Numa altura em que a União Europeia quer tornar a moda mais sustentável, exploramos alternativas ao flagelo ambiental da moda barata e acessível. Há designers italianos a reciclar o maior número possível de tecidos usados, e na Lituânia aposta-se na "segunda mão" e na reciclagem.
A indústria têxtil é uma das mais poluentes do mundo. Prospera nas lojas bem iluminadas da moda de baixo custo. A produção explodiu em todo o mundo, assim como as suas emissões tóxicas. Compramos cada vez mais roupas que duram cada vez menos. Muitas vezes, acabam em aterros sanitários, longe da Europa e longe da vista.
Será que ainda é possível uma mudança sustentável?
Para encontrar as respostas, viajámos até Prato, na região italiana da Toscana. Esta cidade, cuja história está ligada aos têxteis desde a Idade Média, alberga o maior bairro têxtil da Europa. O local é uma meca da economia circular: 15% dos têxteis reciclados do mundo são produzidos aqui.
A Itália produz fibra de lã com um impacto ambiental reduzido
Líder na reciclagem de lã, a Comistra dá uma nova vida às toneladas de tecido usado que chegam todos os dias ao armazém desta empresa centenária.
"Cerca de 60% dos materiais destinam-se a reutilização, cerca de 35% serão reciclados e cerca de 5% serão deitados fora. As roupas chegam em sacos e são selecionadas à mão, e é assim que decidimos o que será reutilizado ou reciclado", explica Alice Tesi, diretora de marketing e comunicação da Comistra.
Depois de selecionada por cor, a lã é reduzida a fibra e regenerada por máquinas. "A fibra rasgada é transformada em matéria-prima e a água que utilizamos é reciclada", revela Alice Tesi, mostrando-nos as várias fases do processo.
Uma estratégia europeia
A economia circular está no centro da estratégia têxtil da União Europeia, que tem como objetivo impor a utilização de fibras recicladas e incentivar o design ecológico.
"Quando concebemos uma peça de vestuário, temos de a pensar de forma a que, no final da sua vida útil, possa ser facilmente reparada, reciclada e reutilizada: é a isto que chamamos o círculo mágico da economia circular", salienta Fabrizio Tesi, CEO da Comistra.
Fabrizio Tesi destaca que o Pacto Verde e a Europa "estão a dar-nos um caminho a seguir e a transferência destes materiais para o setor da reciclagem pode criar muitos empregos".
Mas as pessoas continuam a precisar de comprar roupas realmente sustentáveis. Para combater o "greenwashing", está a ser estudado na Europa um projeto de passaporte com código QR. O objetivo é ter acesso a dados sobre a reciclabilidade ou o impacto ambiental.
Niccolo Cipriani acredita que é a história por detrás da peça de vestuário, e não o seu preço, que deve orientar a compra. É o fundador da Rifo, uma start-up que privilegia as fibras naturais, como o algodão e a lã, e modelos de material único, reciclados e recicláveis.
"Atualmente, a maioria dos tecidos no mercado são comprados a baixo preço e não são recicláveis, o que é um problema (...) Porque a melhor forma de rentabilizar um produto é misturar fibras naturais e sintéticas", sublinha Niccolo.
O empresário acredita que, a dada altura, "teremos de introduzir um critério de reciclabilidade e poderemos dizer: quem faz roupa reciclável paga um determinado imposto e quem faz roupa que não é totalmente reciclável terá de pagar outro".
A diretiva-quadro europeia relativa aos resíduos vai sofrer alterações. Prevê cobrar aos fabricantes poluentes a recolha seletiva de têxteis usados. Em Prato, no próximo ano, será construído um novo centro de triagem de têxteis para duplicar a quantidade de tecidos recolhidos e modernizar o setor da reciclagem.
Vílnius aposta nos artigos em segunda mão
A capital lituana é considerada a Milão ou Paris dos Estados Bálticos. Na cidade, encontrámos Deimantė Bulbenkaitė, uma jornalista de moda capaz de nos dar algumas dicas para fazer compras sustentáveis.
"Por um lado, a "fast fashion" pode dar a muitas pessoas a oportunidade de se vestirem bem (...) mas, por outro lado, a quantidade de roupa que produzem é catastrófica, na minha opinião, porque fazem muito mais do que podemos ou devemos usar", considera.
Uma alternativa barata e de boa qualidade é a roupa em segunda mão. Deimantė levou-nos a uma loja de roupa usada, onde tudo custa 4 euros.
"Ninguém precisa de fazer nada novo, a quantidade de roupa que já temos neste planeta é mais do que suficiente para todas as pessoas que nele vivem", diz a jornalista.
Deimantė continua a preferir fazer compras na Vinted. A famosa aplicação de segunda mão, criada em Vílnius há 15 anos, tem 50 milhões de utilizadores.
A Vinted afirma estar a ajudar a travar a sobreprodução de têxteis. Há alguns meses, a empresa efetuou uma grande consulta aos seus membros.
"Das centenas de milhões de transações efetuadas através da Vinted, 40% não resultaram na compra de um novo produto: são muitos produtos novos que não estão a ser fabricados", afirma Adam Jay, diretor do Vinted Marketplace. "Mas atualmente, apenas 14% das transações de vestuário de moda são em segunda mão", revela.
Um desfile de moda punk sustentável
Deimantė convidou a Euronews para um desfile de moda sustentável. A "Behind Curtains", uma marca lituana especializada em "upcycling" e criada por uma dupla de designers punk, apresentou a sua nova coleção.
Para a ocasião, Deimantė vestiu uma das criações da marca. Monika Vaisova, uma das designers da Behind Curtains descreveu a peça: "Decidimos juntar um fato e um casaco desportivo, para que se possa ir para o escritório e festejar depois". "A moda de massas é demasiado importante, está a crescer rapidamente, mas nós não precisamos dela, podemos reutilizar as roupas", defende a designer.
Deimantė concorda: "Acho que estão a fazer um excelente trabalho, porque a mensagem principal é: vamos livrar-nos da moda rápida, vamos comprar algo reciclável".