Parlamento Europeu "investiga" suspeita de colaboração com propaganda russa

O Parlamento Europeu em Estrasburgo
O Parlamento Europeu em Estrasburgo Direitos de autor Jean-Francois Badias/Copyright 2022 The AP. All rights reserved
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De  Mared Gwyn Jones
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Artigo publicado originalmente em inglês

O Parlamento Europeu está a "investigar as alegações" de que alguns dos seus membros foram pagos por uma rede de propaganda russa descoberta no início da semana pelas autoridades checas, confirmaram os seus serviços de imprensa à Euronews.

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O primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, afirmou, na quinta-feira, que "a Rússia abordou legisladores da UE" e pagou-lhes para "promoverem a propaganda russa" na Europa, no âmbito de uma operação descoberta numa investigação dos serviºos secretos da Chéquia.

Os serviços do Parlamento Europeu não puderam confirmar quantos eurodeputados poderão estar sob escrutínio, mas disseram que estavam a trabalhar "em coordenação com os seus parceiros institucionais" em resposta às alegações explosivas.

Numa carta dirigida à Presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, a líder do grupo centrista Renovar a Europa, Valérie Hayer, descreve as alegações como um "ataque claro" ao Parlamento e ao seu "mandato democrático".

"Se os eurodeputados em funções ou os candidatos às próximas eleições europeias receberam dinheiro ou foram corrompidos pelo Governo russo ou pelos seus representantes, têm de ser expostos", afirmou Valérie Hayer.

O debate tem lugar a pouco mais de dois meses do escrutíneo para eleger 720 membros do Parlamento Europeu, e há sérios receios de que os representantes do Kremlin possam estar a utilizar a manipulação de informação para distorcer o voto democrático.

Alexander De Croo confirmou que os serviços secretos belgas tiveram conhecimento das alegações dos serviços secretos checos sobre os eurodeputados.

De acordo com a imprensa checa, que cita funcionários dos serviços secretos, as alegações envolvem políticos da Alemanha, França, Polónia, Bélgica, Países Baixos e Hungria.

O caso Viktor Medvedchuk

No centro da operação checa esteve a empresa de notícias "Voz da Europa", que foi sancionada pela Chéquia, bem como dois indivíduos, incluindo o político ucraniano Viktor Medvedchuk, pró-Kremlin.

O ministério dos Negócios Estrangeiros checo refere que este utilizou a "Voz da Europa" para difundir propaganda destinada a minar a "integridade territorial, a soberania e a independência" da Ucrânia.

O primeiro-ministro checo, Petr Fiala, afirmou que esse órgão de inromação tinha como objetivo desestabilizar toda a Europa e que outros países europeus tinham iniciado investigações na sequência dos esforços checos.

A Agência de Segurança Interna da Polónia disse, na quinta-feira, que também estava a realizar buscas na capital, Varsóvia, e na cidade de Tychy, como parte de uma investigação conjunta "coordenada" com outros países europeus.

Em declarações a partir de Nova Iorque, na quinta-feira à noite, a vice-presidente da Comissão Europeia, Věra Jourová, confirmou que a investigação polaca poderá em breve dar origem a mais acusações e acusou Putin de utilizar "meios de comunicação duvidosos" para exercer influência e "partidos nacionais" como seus porta-vozes.

O que faz a "Voz da Europa"

A "Voz da Europa" é uma empresa neerlandesa cotada na bolsa, com sede oficial numa pequena aldeia da província de Brabante do Norte (Países Baixos). Há cerca de duas semanas organizou um debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, durante uma sessão plenária, em que participaram eurodeputados do Vox (extrema-direita de Espanha) e do Fórum para a Democracia (de extrema-direita dos Países Baixos).

O sítio erb da empresa está fora de serviço desde quarta-feira à noite, segundo os arquivos do sítio. As contas nas redes sociais X, Facebook e YouTube estão inactivas desde 27 de março, mas a doTelegram continua ativa.

O seu conteúdo mostra, claramente, que a empresa tinha pleno acesso ao Parlamento e aos seus membros. Os seus vídeos nas redes sociais apresentam uma série de eurodeputados, predominantemente do grupo de extrema-direita Identidade e Democracia (ID) ou membros não inscritos.

Na carta enviada à presidemte do Parlamento, Roberta Metsola, Hayer pede que o acesso da "Voz da Europa" às instalações do Parlamento Europeu seja suspenso e que o bloco siga o exemplo da Chéquia e imponha sanções à empresa em toda a UE.

Os outros grupos parlamentares e a presidente do Parlamento Europeu ainda não comentaram as alegações.

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