Citação nazi provoca demissão no Governo de Jair Bolsonaro

Roberto Alvim durou pouco mais de dois meses como secretário da Cultura do Brasil
Roberto Alvim durou pouco mais de dois meses como secretário da Cultura do Brasil Direitos de autor AP/ Eraldo Peres
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De  Francisco Marques com AP, AFP
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Roberto Alvim citou Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Adolf Hitler, e tornou "insustentável" continuar como secretário da Cultura do Brasil

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Roberto Alvim foi demitido esta sexta-feira pelo Presidente Jair Bolsonaro do cargo de secretário da Cultura do Brasil. O responsável durou pouco mais de dois meses no cargo, tendo tornado "insustentável" continuar após citar ministro da propaganda nazi em discurso público.

Nomeado em novembro, Alvim disse ter colocado o lugar à disposição do Presidente após as repercussões do discurso publicado quinta-feira nas redes sociais, que tinha por objetivo apresentar o novo Prémio Nacional das Artes.

Antes de Alvim referir a saída já o jornal Folha de São Paulo tinha avançado que o Planalto, a casa da Presidência da República, havia comunicado aos líderes do Congresso brasileiro que o secretário da Cultura seria demitido.

Jair Bolsonaro viria a confirmar o "desligamento de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura do Governo" pelas redes sociais.

"Um pronunciamento infeliz, ainda que se tenha desculpado, tornou insustentável a sua permanência", justificou o Presidente do Brasil sobre Alvim.

Bolsonaro aproveitou para reiterar "o repúdio às ideologias totalitárias e genocidas, bem como qualquer tipo de ilação às mesmas", manifestando também "total e irrestrito apoio à comunidade judaica". "Da qual somos amigos e compartilhamos valores em comum", concluiu.

As palavras da polémica

O discurso da polémica foi publicado quinta-feira nas redes sociais pelo então ainda secretário da Cultura. Pelo meio, surgiu uma frase quase totalmente decalcada de um discurso de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda nazi.

"A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada", afirmou Alvim.

Caros: ontem lançamos o maior projeto cultural do governo federal. Mas no meu pronunciamento, havia uma frase parecida...

Publiée par Roberto Alvim sur Vendredi 17 janvier 2020

"O discurso foi escrito a partir de várias ideias ligadas à arte nacionalista, que me foram trazidas por assessores. Se eu soubesse da origem da frase, jamais a teria dito", escreveu esta sexta-feira, também pelas redes sociais, Roberto Alvim, acrescentando ter colocado "imediatamente" o cargo "à disposição do Presidente Jair Bolsonaro, com o objetivo de protegê-lo.

O ex-secretário da Cultura também pediu "perdão à comunidade judaica".

A passagem de Roberto Alvim pelo Governo não foi tranquila. Logo após a nomeação em novembro, a Secretaria Especial de Cultura foi transferida do Ministério da Cidadania, liderado por Osmar Terra, para o do Turismo devido ao atrito entre o ministro da Cidadania e o novo secretário da Cultura.

Recuando a julho do ano passado, quando estava ainda prestes a assumir a direção do Centro de Artes Cénicas da Fundação Nacional de Arte, Alvim antecipava a separação que dizia defender entre o poder político e a arte.

"Alguém em sã consciência acha que eu estou preconizando colocar uma foto de Jair Bolsonaro em cena? Alguém acha que eu vou fazer justamente da arte um veículo de propaganda ideológica de direita tenha visto que eu abomino isso na esquerda? Jamais eu farei", dizia Alvim a 18 de julho.

Na quinta-feira, gravou o discurso de apresentação do novo Prémio Nacional das Arte tendo na parede de fundo, em cima, uma fotografia do Presidente Jair Bolsonaro.

O polémico discurso de Roberto Alvim tinha por objetivo apresentar o novo Prémio Nacional das Artes, de 20 milhões de reais (4,2 milhões de euros), para apoiar novos projetos, num país onde a censura artística tem estado na ordem do dia.

Editor de vídeo • Francisco Marques

Outras fontes • Folha de São Paulo

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