A bolha imobiliária e a crise financeira fizeram mais uma vítima na zona euro. O sistema bancário da Espanha está à beira do abismo, o que obrigou o governo a pedir ajuda, tal como fizeram Portugal, Grécia e Irlanda.
Este sábado, os ministros das Finanças do Eurogrupo anunciaram que vão recorrer de novo aos fundos de resgate, embora o FMI não participe deste empréstimo.
Se a decisão política não surpreendeu, o montante sim: 100 mil milhões de euros, o dobro do valor de que se falava em Madrid. Haverá monitorização da troika, mas não são conhecidas as medidas impostas.
A Comissão Europeia explicou a estratégia através do porta-voz para os Assuntos Económicos e Financeiros: “Claramente, o Eurogrupo quis deixar cobertas todas as eventualidades, incluindo os cenários mais adversos. E, além disso, quis que houvesse uma margem de segurança adicional que dissipasse todas as dúvidas sobre a robustez da assistência e a determinação em agir de modo a salvaguardar a estabilidade financeira”, disse Amadeu Altafaj Tardio.
O anúncio teve efeito positivo na abertura dos mercados, esta segunda-feira, mas tal pode ser “fogo de vista”, de acordo com analistas em Bruxelas. O facto de o contágio ter chegado à quarta maior economia da zona euro, faz temer que o remédio não esteja a surtir efeito.
“O fato de se ter decidido conceder um nível de ajuda financeira maior do que era antecipado, é revelador do receio de que a crise vai piorar. Além disso, a incerteza sobre o resultado das eleições gregas também aumenta a pressão”, referiu Janis Emmanouilidis, analista sénior do Centro de Política Europeia.
O empréstimo pode até nem ser suficiente, já que aumenta a dívida pública de um país em recessão e com taxa de desempego galopante.
“Basta olhar para a estrutura do sistema bancário espanhol: o país é cerca de dez vezes maior que a Irlanda e a Irlanda também recebeu quase 100 mil milhões. Portanto, é perfeitamente claro que esse valor não será suficiente para resolver o problema bancário”, afirmou Daniel Gros, analista do Centro de Estudos de Política Europeia.
Para analisar com mais detalhe este resgate a Espanha, Vicenç Batalla, da euronews, entrevistou Josep Maria Ureta, jornalista económico no jornal El Periódico de Catalunya, em Barcelona.
Vicenç Batalla, euronews: Esta ajuda de cem mil milhões de euros surgiu, precisamente, este fim de semana, e apresenta-se como uma intervenção limitada aos bancos. Quais serão as contrapartidas para o governo espanhol?
Josep Maria Ureta, El Periódico de Catalunya: O governo espanhol, pela boca do Sr. Rajoy, disse ontem que não havia contrapartidas, porque se trata de um empréstimo aos bancos espanhóis que estejam em má situação. E diz-se que representam apenas 30% do sistema financeiro. Mas todos percebem que é impossível que haja um empréstimo de cem mil milhões de euros dos outros parceiros da eurozona sem quaisquer condições. Claro que as haverá. E virão provavelmente de Bruxelas, através de “sugestões” sobre o orçamento público, a redução das despesas ou o aumento de impostos.
euronews: Como é que se explica que uma ajuda tão importante não vá, em princípio, afetar o défice espanhol ou os contribuintes espanhóis?
J. M. U.: Eu e a maioria da imprensa espanhola ficámos surpreendidos com o Sr. Rajoy quando, ontem de manhã, disse que isto não iria aumentar o défice! Mas se o organismo que vai receber o dinheiro é um organismo público espanhol, que se chama FROB, e se quem avaliza o crédito para os bancos espanhóis é o Estado, se não houver devolução integral do empréstimo é o Estado que deverá agir. E é óbvio que, pelo menos por causa dos juros, haverá mais défice.
euronews: Os parceiros europeus obrigaram a Espanha a tomar esta decisão antes das eleições gregas do próximo domingo. É para evitar o contágio de uma possível saída da Grécia do euro?
J. M. U.: A mensagem é clara: é a determinação do conjunto da eurozona. Estamos a falar de resgate. Estamos numa corrente, onde cada um tem algo a perder se um dos elos se solta ou cai.
euronews: Além desta recapitalisação europeia e da supervisão do Fundo Monetário Internacional, poderemos um dia ver em julgamento, ou mesmo condenados, os responsáveis – antigos e atuais – de entidades como Bankia?
J. M. U.: Uma boa parte dos protagonistas do fiasco bancário espanhol está nas caixas de aforro, em muitas das quais havia a presença de políticos dos dois partidos maioritários: o partido popular e o partido socialista. É verdade que no caso concreto da Bankia, o peso da responsabilidade política e, como pergunta, da responsabilidade penal recairia em membros do partido popular. Alguém acredita que um partido com maioria absoluta em Espanha vai apoiar este processo?!