Projeto europeu utiliza ferramentas digitais para promover e proteger o artesanato e os artesãos
Como é que as tecnologias digitais podem ajudar no estudo, proteção e promoção do artesanato antigo, muitas vezes milenar, da Europa ? Fomos descobrir a resposta nas cabanas de pastores nas montanhas de Creta, na Grécia.
Queijaria tradicional
Aos 73 anos, Alekos Ntagiadas ainda faz queijo da forma como aprendeu com o tio. Hoje cozinha num "mitato", um abrigo tradicional de pastores do século XIX. Utiliza leite de cabra para produzir duas variedades de queijo: o "mizithra" (μυζηθρα) e o "katsohiri" (κατσοχοίρι).
Conta que os seus pais e avós eram pastores e que cada família tinha os seus próprios animais, os abrigos para as ovelhas e fabricava os seus próprios produtos. Quase todos produziam leite. Alekos também tem cabras "para manter a tradição da família".
Cientistas informáticos que fazem parte de projeto de investigação Mingei acompanham o trabalho de Alekos Ntagiadas para localizar objetos utilizados no fabrico do queijo. Também estão interessados em compreender os aspetos menos conhecidos destas atividades ancestrais: os materiais utilizados, movimentos e destreza dos artesãos e os contextos geográficos, arquitetónicos e culturais do artesanato. Utilizam scanners para estudar os objetos visíveis do património cultural, recriam os gestos que são feitos durante o trabalho. E reconstroem semanticamente os contextos culturais e os processos históricos, nos quais os ofícios nasceram.
Ferramentas interativas
Para além do fabrico de queijo, os investigadores estão a criar uma base de dados sobre outros ofícios como trabalhos em lã e tinturas têxteis, sopragem de vidro, cerâmica tradicional ou tecelagem de seda. Ferramentas interativas de realidade aumentada e de realidade mista são utilizadas para relacionar as atividades tradicionais com os seus ambientes históricos e geográficos.
Nikolaos Partarakis explica o trabalho com os artesãos**: "**Tivemos de compreender como a nossa abordagem se aplicava às necessidades do ofício e, ao mesmo tempo, tivemos de criar as ferramentas técnicas necessárias para atingir os nossos objetivos".
Para manter as atividades tradicionais é preciso atrair o interesse do público de diferentes formas. Nesse sentido, foram desenvolvidas abordagens lúdicas para captar o público jovem habituado à tecnologia.
Os cientistas dizem que a sobrevivência das tradições depende da sua viabilidade económica - através do ecoturismo, por exemplo. E não têm dúvidas: as ferramentas digitais podem ser uma grande ajuda.