Pertusot: "Alexis Tsipras pede, basicamente, para pagar juros da dívida"

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Menos de uma semana depois do expressivo Não no referendo, o primeiro-ministro Alexis Tsipras fez uma nova proposta aos credores da Grécia. No

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Menos de uma semana depois do expressivo Não no referendo, o primeiro-ministro Alexis Tsipras fez uma nova proposta aos credores da Grécia. No documento de 13 páginas intitulado “Acções prioritárias e compromissos”, Atenas aproveita vários pontos da proposta anterior e das medidas adicionais solicitadas pela Comissão Europeia.

Atenas pede um terceiro resgate resgate de 53,5 mil milhões de euros para o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) para conseguir pagar 46 mil milhões de euros ao BCE e ao FMI assim como 7, 5 mil milhões de juros que vencem até junho de 2018.

Em troca, o documento propõe uma reforma das pensões para economizar anualmente 1% do PIB a partir de 2016, penalizando a reforma antecipada e aumentar gradualmente a idade real de reforma para os 67 anos de idade ou 62 anos até 2022, com 40 anos de quotizações.

O subsídio para as reformas mais baixas (EKAS) vai ser suprimido no fim do ano 2020 e vai ser substituzido por outro tipo de ajuda.

As pensões complementares serão gradualmente eliminadas e retiradas e as quotizações dos reformados do sistema de saúde vão aumentar de 4 para 6%

Em relação ao IVA (VAT) Atenas aceita suprimir o desconto de 30% de que beneficiam as ilhas do mar Egeu, a partir de outubro 2015, mas apenas nas ilhas mais ricas e mais turísticas, poupando as mais remotas.

O IVA de 6% é mantido nos medicamentos, livros e teatro e fixado em 13% nos alimentos básicos, hotéis, energia e água, 23% para o resto, incluindo a restauração, que é atualmente de 13 %.

Atenas propõe também aumentos de impostos diretos sobre os rendimentos e sobre as empresas, de 26 para 28%, aumentando de 10% a 13% o imposto sobre os bens de luxo.

Quanto às privatizações propostas por Bruxelas, Tsipras aceita apenas os portos e aeroportos regionais.

Em Bruxelas, a nossa delegada persa, Fariba Mavaddat, tenta esclarecer melhor a situação:

Fariba Mavaddat, euronews – Estamos à conversa com Vivien Pertusot, do Instituto francês para as Relações Internacionais, a partir do nosso estúdio em Bruxelas. O primeiro-ministro grego ofereceu agora muito mais aos credores internacionais em comparação com o que se pedia antes do referendo. Porquê?

Vivien Pertusot, Instituto francês para as Relações Internacionais – Julgo que isso pode ter duas interpretações. Uma interpretação positiva seria a de que Alexis Tsipras se está a aperceber que a confiança no seio da União Europeia desapareceu por completo. Por isso, tenta dar um certo sinal de confiança,mostrando que vai mais além do que é pedido, que é sério e que implementará reformas. Uma interpretação mais cínica estaria relacionada com o facto de 61% do povo grego ter dito “Não” ao programa oferecido, Tsipras tentar ir mais além do proposto e mesmo assim a resposta ser “Não”, lembrando que enquanto um alívio da dívida não estiver em cima da mesa o primeiro-ministro não conseguirá vender coisa alguma ao povo grego.

Fariba Mavaddat, euronews – Há uma linha de pensamento entre os europeus, conduzida maioritariamente pela Alemanha, de que a Grécia deveria observar e cumprir todas as regras e regulamentações da zona euro. Outra linha de pensamento, guiada maioritariamente por França, indica que temos de ser flexíveis. De que forma é que isto afetará as negociações futuras?

Vivien Pertusot, Instituto francês para as Relações Internacionais – Já vimos como é que pode funcionar. As propostas que o Governo grego colocou em cima da mesa foram, aparentemente, muito negociadas com a Comissão Europeia e o Governo francês, por isso percebe-se como pode funcionar. O lado mais positivo tenta ajudar a Grécia a perceber como é que pode tornar a proposta aceitável para a linha mais belicista de pensamento da Europa e talvez seja a única forma das coisas funcionarem. Não deixa de ser uma novidade que um país admita quase publicamente que tem estado a ajudar outro país a encontrar uma saída da crise. Se algum país pode fazê-lo, França é esse país.

Fariba Mavaddat, euronews – A Grécia espera obter mais de 53 mil milhões de euros, que permitam gerir a dívida até 2018, mas o que acontece depois?

Vivien Pertusot, Instituto francês para as Relações Internacionais – É verdade que Alexis Tsipras pede, basicamente, para pagar juros da dívida. Para ele a dívida foi sempre insustentável, isso é uma coisa. A segunda coisa é que talvez seja bom haver este acordo e com alguma sorte chegaremos lá. A questão que se coloca é sobre o que acontecerá depois, porque enquanto não se tiver uma conversa séria sobre a Grécia, sobre como mudar a economia, como produzir e como atrair investidores estrangeiros, nunca sairemos do ponto base. Como podemos mudar a administração pública, como podemos assegurar que é mais eficaz, em termos de cobrança de impostos, de gestão do país? Tudo o que podemos fazer a nível europeu é a curto prazo.

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