Julian King: O terrorismo, os ciberataques e o crime organizado na Europa

Julian King: O terrorismo, os ciberataques e o crime organizado na Europa
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O Global Conversation falou com o comissário europeu para a Segurança sobre o extremismo, ciberataques e as consequências do Brexit nesta matéria.

Assistimos à violência indiscriminada contra os mais vulneráveis – o ataque de Manchester foi particularmente tenebroso porque visou crianças e adolescentes. Mais uma vez se evidencia oimenso desafio que representa a segurançanuma Europa que tenta impedir o avanço da radicalização antes que haja mortes em larga escala.

Falámos comJulian King, o comissário europeu para a Segurança, no âmbito da Cimeira Europeia de Negócios em Bruxelas, antes do atentado em Manchester. Abordámos o terrorismo jihadista, o fenómeno do extremismo e as consequências do Brexit em termos de segurança.

A nossa primeira pergunta foi: quais são as medidas realistas que a Europa pode tomar para enfrentar a multifacetada ameaça jihadista?

Julian King: É muito complicado. Não vou estar com rodeios. Ao longo do último ano, temos feito muita coisa para tentar limitar a margem de manobra de eventuais terroristas e reforçar a nossa capacidade de resiliência, de forma a tornarmo-nos mais difíceis de visar. Esse é um trabalho que continua, mas existe sempre um certo grau de risco, temos de ser honestos em relação a isso. Não é possível chegarmos ao risco zero. Uma das vertentes sobre as quais temos de nos debruçar é o fenómeno da radicalização, uma vez que falamos de pessoas que se radicalizam por elas mesmas. Temos de tentar alcançar as pessoas que possam cair na espiral de violência e travar o seu percurso.

#Manchester bomber had flown from #Düsseldorf four days before the attack, according to German media focusonline</a> <a href="https://t.co/L3STEnFwYs">https://t.co/L3STEnFwYs</a> <a href="https://t.co/llhGix6ljn">pic.twitter.com/llhGix6ljn</a></p>&mdash; dwnews (dwnews) 25 de maio de 2017

Isabelle Kumar, euronews: Muita dessa radicalização passa pelas redes sociais. Os responsáveis por estas redes estão a colaborar convosco?

JK: Precisamos de mais. Mas, sim, estamos a conseguir ter uma cooperação positiva com mais de 50 plataformas que trabalham connosco. No entanto, há um outro elemento que não podemos deixar de lado: o trabalho no seio da comunidade. Infelizmente, há pessoas que tentam trazer outras para o caminho da violência. Nesse contexto, temos de confiar no trabalho de certos atores da sociedade civil que conhecem profundamente as suas comunidades e com os quais devemos cooperar para chegar aos casos mais vulneráveis, sejam jovens que entram e saem do sistema escolar, ou pessoas que já cometam pequenos delitos, ou pessoas que tenham saído recentemente da prisão… Temos de juntar esses atores de toda a União Europeia, partilhar as boas práticas e criar uma rede de apoio, porque esta pode ser uma luta muito solitária em certas comunidades.

euronews: Quais têm sido os resultados?

JK: É difícil medir resultados. Junto dos fornecedores de serviços de internet, por exemplo, sempre que se assinala um problema, conseguimos deitar abaixo a página em questão oito ou nove vezes em cada dez. Tenho orgulho nisso. Estamos a falar de dezenas de milhares de casos. O problema é que existem centenas ou milhares doutros casos que têm de ser removidos. É um desafio de grande dimensão. É preciso dialogar com aqueles que estão na linha da frente das comunidades. Basta falar com alguns presidentes de Câmara, com alguns responsáveis por programas implementados junto da sociedade civil. Eles dizem-nos que basta salvar duas ou três pessoas do caminho da violência para que tudo valha a pena.

Onde fica o espaço Schengen?

euronews: É preciso controlar as fronteiras? Temos de acabar com o espaço Schengen?

