Massacre oculto na Amazónia

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De  Euronews
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Na Amazónia, os relatos de assassínios de nativos indígenas continuam a ouvir-se. A inacessibilidade do local impede a celeridade das investigações

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Amazónia: aqui há mais povos indígenas isolados do que em qualquer outro lugar do planeta.

Em Agosto, mineiros ilegais a operar na fronteira isolada amazónica, terão cruzado o caminho de nativos sem contacto com a civilização.

O resultado desse encontro, relatado sob o efeito de álcool pelos mineiros num bar, julga-se que no município de Atalaia do Norte, deu origem a uma queixa ao Ministério Público Federal, apresentada pela FUNAI, depois de alguém se ter indignado com o que ouviu e ter recolhido registos audio e fotográficos, em segredo de justiça enquanto decorrer o inquérito.

Segundo a FUNAI, Fundação Nacional do Índio, há 107 registos da presença de índios isolados nessa região do Brasil.

Dos 103 grupos isolados de indígenas registados no Brasil, na chamada fronteira isolada amazónica, aproximadamente 20 vivem no Vale do Javari, um dos maiores territórios indígenas do país, com mais de 85 mil quilómetros quadrados.

Massacre indígena: https://t.co/a9kYEPo7Xl Garimpeiros matam índios isolados no Vale do Javari, na Amazônia. MPF confirma assassinatos pic.twitter.com/DSkNc3lGWT

— Conexão Planeta (@conexaoplaneta) 16 septembre 2017

Carla de Lello Lorenzi, pesquisadora da Survival International, deu uma entrevista à euronews sobre mais este caso:

“Com base em duas evidências colectadas através de gravação de audio e de fotos de garimpeiros que estariam se vangloriando a respeito de terem entrado em contacto com indígenas isolados no rio Jandiatuba, nessa região, e que, encontrando com esses indígenas isolados, eles teriam matado cerca de dez membros, incluindo mulheres e crianças e teriam mutilado os corpos e os despejado no rio para não flutuarem e não serem encontrados.”

Em fevereiro deste ano, o mesmo Procurador que agora coordena esta investigação, Pablo Luz de Bertrand, recebeu outra queixa, de um outro relato de assassínio de indígenas. O inquérito ainda está a decorrer.

A zona, de difícil acesso – são precisas cerca de 12 horas de barco na época seca para aceder ao local onde os crimes terão tido lugar – impede o avanço das investigações e a recolha de provas.

Um decreto-lei do presidente brasileiro, Michel Temer, que abriria uma larga reserva na Amazónia à exploração mineira gerou indignação internacional. O Tribunal Federal conseguiu suspender a aplicação da legislação.

Carla Lorenzi fala das profundas dinâmicas políticas e financeiras a que a Amazónia está sujeita: “São terras muito ricas em biodiversidade, muito ricas em minérios, então isso faz com que a não protecção dessas terras dos indígenas seja muito lucrativa. Não só para entidades privadas como também muitas vezes parte do Governo tem interesses privados nessa região. (…) A bancada ruralista, que tem um papel muito forte no Congresso, e Temer é muito próximo a ela, tem realmente interesses muito anti-indígenas de explorar essas terras, explorar esses recursos.

Lorenzi acrescenta que “Michel Temer é um presidente profundamente anti-indígena, diversas coisas aconteceram que ameaçam os indígenas nos últimos meses, se não no último ano, não só projectos de lei como também autorizações de exploração de minério na região da Renca mais recentemente, como também, mais factualmente, cortes orçamentais na FUNAI”.

O território do Vale do Javari, no oeste do Amazonas, é do tamanho de Portugal. Tem a maior concentração de povos… https://t.co/QyK6stuKZI

— REPAM Brasil (@RepamBr) 16 septembre 2017

Sob a presidência de Michel Temer, os fundos para a FUNAI sofreram cortes. Em 2017, o orçamento da FUNAI correspondia a pouco mais de 25% do orçamento de 2014: de mais de dois milhões de euros, passou a ter pouco mais de 500 mil euros disponíveis.

Em Abril, a Fundação viu-se forçada a encerrar 5 dos 19 postos de monitorização e proteção aos índios que mantém. Três deles situavam-se na região do Vale do Javari, onde terão sido cometidos estes crimes, ainda por provar. Segundo Carla Lorenzi, a probabilidade de que outros crimes similares sejam cometidos sem que se venha a saber, é alta, tanto mais que os indígenas, conhecidos na região como “flecheiros”, dado o uso de flechas artesanais, são sempre confrontados, no contacto com a civilização, com armas de fogo e lâminas de facas.

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