Michel Santos, euronews – Para analisar as eventuais implicações das legislativas em Portugal temos connosco José Manuel Fernandes, jornalista e comentador.
José Manuel Fernandes, bem-vindo à euronews… as sondagens indicam que pode haver uma coligação de governo entre PSD e CDS-PP.
Perante a austeridade, um eventual executivo multipartidário, sem maioria absoluta, terá condições para resistir até final da próxima legislatura?
José Manuel Fernandes – Acho que o Executivo que sair destas eleições será sempre um executivo maioritário. O Presidente da República disse que só dará o aval a um governo maioritário e as sondagens indicam que se estão a formar as condições para um governo com essas características, não com um só partido, mas com dois; concretamente o PSD e o CDS-PP.
euronews – Portugal vive um crise profunda. Porque não é possível fazer uma grande coligação, um bloco central, para resolver o país à imagem de outros países europeus?
JMF – Eu acho que a possibilidade de formar uma aliança que inclua também o PS está muito condicionada pela permanência ou não à frente do PS do atual primeiro-ministro, José Sócrates.
José Socrates é alguém que durante esta campanha, e também durante os últimos meses, e até anos, criou um conjunto de incompatibilidades.
Todos os líderes políticos disseram que não formariam coligação com José Sócrates. Não disseram que não chegariam a acordos com o PS, disseram apenas que não o fariam com o PS de Sócrates. Isso tem muito a ver com a forma como Sócrates fez política nos últimos anos, o modo como tratou a oposição.
José Socrates é alguém que durante esta campanha, e também durante os últimos meses, e até anos, criou um conjunto de incompatibilidades.
Todos os líderes políticos disseram que não formariam coligação com José Sócrates. Não disseram que não chegariam a acordos com o PS, disseram apenas que não o fariam com o PS de Sócrates. Isso tem muito a ver com a forma como Sócrates fez política nos últimos anos, o modo como tratou a oposição.
euronews – A Alemanha é considerada o motor da Europa, qual é a perceção dos portugueses em relação à União Europeia nesta altura?
JMF – Os portugueses continuam a encarar a União Europeia como uma espécie de Eldorado. Neste momento sentem-se um pouco traídos pela União Europeia por causa das condições do acordo, mas ao mesmo tempo, sabem que dependem da UE, porque é através da União Europeia e do FMI que se canaliza o dinheiro de que precisa Portugal.
Acho que o facto de Portugal ter vivido mal no euro não é algo que seja atribuído ao euro, em si. Regra geral, é atribuído aos erros dos portugueses. Os portugueses não souberam estar à altura das exigências de uma zona monetária como a do euro, uma zona monetária com o nível de exigência da Alemanha.
euronews – O programa da Troika (BCE, UE e FMI)vai ser eficaz para retirar Portugal do lodo económico em que está metido ou o próximo governo poder ter que fazer face a uma situação semelhante à da Grécia?
JMF – Acho que esse risco existe, e já o disse. Não acho que seja um assunto do que os políticos possam falar hoje. No entanto, de um ponto de vista razoável para o país a longo prazo, se nos conseguirmos portar bem, se demonstrarmos que somos capazes de cumprir com os compromissos, talvez possamos pedir contrapartidas.
A contrapartida poderá ser eventualmente, uma renegociação dos termos da dívida: prazos de pagamento, ou eventualmente deixar expirar uma parte dessa dívida, uma dívida que é de facto extraordinariamente pesada, como um saco de pedras que torna muito difícil o país continuar a mexer-se.
euronews – Se a abstenção for elevada, qual sera a mensagem a extrair?
JMF – Mensagem vai haver de certeza nestas eleições, porque a abstenção vai ser elevada. Há muita gente descontente com o conjunto de propostas políticas.