JK: Esse não é o objetivo da Comissão. O objetivo é ter um espaço Schengen a funcionar em pleno. Mas para que isso aconteça é necessário haver controlos nas fronteiras externas. Recentemente, foram dados passos muito importantes nesse sentido.

euronews: Mas não parece inacreditável estarmos ainda a falar desta questão nos dias que correm? Há vários anos que se debatem as fronteiras para evitar a circulação de criminosos sem que as autoridades possam intervir…

JK: É um trabalho que pode ser árduo mas temos feito progressos significativos. Ainda temos problemas pontuais no que diz respeito à partilha de informações. Normalmente tornam-se mais flagrantes no contexto de acontecimentos violentos. Mas, só no ano passado, o Sistema de Informações de Schengen, onde as autoridades de toda a União Europeia partilham dados, foi utilizado 4 mil milhões de vezes. A quantidade de informação compartida entre os Estados-membros subiu 40% no espaço de um ano. Ou seja, o empenho dos Estados-membros em cooperar, incluindo a partilha de informações, é significativo e está a aumentar.

“Metade das empresas da UE já sofreu ciberataques”

euronews: Os ciberataques a que assistimos recentemente abalaram o mundo e mostraram até que ponto somos vulneráveis. Não será uma questão de tempo até que esta se torne na principal arma dos terroristas?

JK: Espero que tudo o que aconteceu tenha lançado o alarme. Mas a verdade é que já devíamos estar alerta para este tipo de cenários. A cibercriminalidade é um negócio que está a progredir. Mais de metade das empresas da União Europeia dizem já ter sofrido algum tipo de ciberataque. Em França, o número situa-se nos 80%. Há já algum tempo que as empresas têm a noção que é preciso enfrentar o cibercrime.

Cybercriminalité : l'insuffisante prise de conscience des pouvoirs publics https://t.co/OR84TZZn9z # via FigaroVox</a></p>&mdash; Julian King (JKingEU) 20 de maio de 2017

euronews: Mas os países continuam reticentes quando toca a partilhar informações de segurança. São dados que preferem guardar para eles mesmos…

JK: Isso pode ser verdade em certas áreas, embora haja progressos. Mas no que respeita ao mundo virtual, já existe na União Europeia uma rede de cooperação bastante desenvolvida, centrada na Europol, para combater a cibercriminalidade. É um trabalho reconhecido internacionalmente. Mas apesar de tudo, é uma cooperação que também tem de ser reforçada.

euronews: O Reino Unido é um dos principais contribuidores para a partilha de informações da Europol. Mas é provável que, com o Brexit, essas informações tenham de ser retiradas…

JK: No entanto, em termos de segurança, julgo que toda a gente tem a noção – tanto do lado da União Europeia, como da primeira-ministra Theresa May, do lado britânico – que o melhor é enfrentarmos as ameaças todos juntos, seja no terrorismo, nos ciberataques ou no crime organizado.

euronews: Mas tem sido um argumento nas negociações…

JK: Não, não tem sido um argumento. Se os britânicos disserem que pretendem continuar a cooperar na implementação de leis e no combate ao terrorismo, a União Europeia vai responder adequadamente.

euronews: Que impacto é que pode ter sobre a segurança se não se chegar a acordo em relação ao Brexit?

JK: Creio que é amplamente reconhecido que, em matéria de segurança, o melhor é encontrar uma forma de continuarmos a trabalhar em conjunto.

euronews: E isso passa por aceitar que a ameaça virtual, como o terrorismo, faz agora parte das nossas vidas?

JK: É um fator com que temos de contar. Não tenho a certeza que, algum dia, iremos conseguir eliminar completamente a cibercriminalidade, porque é parte integrante da sociedade moderna, numa altura em que há tantas interações com as tecnologias, com todos os benefícios que a interconetividade nos traz. As vantagens económicas e sociais são enormes. Mas temos de enfrentar o facto de existir um grau de risco, porque há pessoas que podem virar as tecnologias contra nós.

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