Valdimir Putin: A Rússia estava face a uma "ameaça inaceitável"

Desfile militar em Moscovo
Desfile militar em Moscovo Direitos de autor Dmitri Lovetsky/Copyright 2022 The Associated Press. All rights reserved
Direitos de autor Dmitri Lovetsky/Copyright 2022 The Associated Press. All rights reserved
De  Maria BarradasAP, AFP
Partilhe esta notíciaComentários
Partilhe esta notíciaClose Button
Copiar/colar o link embed do vídeo:Copy to clipboardCopied

No discurso do Dia da Vitória, em Moscovo, Vladimir Putin justifica a invasão da Ucrânia, afirmando que a Rússia estava face a uma "ameaça inaceitável"

PUBLICIDADE

No discurso do Dia da Vitória, na Praça Vermelha, Vladimir Putin justificou a intervenção militar na Ucrânia, afirmando que a Rússia estava face a uma "ameaça inaceitável**"**.

E, recorrendo à memória das batalhas históricas do país disse: A defesa da Pátria Mãe, quando o seu destino estava a ser decidido, sempre foi sagrada. Com tais sentimentos de patriotismo genuíno, as milícias de Minin e Pozharsky ergueram-se pela Pátria, atacaram o campo de Borodino, combateram o inimigo perto de Moscovo e Leninegrado, Kiev e Minsk, Estalinegrado e Kursk, Sebastopol e Kharkov (Kharkiv). Por isso, hoje em dia, estão a lutar pelo nosso povo no Donbass. Pela segurança da nossa pátria - Rússia.

De uma forma mais direta, contextualizou o que o levou a decidir invadir a Ucrânia: "Tudo indicava que um confronto com neonazis, seguidores de Bandera, em quem os Estados Unidos e os seus parceiros mais jovens apostaram, seria inevitável. A Rússia deu um repúdio preventivo à agressão. Foi uma decisão forçada, oportuna e a única decisão correta. A decisão de um país soberano, forte e independente".

Disse ainda que "as tropas russas e as milícias de Donetsk e Luhansk lutam pela sua pátria, pelo seu futuro, para que ninguém esqueça as lições da Segunda Guerra Mundial para que não haja espaço para os nazis".

Putin a repetir os argumentos para a invasão da Ucrânia, num discurso que não acompanhou as expectativas criadas por analistas do mundo inteiro, que esperavam uma declaração marcante sobre a guerra.

O desfile do Dia da Vitória é sempre uma montra do poderio militar russo, mas, este ano, segundo diversas fontes, por causa do esforço de guerra, houve menos 35% de equipamento militar e tropas.

O desfile terá contado com 11 mil soldados 131 máquinas e equipamentos militares e 77 aviões.

Ao contrário dos aliados europeus, que celebram a rendição alemã a 8 de maio, a Rússia celebra o fim da Segunda Guerra Mundial a 9 de maio devido à diferença horária. A rendição da Alemanha nazi foi assinada às 23.01 horas do dia 8 de maio de 1945 em Berlim, 1.01 horas do dia 9 de maio em Moscovo.

Após a queda da URSS, esta vitória sobre o nazismo tornou-se quase sagrada, com o poder de Moscovo a reescrever uma história 'positiva".

O Regimento Imortal

Para além do desfile militar, a data é marcada pelo "Regimento Imortal", um desfile de cidadãos, vestidos de uniformes militares e roupas dos anos 40, com fotografias a preto e branco de vítimas da guerra.

Em 2019, antes da pandemia, foram mais de 14 milhões de pessoas, um pouco por toda a Rússia, a participar neste "Regimento dos Imortais".

Este desfile é organizado na Rússia e em cidades do mundo inteiro onde haja um número significativo de cidadãos russos.

Esta marcha tem vindo a ganhar uma enorme dimensão e sido aproveitada para a propaganda do regime. No entanto nasceu de uma iniciativa privada, em 1965, quando estudantes de uma escola de Novossibirsk decidiram desfilar com as fotografias dos veteranos.

Em 2010 o adjunto do presidente da câmara de Moscovo decidiu aproveitar a ideia e, um ano mais tarde, três jornalistas de Tomsk, na Sibéria, decidem chamar-lhe a "Marcha do Regimento Imortal" , afirmando que os heróis que se bateram pela liberdade do país deveriam participar na festa da vitória. Desde aí, o regime apropriou-se da iniciativa e Vladimir Putin chegou mesmo a marchar à frente Regimento Imortal em 2015.

O desfile faz agora parte do programa oficial das comemorações da Grande Guerra Patriótica e é subvencionado pelo estado. Organizado pelas administrações, por grandes empresas ou pelas escolas, deixou de ser um espontâneo e passou a ser coordenado e orquestrado e as pessoas exibem agora fotografias que podem não ser as de familiares.

Para além disso, a Rússia aprovou em 2014, uma lei que criminaliza a difusão de falsas informações sobre as ações da URSS na Segunda Guerra Mundial e, em 2020, uma emenda constitucional instituiu a "memória dos defensores da pátria" e a interdição de minimizar o seu heroísmo.

Assim, para a Rússia, segundo Galia Ackerman, historiadora, jornalista, escritora e tradutora franco-russa, oficialmente a Segunda Guerra Mundial começou a 22 de junho de 1941, com a invasão da União Soviética pela Alemanha. A memória nacional apaga o pacto germano-soviético de 1939 e todos os crimes soviéticos, com a lógica de que os russos venceram os nazis que representam o mal absoluto. "Se ganharam é porque representam o bem absoluto, o que lhes atribui uma superioridade moral para continuarem a defender os seus interesses", explicou na imprensa francesa.

Esta retórica está agora a ser utilizada para legitimar a invasão da Ucrânia. Desde o início do conflito, Moscovo tem justificado a sua "operação militar especial" pelo seu desejo de "desnazificar" o país.

Partilhe esta notíciaComentários

Notícias relacionadas

Detido vice-ministro russo acusado de ter recebido subornos na reconstrução de Mariupol

Rússia aborta lançamento do foguetão Angara-A5 a minutos da descolagem

Rússia e Cazaquistão vivem "piores cheias em décadas"