Ex-militares dos EUA testemunham sobre OVNIs e programa secreto do governo que os recupera e estuda

Objeto não identificado é seguido por um aviador naval, em 2015.
Objeto não identificado é seguido por um aviador naval, em 2015. Direitos de autor AP Photo
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De  Andrew Naughtie, Euronews
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Artigo publicado originalmente em inglês

Programa existirá há várias décadas e decorrerá sem escrutínio do Congresso, revelou antigo oficial dos serviços secretos da Força Aérea dos Estados Unidos

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Um painel do Congresso dos Estados Unidos ouviu, esta quarta-feira, o depoimento de antigos militares que dizem que as Forças Armadas do país poderão saber muito mais sobre objetos desconhecidos avistados no céu, do que foi anteriormente revelado.

A audiência sobre os chamados Fenómenos Anómalos Não Identificados (FANIs) - utilizado em parte para evitar o estigma associado ao termo OVNIs - contou com várias testemunhas com carreiras militares que partilharam histórias impressionantes sobre alegados programas militares secretos. 

Falaram também sobre encontros pessoais com objetos desconhecidos que pareciam desafiar os princípios conhecidos da física e da engenharia enquanto voavam no espaço aéreo dos EUA.

Uma das testemunhas foi David Charles Grusch, um antigo oficial dos serviços secretos da Força Aérea norte-americana e delator, que recentemente veio a público revelar que os militares dos EUA podem estar a tentar fazer engenharia reversa de naves recuperadas sem origem terrestre conhecida.

Outra foi um comandante reformado da Marinha, David Fravor, que fez um relato pormenorizado de um encontro que o próprio e outros pilotos tiveram com um FANI sobre o Golfo Pérsico, em 2004.

"Quando olhámos em volta, reparámos que havia água branca do nosso lado direito. O tempo no dia do incidente estava o mais próximo possível de um dia perfeito: céu limpo, ventos fracos, mar calmo (sem espuma branca das ondas), pelo que a água branca se destacava no grande oceano azul. Quando os quatro olhámos para baixo, vimos um pequeno objeto branco em forma de Tic Tac [rebuçados cilíndricos]", relatou. 

"Quando nos aproximámos do objeto a cerca de meia milha [0,8 km], que ficou mesmo à esquerda do nosso nariz, este acelerou rapidamente e desapareceu mesmo à frente do nosso avião. O nosso parceiro, aproximadamente 8.000 pés [2,4 km] acima de nós, também perdeu o contacto visual. Voltámo-nos imediatamente para investigar a água branca, mas descobrimos que tinha igualmente desaparecido".

O objeto, garantiu Fravor, "tinha um desempenho muito superior ao do meu novíssimo F/A-18F e não funcionava com nenhum dos princípios aerodinâmicos conhecidos e esperados para objetos que voam na nossa atmosfera".

Importante "para a humanidade"

Existe uma pressão política significativa por parte dos legisladores dos Estados Unidos para que a questão dos FANIs seja investigada em pormenor, mantendo o debate sobre o assunto tão racional quanto possível. 

Nesse sentido, alguns dos membros do painel procuraram enquadrar a audição como uma exposição de possíveis visitas extraterrestres à Terra, ao invés de um inquérito a um possível encobrimento.

"Não vamos trazer homenzinhos verdes ou discos voadores para a audiência", disse o congressista Tim Burchett. "Lamento desiludir metade de todos vocês".

No entanto, outros membros sublinharam que parte do objetivo da audição era, de facto, compreender o significado das centenas ou milhares de aparentes avistamentos por parte de pessoal militar e pilotos comerciais.

No seu discurso de abertura, durante o qual mencionou o infame incidente de Roswell, a congressista Anna Paulina Luna destacou que o governo federal precisa de compreender "a magnitude do que isto significa, não só para esta nação, mas para a humanidade".

