O que é que acontece quando um setor é inundado por importações baratas?

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De  Andrea BolithoElza Gonçalves
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A importação de produtos baratos tem consequências negativas para a indústria europeia. A União Europeia possui instrumentos para limitar a concorrêncial desleal.

O que é que acontece quando um setor é inundado por importações baratas?

A euronews esteve na região de Emilia Romagna, centro nevrálgico da indústria da cerâmica italiana. 

O volume de negócios do setor representa cerca de 8 mil milhões de euros mas enfrenta alguns obstáculos.

“O setor da cerâmica está em grande risco, devido à invasão, digamos assim, dos produtos da Índia, porque eles exportam material abaixo do custo”, disse à euronews Graziano Verdi, Diretor Executivo do Grupo Italcer.

"A indústria enfrenta uma concorrência desleal. Corremos o risco de ter talvez a atmosfera mais limpa com zero emissões, porque teremos perdido a nossa rede industrial", frisou Inès Van Lierde, Copresidente da AEGIS Europe.

Azulejos da Índia abaixo do custo de produção

Nesta região italiana, o setor da cerâmica emprega cerca de 20 mil pessoas. Mas os postos de trabalho e a própria produção estão ameaçados por azulejos baratos da Índia, que não respeitam as mesmas normas laborais e ambientais.

"Em poucos anos, eles obtiveram 7% da quota de mercado na Europa e, no último ano, aumentaram mais de 60%", contou Graziano Verdi.

A concorrência da China

O setor da cerâmica já enfrentou uma situação semelhante com a China.

"Para a China, a Europa tomou a decisão certa de forma rápida com a imposição de uma tributação adequada. Atualmente, a China não representa sequer 1% do mercado europeu", explicou Graziano Verdi.

A situação é diferente para a loiça de mesa na Europa. Um mercado dominado por produtos chineses a preços muito baixos.

"Há muito poucas empresas em Itália e na Europa que ainda produzem louça de mesa, porque a maior parte das empresas foi destruída", lamentou Graziano Verdi.

Medidas anti-dumping e anti-subvenções

Na União Europeia, as medidas anti-dumping ou anti-subvenções visam proteger as empresas europeias das importação de produtos com preços artificialmente baixos.

O objetivo é evitar a entrada no mercado de produtos a preços inferiores aos praticados no mercado interno, ou mesmo inferiores aos custos de produção.

O regulamento relativo às subvenções estrangeiras foi lançado em 2023 para impedir que os países estrangeiros ganhem concursos públicos de vários milhões com base em ajudas estatais.

"Quando o Estado se comporta como, diria eu, um banqueiro sem limites, injectando muito dinheiro em certos setores, é óbvio que é possível criar capacidades infinitas", lamentou Inès Van Lierde, Copresidente da AEGIS Europe.

Indústria das bicicletas aposta na qualidade

Em 2019, foram introduzidas tarifas anti-dumping para proteger a indústria europeia de bicicletas elétricas. As importações da China caíram mais de 80%.

Em Heeten, nos Países Baixos, a empresa Nijland fabrica bicicletas para pessoas com problemas de mobilidade. Um negócio de família com mais de 30 anos que aposta na produção local.

"As bicicletas têm de ser realmente seguras, têm de ter um elevado padrão de qualidade. Fazemos tudo internamente - o design, a construção, a pintura, a montagem das rodas, a montagem final e o controlo de qualidade.", disse Koen Nijland, Diretor da Nijland Cycling.

O impacto na criação de emprego na Europa

A Cargo Cycling produz bicicletas para entregas com base em dois princípios: segurança e a qualidade.

"Estas bicicletas são usadas da forma mais bruta que se possa imaginar. "É preciso ter bons produtos e elevada qualidade, pelo que a proteção, no sentido de estabelecer normas e padrões, será muito importante para o futuro da nossa indústria", disse à euronews Jeroen Beumer, Diretor Comercial da Cargo Cycling.

"E quando podemos fabricar estes produtos no nosso próprio país, é muito bom para dar emprego às pessoas", acrescentou o responsável.

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