Especialistas admitem que solução diplomática é atualmente uma miragem e apelam a um maior envolvimento dos países vizinhos
O conflito entre Israel e o Hamas atingiu níveis sem precedentes após o ataque do último fim de semana ao território israelita e não há luz e o fim do túnel para a população local. Há décadas que assistem impotentes aos falhanços políticos e diplomáticos e os especialistas consideram que é extremamente difícil encontrar uma solução para estabilizar a região a curto prazo.
Hugh Lovatt é especialista no Médio Oriente e Norte da África no Conselho Europeu de Relações Internacionais e admite que não vê nenhum caminho que a diplomacia possa seguir atualmente:
"Não acho que nenhum dos lados tenha vontade de encerrar os combates neste momento. E acho que voltar a como era a situação antes desses combates não será uma opção para nenhum dos lados agora."
A União Europeia e os Estados Unidos têm tentado, sem sucesso, aproximar Israel e os territórios palestinianos e o ataque do Hamas colocou ambas as partes mais distantes que nunca.
Hugh Lovatt questiona a vontade, quer de Bruxelas, quer de Washington:
“Têm apetite político para assumir o papel que precisam de desempenhar? Conseguem fazer o que é preciso, não só para a desescalada da violência, mas para criar um caminho realista para a resolução do conflito, que implica o fim da ocupação e o cumprimento da autodeterminação da Palestina?”
Também Yossi Mekelberg, especialista em temas do Médio Oriente e Norte de África no grupo de reflexão Chatham House, considera que os países vizinhos precisam de ser envolvidos:
"São precisos os Estados Unidos e a União Europeia, sim, mas também as potências regionais, Egito, Jordânia, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Bahrein. Depois também são necessários novos atores. Não esqueçamos que a Arábia Saudita colocou na mesa em 2002, a Iniciativa Saudita, que se traduziu na Declaração de Beirute, para a paz, ou normalização na região, em troca de paz com os palestinos. Acho que isso ainda está em cima da mesa."
Tanto UE como EUA têm a sua quota-parte de responsabilidade na atual situação e ambos os analistas consideram que é essencial que aprendam com os erros do passado.
Hugh Lovatt aponta o dedo às violações da lei internacional cometidas por Israel com a comunidade internacional a olhar para o lado:
"Israel tem consolidado a ocupação, avançando no sentido da anexação total do território palestiniano e consolidando o que é cada vez mais descrito como apartheid. Tem havido muito pouca reação da União Europeia, da governação europeia e dos EUA sobre esta questão."
Já Yossi Mekelberg denuncia o abandono a que a região foi submetida e que levou à ascensão dos extremistas:
“Isto foi negligenciado e abandonado durante anos, enquanto a situação se agravava. Precisamos de pensar que contexto, que condições deram poder aos mais extremistas em vez de o tentar colocar nas mãos daqueles que querem viver em paz.”