Pública de Saneamento de Águas Residuais da Comunidade Valenciana (EPSAR), não se ficam apenas pela água para rega.

"Há lugares no mundo onde a água que sai das estações de tratamento de águas residuais pode ser bebida! Tudo isto, que parece uma fábrica, é uma fábrica de recursos. É uma fonte de água limpa para a agricultura, de água limpa para o ambiente, mas também de lamas, que são utilizadas para fazer fertilizantes para a agricultura. E, finalmente, uma fonte de energia, porque produzimos biogás que usamos nas nossas instalações".

A água é usada para regar diferentes frutas e legumes e em muitos casos, chufa, tubérculo típico de Valência, usado como principal ingrediente da orchata, a bebida local.

Enrique Aguilar é agricultor e lembra-se de como, no início, as águas tratadas deixavam os produtores de pé atrás. “No início, os agricultores tinham dúvidas. Mas já usamos esta água há mais de 25 anos e o resultado é muito positivo.

E será que com água reciclada a chufa sabe ao mesmo? Enrique não hesita na resposta: “Água é água. Ela tem todas as qualidades necessárias. Regamos com água reciclada há muitos anos e nunca ninguém notou nada".

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