Futuro da aliança entre Renault e Nissan está em risco
"Interesseiro" e "traidor", Carlos Ghosn caiu em desgraça e a comunicação social japonesa não tem sido nada meiga com o patrão da Renault-Nissan, acusado de declarar apenas metade dos rendimentos no país entre 2011 e 2015 e de usar bens da empresa para usufruto pessoal.
A suspeita nasceu após um inquérito interno da construtora automóvel nipónica e o caso encontra-se agora nas mãos do Ministério Público japonês. O empresário franco-brasileiro, verdadeira celebridade no país, encontra-se detido e as autoridades nipónicas têm até vinte dias para formalizar a acusação.
O escândalo rebentou numa altura em que se falava numa possível emancipação da Nissan e não deixou de fazer eco em França. Fabien Gâche, delegado sindical da CGT Renault, admite estar surpreendido com a notícia e estranha que alguém que ganha qualquer coisa como 15 milhões de euros possa achar que isso não é suficiente.
Para o ministro das Finanças francês, Bruno le Maire, os problemas de Ghosn com o fisco japonês não refletem a sua situação fiscal em França:
"Não posso adiantar elementos protegidos pelo sigilo fiscal. Posso apenas confirmar que não existe nada em particular a apontar na situação fiscal do senhor Carlos Ghosn em França."
O caso deverá arrastar-se nos próximos tempos, mas para os construtores automóveis, não há tempo a perder. No dia seguinte à detenção de Carlos Ghosn, o grupo Renault-Nissan-Mitsubishi está sob pressão para encontrar um sucessor.
O Conselho de Administração da Renault reuniu nos arredores de Paris para tentar encontrar alguém capaz de gerir esta complexa aliança industrial mas a tarefa não será fácil. Franceses e japoneses têm por vezes interesses divergente e é preciso ter em conta que o governo francês também quer ter uma palavra a dizer.
Considerado como o salvador da Renault, Carlos Ghosn arrisca agora passar os próximos dez anos numa prisão japonesa.