Barry Houlihan: "Federações Internacionais são terreno fértil para a corrupção"

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De  Bruno Sousa
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O laboratório das autoridades anti-dopagem da Rússia, em Moscovo, foi encerrado esta terça-feira. Os técnicos do laboratório em questão são acusados

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O laboratório das autoridades anti-dopagem da Rússia, em Moscovo, foi encerrado esta terça-feira. Os técnicos do laboratório em questão são acusados de manipular os testes efetuados a atletas russos, com a cumplicidade do Kremlin e do FSB, os serviços secretos.

Em consequência, a Rússia arrisca-se a ver fechar as portas das principais competições desportivas internacionais, nomeadamente os próximos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro.

A agência mundial anti-doping deu até ao fim da semana para que Moscovo responda às acusações.

Mas as efeitos negativos já começaram a se fazer sentir: o Comité Olímpico Internacional iniciou sanções disciplinares contra atletas russos acusados de dopagem, nomeadamente durante os jogos de Sochi.

Para nos esclarecer sobre escândalo que promete mudar a face do atletismo mundial, a euronews esteve à conversa com Barry Houlihan, professor de Política Desportiva na Universidade de Loughborough.

euronews: A magnitude das últimas alegações sugere que as altas instâncias do atletismo estavam a par da situação…

Barry Houlihan: Penso que tem razão, o problema passa por reunir provas que confirmem as suspeitas. Estou seguro que as suspeitas acerca da Federação Russa já existiam há algum tempo. Na página internet da Federação Internacional, os russos estavam sempre em primeiro ou segundo na lista de atletas suspensos, o que só por si chama atenção para o problema. Sempre existiu esta consciência, o desafio passava por reunir provas que confirmassem as suspeitas, um desafio ainda mais complicado num país onde é necessário um visto para entrar. É muito difícil realizar um teste fora de competição sem que os atletas sejam avisados antecipadamente.

euronews: A polémica rebentou mas os jogos políticos ainda estão no início. O porta-voz do Kremlin refere que enquanto não existirem provas concretas, as acusações são infundadas e no meio disto tudo quem sofre são os atletas, os que são acusados de doping e sobretudo aqueles que estão limpos…

BA: Penso que o problema relativo aos atletas russos prende-se com a sua liberdade de escolha, se aceitaram participar neste esquema corrupto. A história diz-nos que na República Democrática da Alemanha os atletas praticamente não tinham escolha. Eram colocados num programa de treino que previa o uso de doping antes das competições e era muito difícil para um atleta recusar.

euronews: Deixando a política de lado, este caso sugere que o desporto é incapaz de se policiar a si próprio. A reforma tem de surgir a partir de dentro?

BA: Tem toda a razão. As Federações Internacionais são organizações peculiares. É complicado encontrar qualquer outro modelo de negócio, qualquer outra atividade que permita a existência de um monopólio global. E Federações Internacionais são isto mesmo. Se quiser jogar futebol ou praticar atletismo é obrigado a fazê-lo através da respetiva federação. E a quem é que eles respondem? Em teoria aos estados-membros mas isto não passa de ficção. Creio que se tratam de organizações que não respondem a ninguém e são terreno fértil para a corrupção.

euronews: Mesmo os atletas têm bastante trabalho pela frente, pelo menos para reconquistar a nossa confiança…

BA: Se procurarmos soluções para este problema, podem surgir de forma indireta pelo abandono dos patrocinadores. O que é atrativo no desporto, particularmente no atletismo, é a sua imagem de emoção, juventude, justiça e competição de qualidade. Qualquer desporto que queira proteger a sua marca e manter os patrocinadores e as receitas televisivas é obrigado a investir na luta antidoping. Proteger a integridade do desporto é o melhor para o negócio.

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