Os argentinos vão escolher o presidente em desespero, com salários médios de menos de 400 euros, preços que sobem todas as semanas e rendas que ninguém pode pagar,
A Argentina vota este domingo numa eleição presidencial cujo resultado não poderia ser mais difícil de prever.
A escolha é entre o centrista Sergio Massa e o ultraliberal e “anti-sistema” Javier Milei.
A inflação crónica de três dígitos (143% num ano), a pobreza que atinge 40% da população apesar de uma densa rede de segurança social, a dívida patológica e uma moeda a desmoronar pintam o cenário desta segunda volta.
As mesas de voto abriram no domingo às 8h (11h em Lisboa) e fecharão dez horas depois, para quase 36 milhões de argentinos chamados a votar. Os primeiros resultados oficiais são esperados a partir das 21h00 (meia noite em Lisboa).
Para a terceira maior economia da América Latina, é difícil encontrar planos mais antagónicos para o futuro.
De um lado, Sergio Massa, 51 anos, político talentoso, ministro da Economia durante 16 meses de um executivo peronista (centro-esquerda) do qual se distanciou, que promete um “governo de unidade nacional” e uma recuperação económica gradual, preservando o Estado-providência, central na cultura argentina.
À sua frente está Javier Milei, 53 anos, um economista “anarcocapitalista”, como ele mesmo se descreve, um polemista televisivo que entrou na política há dois anos. Desafiando a “casta parasitária”, ele está determinado a “isolar” o “Estado inimigo” e a "dolarizar" a economia. Para ele, as alterações climáticas são um “ciclo”, não uma responsabilidade do homem.
Entre o dois, os argentinos vão às urnas sem esperança, exaustos pelos preços que sobem mês a mês, até semana após semana, quando os salários caem, incluindo o salário mínimo de 146 mil pesos (menos de 400 euros).
As rendas estão fora do alcance de muitos e as mães recorrem às trocas, como aconteceu depois da traumática crise económica de 2001.
68% dos jovens entre os 18 e os 29 anos emigrariam se pudessem, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Buenos Aires, no início deste ano.
Massa obteve 37% no primeiro turno e Milei 30%. São os cerca de 10% de indecisos da primeira volta que vão decidir quem ganha.
“Não é o amor que nos une, mas o medo”, resume o cientista político Belen Amadeo, citando o famoso escritor argentino Jorge Luis Borges.
O país está sob pressão dos objetivos de reequilíbrio orçamental do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual a Argentina está a reembolsar dolorosamente um colossal empréstimo de 44 mil milhões de dólares concedido em 2018.