A guerra Israel-Hamas deverá criar pretextos para "lobos solitários" praticarem mais atos terroristas como aconteceu, este mês, em França e na Bélgica, disse, à euronews, Claude Moniquet, diretor executivo do Centro Europeu de Informações Estratégicas e de Segurança.
"Penso que vamos ter uma onda de terrorismo no mundo. Pode ser na Europa, como está a acontecer. Agora é em França e na Bélgica, amanhã pode ser nos Estados Unidos, pode ser em qualquer lugar, mas vai haver um choque terrorista na sequência do que está a acontecer no Médio Oriente", disse Claude Moniquet, cofundador e diretor executivo do Centro Europeu de Informações Estratégicas e de Segurança.
A euronews pediu a análise ao especialista em terrorismo na sequência da captura, pela polícia belga, terça-feira de manhã, do homem que matou duas pessoas e feriu uma terceira, de nacionalidade sueca, com uma arma de guerra, segunda-feira à noite, nas ruas de Bruxelas.
Os agentes dispararam mortalmente sobre o tunisino, de 45 anos, que vivia ilegalmente na Bélgica, responsável pelo ataque no dia em que se jogava uma partida entre as seleções de futebol da Bélgica e da Suécia.
O governo belga qualificou o incidente de atentado terrorista levado a cabo por um apoiante do extremismo islâmico e que tinha cadastro por crimes de tráfico. Um incidente similar em França, ma semana passada, causou um morto e três feridos.
Claude Moniquet vê fortes probabilidades de mais casos: "O que está a acontecer em Israel dá motivação, é um novo incentivo para ressuscitar e aumentar o jihadismo. Mas, fundamentalmente, temos de compreender que o Islão radical é o problema de base e que o terrorismo é apenas um instrumento que surge quando tem um bom pretexto para surgir".
Mais "lobos solitários", menos células de grande dimensão
O analista antecipa que se repitam os ataques dos chamados "lobos solitários", mas não espera que haja grandes operações por parte de células terroristas, como aconteceram em França e na Bélgica, no inverno de 2015 e na primavera de 2016, respetivamente, causando centenas de vítimas.
"Hoje em dia, o que temos são mais ataques individuais ou ataques em unidades familiares ou de amizade muito pequenas. Mogushkov, o homem que atacou em Arras (França), trabalhava com a sua família: o irmão mais novo, um primo, o irmão mais velho que já estava na prisão. É este o tipo de coisas que vamos ver, que é provável que vejamos", explicou.
Embora o número de vítimas pode ser menor, este tipo de ataques é mais difícil de evitar por parte dos serviços de informações e de segurança.
"É muito difícil de combater porque os serviços secretos podem atacar uma rede, na qual é preciso comunicar, telefonar, trocar e-mails, ter reuniões. Se estivermos a trabalhar num ataque com o nosso irmão, ninguém o vai ver", referiu.
Informações fornecidas às autoridades belgas por um governo estrangeiro não identificado sugeriam que o homem que fez o ataque em Bruxelas se tinha radicalizado e tencionava viajar para o estrangeiro para combater numa guerra santa. No entanto, as autoridades belgas não conseguiram apurar esse facto, pelo que nunca foi considerado perigoso.
A secretária de Estado do Asilo da Bélgica, Nicole de Moor, disse que o homem desapareceu depois de o pedido de asilo ter sido recusado, pelo que as autoridades não conseguiram localizá-lo para organizar a sua deportação.
Jesper Tengroth, porta-voz da Agência de Migração da Suécia, disse à rádio pública sueca que o atacante viveu na Suécia entre 2012 e 2014, tendo passado parte desse tempo na prisão, antes de ser enviado para outro país da UE.
Depois de ter sido elevado ao seu nível mais alto, 4, logo após o atentado, o alerta de terrorismo para Bruxelas foi reduzido para 3, em linha com o resto da Bélgica, indicando uma ameaça moderada.