O desafio da educação para os refugiados

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Ultrapassar os traumas, aprender uma nova língual, ter sucesso escolar, são apenas alguns dos desafios que enfrentam os refugiados. As Nações Unidas

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Ultrapassar os traumas, aprender uma nova língual, ter sucesso escolar, são apenas alguns dos desafios que enfrentam os refugiados.

As Nações Unidas falam de um número de refugiados nunca antes visto no mundo, com cerca de 60 milhões de pessoas obrigadas a deslocarem-se das respetivas regiões.
Muitas não têm acesso a comida, cuidados de saúde ou educação. Vários projetos por todo o mundo tentam ajudar pessoas refugiadas a adaptar-se às novas vidas e a ultrapassar as tragédias que viveram ou testemunharam.

Burkina Faso: Dançar para manter viva a memória de casa

Como é que a música e a dança podem ajudar a sarar feridas deixadas pelos conflitos? No Burkina Faso, num campo de refugiados, nasceu um projeto que tenta, através da dança, criar um espírito comunitário.

No campo de refugiados de Mentao há música no ar e ouvem-se tambores e guitarras. Crianças como Amar, que tem 13 anos, têm aulas de dança numa antiga sala de aulas. Foi aqui em Mentao que este jovem tuareg descobriu a paixão pela dança.

“De manhã, quando chegamos, fazemos aquecimento e depois vamos para a sala e dançamos e fazemos aquilo tudo que viu aqui, estes movimentos”, conta.

Os movimentos de que fala Amar são uma mistura de hip hop e acrobacias. A dança é uma das poucas atividades neste campo. Mentao abriu em 2012 para receber mais de 13 mil pessoas que fugiram do conflito no Mali. A maioria são tuaregues.

O coreógrafo africano, Salia Sanou e a ONG “Artistas Africanos para o Desenvolvimento” querem ajudar estes jovens através da arte e da cultura. É a segunda vez que Salia Sanou organiza estas aulas de dança aqui no Burkina Faso.

“Penso que é importante e necessário permitir a estes refugiados o acesso a este património cultural. É isso que vai fazer estas pessoas sentirem: “não estamos mortos, estamos de pé e mantemos a esperança e no dia que regressarmos a casa, seremos mais fortes”. Penso que a cultura pode permitir isso”.

Mais do que experiências artísticas como a dança ou a música, Salia Sanou quer criar um espírito de partilha o que não é fácil num campo de refugiados, onde a maior parte das pessoas, vindas de diferentes países, vivem separadas umas das outras. No princípio, as pessoas vinham por curiosidade, mas rapidamente os talentos revelaram-se.

A professora, Salamata Kobré, está orgulhosa:
“Há aqui verdadeiros profissionais, pessoas que têm futuro… que podem fazer disto uma profissão”.

Algumas das coreografias refletem as experiências dos refugiados, a tristeza e as saudades de casa, a dor e as dificuldades da guerra, mas também um enorme gosto pela vida, apesar de tudo.

Para Sidi Mohammed Ag Adani, que veio do Mali, é uma forma de expressão de sentimentos:

“Quando nós dançamos e sorrimos, lembramo-nos de muitas coisas. A nossa dança tem muitos significados”.

A última etapa deste workshop é um espetáculo ao ar livre no campo de Mentao, para mostar o trabalho e o esforço feito durante dois meses. Os dois melhores dançarinos ganham uma bolsa de estudo para continurem as aulas de dança em Ouagadougou – um bilhete para uma nova vida fora de campo de refugiados.

Gaza: Acesso ao ensino em território de guerra

As cicatrizes – físicas e psicológicas – deixadas pela guerra têm consequências horríveis nas vidas humanas. Em Gaza, onde as famílias vivem ainda rodeadas de escombros e destruição, os traumas têm um impacto importante no sucesso escolar. Mas há uma esperança para os que ficaram para trás.

Mais de 200 000 refugiados palestinianos estudam nas escolas das Nações Unidas em Gaza. Esta manhã, as raparigas aprendem o alfabeto e começam a escrever palavras. A professora encoraja as alunas a empenharem-se no estudo para restabelecerem a autoconfiança.

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“Mantenho uma grande proximidade com os alunos e passo tempo com eles. Mostro-lhes formas simples de aprenderem, simplifico as lições e dou-lhes muitos exercícios para se aperfeiçoarem. Também lhes digo para não perderem a esperança, porque estão a melhorar os conhecimentos e isso é muito importante”, diz a professora, Ayla Kan.

Esta é uma classe especial para crianças com muitas dificuldades na língua árabe e na matemática. Saja, de 11 anos, ficou bastante preocupada quando recebeu as primeiras notas negativas. Mas desde que começou nesta classe, conseguiu progredir muito.

