Andrew MacLeod: ´"É preciso responsabilizar as instituições humanitárias"

Andrew MacLeod: ´"É preciso responsabilizar as instituições humanitárias"
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Antigo responsável na ONU diz à euronews que "há três décadas que são conhecidos problemas de abusos sexuais, exploração e violação de menores"

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Confederação de organizações que lutam contra a pobreza e a injustiça a nível mundial, a Oxfam tem estado agora debaixo de fogo.

A ONG é acusada de encobrir escândalos sexuais cometidos por alguns dos respetivos funcionários em missões no Haiti, no Chade, no Sudão do sul e até mesmo no Reino Unido.

Uma das acusações remonta a 2010: funcionários da Oxfam terão recorrido a serviços de prostituição no Haiti, numa altura em que o país tentava recuperar de um devastador terramoto.

Após esta denúncia, outros casos surgiram. Uma investigação identificou 120 pessoas em três países diferentes que terão sido alvo de agressões sexuais cometidas por colaboradores da Oxfam.

O escândalo sexual provocou na ONG também problemas financeiros. O governo britânico já ameaçou com o corte no financiamento caso a Oxfam não colabore na investigação em curso. Para aprofundar o problema dos abusos cometidos no mundo da ajuda humanitária internacional, entrevistámos um antigo chefe do Centro de Coordenação de Emergências das Nações Unidas, Andrew MacLeod.

Tesa Arcilla, Euronews: Andrew, fez algumas acusações graves acerca do comportamento dos trabalhadores da ONU em zonas de crise ou de conflitos. Pode dizer-nos quais?

Andrew MacLeod: Bem, não fui apenas eu. Há mais de três décadas que são conhecidos problemas de abusos sexuais, exploração e violação de menores. E não só em zonas de conflito. Também nas regiões atingidas por desastres naturais. Kofi Annan admitiu que ter falhado no combate à pedofilia é um dos maiores remorsos. Ban Ki Moon disse o mesmo. Entre os dois, há duas décadas de liderança no mundo da ajuda internacional em que foi reconhecido o problema, mas em que se falhou na ação sobre ele.

O que também surpreende é o facto de algumas pessoas, familiares com o mundo das ONG, falarem disto como um segredo agora revelado. Como foi possível manter isto escondido tanto tempo?

Existe a ideia de que isto é normal em contexto de guerra. De facto, é muito difícil falar de pedofilia e se consideramos que isto só acontece lá longe, é fácil deixar estes problemas fora das agendas. Como a agência britânica dos crimes nacionais tem vindo a alertar desde 1999: à medida que se derrubam as redes de pedofilia no mundo desenvolvido, os pedófilos mudam-se para o mundo em desenvolvimento onde têm mais acesso às crianças. É repugnante, mas lógico. São palavras das autoridades, não minhas: a metodologia escolhida pelos pedófilos para terem acesso a crianças é juntarem-se a instituições de ajuda a crianças. Um assistente humanitário é pago pelos nossos impostos e pelas nossas doações. Não só estas pessoas estão a cometer um crime horrível, nós estamos a pagar-lhes para o fazerem. É preciso começarmos a responsabilizar as instituições de ajuda humanitária.

O que espera que a União Europeia faça dado o problema atual?

Espero que Bruxelas faça o mesmo que eu estou a pedir ao governo britânico: precisamos de começar a focar-nos em processar as maçãs podres para que possamos enviar a mensagem aos pedófilos predadores que o setor da ajuda humanitária já não é seguro. Por isso, o que proponho é que estas instituições de caridade tenham um novo protocolo com cada governo para que quando surja uma queixa de abusos sexuais contra qualquer funcionário, seja reportada de imediato ao país de jurisdição, que é o país de origem da pessoa acusada pelo crime e o país onde terá sido cometido o crime.

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