"Explosões de ansiedade": sondagem revela impacto da guerra na Ucrânia sobre os russos

ARQUIVO - Um trabalhador de rua limpa as pedras do pavimento na Praça Vermelha em Moscovo, Rússia, terça-feira, 22 de dezembro de 2015\.
ARQUIVO - Um trabalhador de rua limpa as pedras do pavimento na Praça Vermelha em Moscovo, Rússia, terça-feira, 22 de dezembro de 2015\. Direitos de autor AP Photo
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De  Joshua Askew
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Artigo publicado originalmente em inglês

Algumas descobertas minaram as linhas de pensamento no Ocidente.

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Uma nova pesquisa revelou que os russos estão a sentir cada vez mais o aperto e a ver um futuro mais sombrio entre as consequências da invasão da Ucrânia - mas uma parte da população parece manter-se resoluta.

O Open Minds Insitute (OMI), um centro de investigação centrado na desinformação e na propaganda, descobriu, numa sondagem recente, que cerca de 80% dos russos estão preocupados com o seu bem-estar financeiro.

Este valor representa um aumento de 30 pontos percentuais desde a última vez que a questão foi colocada, em maio.

O fundador e diretor executivo do OMI , Sviatoslav Hnizdovskyi, afirmou, num comunicado enviado à Euronews, que este aumento "pode indicar uma tendência em que a realidade dos frigoríficos supera a propaganda televisiva, o que pode levar a um aumento da insatisfação entre a população russa, se esta tendência se mantiver."

"Lidar com uma multidão enfurecida e esfomeada pode ser mais difícil do que lidar com um pequeno grupo de manifestantes que se opõem às ações do governo por razões morais", escreveu, "tal como aconteceu na [Revolução Russa de] 1917, quando a falta de pão e outras carências alimentares, combinadas com falhas nas linhas da frente, desempenharam um dos papéis críticos na agitação social."

AP/1917 AP
Uma cena da Revolução Russa em foto sem data.AP/1917 AP

Só metade dos inquiridos pelo OMI "acredita que o cidadão médio tem todos os meios para viver uma vida boa na Rússia", acrescentou.

No entanto, os investigadores do instituto - que trabalha em parceria com cinco universidades dos EUA e do Reino Unido - observaram que as opiniões dos russos sobre os seus desafios quotidianos e o futuro são influenciadas pelas suas convicções políticas mais amplas.

A investigação dividiu a população russa em quatro grupos distintos com base nas suas atitudes em relação ao status quo: Falcões, Lealistas, Moderados e Liberais.

84% dos inquiridos disseram querer ficar na Rússia, mas 53% dos chamados "liberais" desejam mudar-se para o estrangeiro.

Mais de três quartos deste último grupo, que se opõe ao regime no poder, estão preocupados com eventuais restrições à saída do país, acrescentou.

"Os russos pró-guerra estão sobretudo satisfeitos com a sua vida, apesar dos problemas existentes", referem os investigadores.

No entanto, começaram a surgir "explosões de ansiedade" entre os que os investigadores descreveram como "lealistas" - aqueles que geralmente concordam com os objetivos do governo, mas podem questionar os seus meios.

Os meios de comunicação social sugerem que o número de russos que fugiram do país desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022 pode ascender a centenas de milhares, embora seja difícil obter números precisos.

Em junho, a Euronews falou com emigrantes russos na Europa. Um entrevistado de São Petersburgo, que tinha protestado contra a guerra no seu país, disse que fugiu devido à intensa repressão.

O estudo do OMI, que entrevistou mais de mil pessoas dentro da Rússia, também produziu alguns resultados que contrariam as linhas de argumentação dos observadores no Ocidente.

As sanções aplicadas depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia não parecem estar a ter um impacto significativo, tirando alguns problemas em descarregar aplicações e fazer pagamentos através de cartões Visa e MasterCard, disse à Euronews, por e-mail, Jade McGlynn, que trabalha com o OMI.

Entretanto, apesar da queda do valor do rublo, só 45% dos inquiridos manifestou alguma preocupação com a desvalorização da sua moeda, explicou.

O efeito das sanções impostas pelo Ocidente à Rússia é muito debatido. A economia tem mostrado alguma resistência e prevê-se que cresça em 2023, ao contrário de outras grandes economias europeias, incluindo a alemã.

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Ainda assim, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, disse, em agosto, que as sanções precisavam de tempo para funcionar.

No mesmo mês, um relatório da Euronews revelou a existência de muitos pontos cegos, lacunas e fissuras no regime de sanções do Ocidente, que permitiram a Moscovo arrecadar milhares de milhões.

É difícil perceber até que ponto os russos apoiam verdadeiramente a guerra.

O Kremlin reprime ferozmente a dissidência contra a guerra.

Os críticos da "operação especial", como é conhecida no país, têm sido sujeitos a pesadas multas, detenções e violência pura e simples, tendo um pai russo sido detido por causa dos desenhos antiguerra que a filha fez na escola.

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Elena Koneva, investigadora da empresa russa de sondagens de opinião ExtremeScan, citou em maio sondagens que mostram uma divisão de 50/50 entre os que apoiam a guerra e os que são contra.

Outras sondagens revelam que dois terços da população apoiam a guerra.

No seu website, o OMI diz estar "consciente das possíveis limitações impostas pelo atual regime político na Rússia e de uma atmosfera social tensa que pode influenciar a exatidão e a fiabilidade dos resultados das sondagens."

No entanto, afirma que o inquérito é uma "fonte fiável de informação" porque a participação é voluntária e realizada online, o que significa que os inquiridos se sentem "mais seguros."

No seu comentário escrito, o fundador do OMI, Hnizdovskyi, afirmou que também corrobora as sondagens com uma "análise exaustiva dos dados das redes sociais", que envolveu o escrutínio de 900 websites russos, fóruns e plataformas de redes sociais proeminentes, para além da análise de mais de 140 mil comentários.

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De acordo com o OMI, a Rússia gasta milhares de milhões de euros por ano em propaganda, o que intensifica consideravelmente o conflito, moldando as perspetivas da sociedade russa e chegando mesmo a audiências em outros países.

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