“Antes, não sabia ler bem. Agora já sei. Este programa tem-me ajudado a aprender, é a minha oportunidade de passar para o sexto ano. Quero ser boa aluna e passar de classe”.

Também Tahani quer voltar à classe que frequentava:
“Eu quero passar para o quinto ano para poder encontrar-me e brincar outra vez com as amigas da minha classe. Quero passar nos exames”.

É para aqueles que ficaram para trás, nomeadamente na aprendizagem da língua e da matemática, que as Nações Unidas criaram em 2008, este programa especial de aulas durante o verão. Isto dá às crianças a possibilidade de recuperarem e poderem passar de ano escolar. As aulas duram quatro semanas. Este ano, 25 600 alunos não passaram nos exames de árabe ou matemática e muitos chumbaram em ambos.

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Rafat Al Habbash, responsável da ONU pelo departamento de Educação em Gaza explica as razões deste insucesso:
“Há muitas razões pelas quais estes alunos chumbaram nos exames. Passaram por momentos muito difíceis por causa da guerra e isto teve consequências no seu estado psicológico. Também pode ser por causa das dificuldades económicas e do desemprego. Todas estas razões estão na origem dos maus resultados escolares”.

Esta escola, por exemplo, está localizada nas proximidades de Shujayya, onde, um ano depois, ainda se vêm sinais da guerra. Saja vive aqui com a família. No princípio tinha medo de sair de casa e nem sequer queria ir à escola.

“No principio, nem sequer podia abrir um livro. Na escola os professores tentavam ajudar-nos distraindo-nos. Faziam desenhos, brincavam conosco, depois recomeçámos a estudar e a escrever outra vez”.

Depois de ter chumbado o ano, os pais incentivaram-na a participar no programa de verão e, desde aí, sente-se mais confiante. Após as quatro semanas, Saja vai outra vez apresentar-se ao exame. Esforça-se para conseguir passar de classe e pretende continuar os estudos.

Itália: Longe de casa mas com esperança

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Um novo lugar, uma nova cultura, uma nova comunidade. Mesmo depois de os refugiados se fixarem num lugar seguro, têm ainda pela frente o desafio da vida numa nova sociedade. Aprender uma nova língua pode ajudar a ultrapassar muitas barreiras.

Mariam tem seis anos e é libanesa. Vive em Ragusa, na Sicília, e frequenta a escola pública. Deixou o Libano há dois anos com a mãe e com a avó para fugir à guerra. As bombas intermináveis em Beirute são uma fonte de stress para os habitantes e especialmente para as crianças. As três encontraram asilo em Itália.

Foi a avó, Ferial Haroun, que tomou a decisão de partir:
”Fui obrigada a partir pela segurança da minha familia”.

Mariam já não tem pesadelos Conseguiu integrar-se rapidamente. Apenas alguns meses depois de chegar a Itália falava italiano quase fluentemente e comunicava com as outras crianças. A família aprecia a vida pacífica em Itália e diz que contou com a ajuda de muita gente.

“Deram-nos tudo o que precisávamos, mesmo as pessoas com menos posses nos ajudaram.

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O centro de refugiados da Sícilia faz tudo para ajudar e encaminhar quem aqui chega. Uma das possibilidades é o “Open House”, um centro de dia, gerido por Tina Luzzolini e o marido, Francesco e financiado pela fundação alemã, “Humedica”. Aqui, os refugiados têm assistência legal, psicológica, recebem roupas e podem frequentar aulas de italiano.

Tina Luzzolini define assim os serviços prestados pela “Open House”:
“Tentamos encontrar soluções para os problemas que têm, ajudá-los a tornarem-se independentes para conseguirem ajudar-se a si próprios”.

As classes de italiano da “Open House” estão sempre cheias. No final, todos os alunos recebem um diploma com o grau de aprendizagem da língua que conseguiram. Uma ferramenta que lhes permite procurar emprego. Os alunos sabem que a língua é muito importante para a integração.

Esther Rolland, confessa:
“Ainda é muito difícil para mim falar italiano, por isso tenho que aprender mais, mesmo para os meus filhos, preciso de ajudá-los nos trabalhos da escola”.

Francis Csayande reconhece:
“Saber italiano ajuda muito para contactar com os serviços públicos e poder preencher formulários”.

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Enquanto estes refugiados esperam um lugar e tentam integrar a sociedade italiana, muitos outros afluem frequentemente às costas da Sícilia, fugidos da guerra e da pobreza.

Se o Mediterrâneo foi, até há pouco, a porta de entrada para muitas centenas todos os anos, agora, para muitos milhares, todos os caminhos são bons para chegar à Europa. Mas, a União Europeia ainda não foi capaz de encontrar uma solução comum para gerir este fluxo.

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