Graças a uma sequência esporádica de reportagens e revelações oficiais nos últimos anos, há uma maior compreensão pública do que nunca sobre as medidas que os EUA têm estado a tomar discretamente para investigar os FANIs, em particular os detetados por militares.

Sabe-se que milhões de dólares de fundos discretamente alocados pelo Senado foram gastos na investigação do assunto, inclusive através do Grupo de Trabalho de FANIs, criado em 2020, e do seu sucessor, o Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios, para o qual David Charles Grusch trabalhou.

Reportagens, vídeos desclassificados e depoimentos no Congresso deixaram claro que houve muito mais encontros do que o público foi informado e que há consistências impressionantes nos relatos das testemunhas.

Mesmo entre os que permanecem céticos, as revelações, ainda parciais, levantou um sério alarme de que uma tecnologia avançada de algum tipo possa estar a ser usada nas proximidades de meios militares americanos. Se assim for, não é claro quem a desenvolveu e utilizou.

Contudo, a audiência de quarta-feira marcou uma nova viragem na história pública.

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Medo de falar

Tanto Grusch como Fravor referiram especificamente a possibilidade de o governo dos Estados Unidos ter conhecimento ou mesmo posse de naves originárias do exterior da atmosfera terrestre.

O testemunho mais marcante de Grusch foi indireto, na medida em que não afirmou ter conhecimento em primeira mão dos supostos objetos em questão. Em vez disso, disse que em 2019, foi "informado" de "um programa, de várias décadas, de recuperação de acidentes por FANIs e de engenharia reversa" que estava ou está a operar sem o escrutínio do Congresso.

"Tomei a decisão com base nos dados que recolhi, de relatar essas informações aos meus superiores e vários inspetores-gerais e de me tornar um denunciante", confessou ao subcomité.

"Como sabem, sofri retaliações pela minha decisão. Mas tenho esperança de que as minhas ações acabem por conduzir a um resultado positivo de maior transparência."

Fravor expressou igualmente preocupação com a falta de escrutínio governamental dos incidentes relatados e do conhecimento dos militares sobre estes.

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O que me preocupa é o facto de não haver qualquer 'supervisão' por parte dos nossos funcionários eleitos em relação ao facto de o nosso governo possuir ou trabalhar em naves que acreditamos não serem deste mundo.
David Fravor
Comandante reformado da Marinha dos EUA e testemunha

Reiterou ainda que o objeto que ele e outros pilotos viram no Golfo Pérsico em 2004 era capaz de efetuar manobras aparentemente impossíveis, que ultrapassariam qualquer ataque militar dos EUA.

"A tecnologia que enfrentámos era muito superior à que possuíamos e podia ser colocada em qualquer lugar, podia ir a qualquer lado, descer numa questão de segundos, fazer o que quisesse e partir. E não havia nada que pudéssemos fazer", alertou.

Para além disso, Grusch e Fravor salientaram que os objetos de que falaram não só foram vistos visualmente pelos pilotos, mas também detetados por radar, embora esses dados não tenham sido divulgados.

No entanto, o tema mais forte da audição foi o facto de, atualmente, não existir praticamente nenhuma forma de os pilotos e militares comunicarem avistamentos sem atraírem o estigma associado às conspirações OVNIs.

Da mesma forma, não existe qualquer sistema de comunicação para os pilotos da aviação civil. Outra testemunha, o ex-piloto de F-18 Ryan Graves, explicou que ajudou a fundar o grupo Americans for Safe Aerospace, para apoiar aqueles que tiveram encontros com FANIs. 

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A maioria não quer falar publicamente. Têm medo das consequências profissionais. Só querem acrescentar o seu relato ao conjunto de dados.
Ryan Graves
Ex-piloto e diretor executivo do projeto Americans for Safe Aerospace

Graves não tinha previsto o número de testemunhas que o iriam contactar. O grupo, disse o ex-piloto, "tornou-se um refúgio para mais de 30 testemunhas de FANIs que, anteriormente, não falavam devido à ausência de um processo de admissão seguro".

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