Angola e Moçambique em risco de fome "de proporções bíblicas", avisa ONU

Tropas sul-africanas patrulham bairro de lata nos arredores de Joanesburgo
Tropas sul-africanas patrulham bairro de lata nos arredores de Joanesburgo Direitos de autor AP Photo/Jerome Delay
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De  Francisco Marques
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Relatório do Programa Alimentar Mundial da ONU estima um agravamento de quase 100% para 265 milhões de pessoas em risco este ano devido à Covid-19

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O mundo arrisca derrapar este ano para uma tragédia de fome "de proporções bíblicas" devido à pandemia de Covid-19. O alerta é das Nações Unidas (ONU) e baseia-se no novo Relatório Global de Crises Alimentares.

Se nada for feito, o número de pessoas em risco de insegurança alimentar aguda no mundo pode mesmo quase duplicar este ano e chegar aos 265 milhões de vítimas, face aos 135 milhões de 2019.

O estudo destaca uma lista de 35 países numa situação mais perigosa, onde inclui os casos de Angola e Moçambique, já nas fases mais graves da escala de cinco: mínima, stresse, crise, emergência e, a pior de todas, fome.

"A situação mais preocupante é Moçambique. Com uma população de 27,9 milhões, 1,7 milhões de pessoas estavam nas últimas três fases de insegurança alimentar; cerca de 1,4 milhões, em situação de crise; e 265 mil, em emergência", lê-se no relatório publicado pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU.

No caso moçambicano, detalha-se ainda que "mais de 67 mil crianças com menos de cinco anos sofriam de desnutrição grave e 42,6% tinha problemas de crescimento", num país onde dois ciclones , o "Idai" e o "Kenneth", destruíram no ano passado diversas plantações e contribuíram para o aumento do preço dos alimentos, agravando uma crise alimentar já em curso.

Em Angola, "a insegurança alimentar aumentou devido à seca nas províncias do sul e o afluxo de refugiados da República Democrática do Congo".

"No país de 31,8 milhões (de habitantes), mais de 562 mil (pessoas) foram afetadas. Cerca de 272 mil viviam em situação de crise e 290 mil em emergência. Mais de 8% das crianças com menos de cinco anos sofriam de desnutrição grave e perto de 30% tinha problemas de crescimento", destaca o relatório sobre Angola, apontando que "a melhoria das condições de seca" deveria "ajudar as pastagens e aumentar as perspetivas de produção agrícolas" angolanas.

Venezuela preocupa na América do Sul

Na América do Sul, a Venezuela ressalta como o caso mais grave, representando 9,3 milhões das pessoas já em fase de crise ou pior, o que representa metade das pessoas nessas fases em toda a América latina e Caraíbas, regiões também muito atingidas pelo impacto das alterações climáticas, respetivamente seca e furacões.

Mas agora com a pandemia, a situação pode alterar-se para muito pior.

O diretor-executivo do PAM prevê "que os confinamentos e a recessão económica" derivados da pandemia "provoquem perda de rendimento ente os trabalhadores mais pobres", além de cortar as correntes de abastecimento entre os principais países produtores, como a França ou a China, e os mais necessitados.

"As exportações também vão cair muito e isto vai prejudicar sobretudo países como o Haiti, o Nepal ou a Somália. A perda de turistas irá afetar países como a Etiópia, onde o turismo representa quase cinquenta por cento das exportações", pormenoriza David Beasley.

A maior parte das vítimas colaterais desta pandemia está em países com conflitos internos, graves problemas económicos ou que são afetados pelas alterações climáticas.

Mesmo antes da pandemia, partes da África Oriental, onde se inclui Moçambique, e da Ásia Meridional, como a Índia, o Paquistão ou o Nepal, já sofriam de seca e, mais recentemente, também com pior praga de gafanhotos em décadas.

O Programa Alimentar Mundial pede sensatez internacional. As zonas em conflito devem permitir acesso humanitário e corredores de abastecimento para ajudar as pessoas em risco de fome.

Principais exportadores alimentares do mundo

(fonte: Courrier International/Intracen)

Outras fontes • ONU

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