Não é a fome que preocupa os habitantes de Gaza, é a sede, alerta responsável da ONU

Um menino carrega um garrafão com água, em Gaza, 01 de novembro 2023
Um menino carrega um garrafão com água, em Gaza, 01 de novembro 2023 Direitos de autor MOHAMMED ABED/AFP or licensors
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De  Nara Madeira com AFP, AP
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Em Gaza vive-se um "cenário de morte e destruição", os habitantes sobrevivem com dois pedaços de pão mas é a sede, a falta de água, que é dramática.

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Os habitantes de Gaza sobrevivem, em geral, com dois pedaços de pão fornecidos pela ONU às 89 padarias locais mas não é a fome que mais os preocupa, neste momento, é a sede. 

Num "cenário de morte e destruição", como descrevia Thomas White, responsável das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA), que percorreu Gaza nas últimas semanas, os palestinianos clamam por água, apesar da fome.

Água, o bem mais precioso

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente, está a apoiar cerca de 89 padarias em toda a Faixa de Gaza. 

O objetivo é levar pão a 1,7 milhões de pessoas mas "agora, para lá de procurarem pão, as pessoas "Estão à procura de água".

Lynn Hastings, coordenadora adjunta da ONU para o Médio Oriente e coordenadora humanitária para os territórios palestinianos, frisava que apenas uma das três linhas de abastecimento de água, provenientes de Israel, está operacional: "sem outra hipótese, muitas pessoas dependem de águas subterrâneas insalubre ou salinas", frisava esta responsável.

O subsecretário-Geral da ONU para os Assuntos Humanitários adiantava que estão a decorrer intensas negociações entre Israel, Egipto, EUA e Nações Unidas para permitir a entrada de combustível em Gaza.

Martin Griffiths lembrava que o combustível é essencial para o funcionamento das instituições, dos hospitais e para a distribuição de água e eletricidade: "Temos de fazer com que estes fornecimentos cheguem a Gaza com fiabilidade, regularidade e sem falhas", frisava.

Os problemas acumulam-se

A experiência de Thomas White na Faixa de Gaza, citiada pelas Forças Armadas de Israel, fê-lo compreender que já "nenhum lugar é seguro" e que "as pessoas temem", não só pelas "suas vidas", mas também pelo "futuro" e pela "capacidade para alimentarem as suas famílias".

Mas há outros problemas que são um risco para os habitantes da Faixa de Gaza e podem levar a uma crise Sanitária e de Saúde sem precedentes. White chamava a atenção para o facto das águas residuais não estarem a ser tratadas e, em vez disso, estarem a ser bombeadas para o mar. Mas não só: "quando se fala com os funcionários municipais, compreende-se que quando o combustível acaba, os esgotos correm para as ruas".

O mesmo responsável apontava outro desafio. O gás butano, trazido do Egipto para Gaza pelo setor privado antes da guerra, é cada vez mais escasso. As organizações de ajuda humanitária como a UNRWA "não vão poder intervir e reproduzir a rede de distribuição" deste "bem essencial", alertava Thomas White.

Palestinianos refugiados em instalações da UNRWA

Um milhão e meio de habitantes da Faixa de Gaza, de uma população total estimada de 2,7 milhões, está deslocado devido à guerra, a maioria internamente.  Cerca de 600.000 pessoas estão refugiadas em 149 instalações da UNRWA, a maioria delas escolas, explicava Thomas White, mas a agência perdeu o contacto com muitas no norte do enclave, onde Israel está a levar a cabo intensas operações terrestres e aéreas.

Uma média de 4.000 deslocados vivem nestes estabelecimentos de ensino sem os recursos necessários para manter um saneamento adequado. "As condições são desesperadas", desabafava White, relatando que as "mulheres e crianças estão a dormir nas salas de aula" e os homens "ao relento".

Instalações da ONU não são porto seguro

Thomas White explicava que a ONU não pode garantir segurança aos palestinianos abrigados nas suas escolas porque mesmo as instalações da UNRWA, mais de 50, foram afectadas pelo conflito, houve mesmo cinco ataques diretos. 

"Na última contagem, 38 pessoas morreram nos nossos abrigos. Receio que, com os combates que decorrem atualmente no norte, esse número venha a aumentar significativamente".
Thomas White
Responsável da ONU para os Refugiados Palestinianos

Já Martin Griffiths referia que 72 membros do pessoal da UNRWA foram mortos desde 07 de outubro. "Penso que é o maior número de funcionários da ONU perdidos num conflito", frisava estw responsável das Nações Unidas.

Mais de 9.000 pessoas já foram mortas, em Gaza, de acordo com autoridades locais, quatro vezes mais do que as registadas em 2014 durante o conflito entre Israel e o Hamas,  que durou 50 dias. Mas Griffiths frisava que o número real de mortos só será conhecido quando os edifícios forem limpos e os escombros removidos.

Outras fontes • UNRWA

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