Kaliningrado: o enclave no centro da controvérsia devido às sanções contra a Rússia

Uma mulher tira uma selfie no rio Prególia, em Kaliningrado.
Uma mulher tira uma selfie no rio Prególia, em Kaliningrado. Direitos de autor VITALY NEVAR/nevarphoto(c)
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De  David Mac DougallEuronews
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Moscovo considerou a decisão da Lituânia de impedir a circulação ferroviária de mercadorias para o enclave russo de Kaliningrado através do seu território "sem precedentes e ilegal" e ameaçou retaliar.

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O território mais ocidental da Rússia, Kaliningrado, é a nova arena de confronto entre a União Europeia e a Rússia, devido às novas sanções contra o país na sequência da invasão da Ucrânia.

Kaliningrado é um enclave no mar Báltico que, apesar da descontinuidade geográfica, pertence à Rússia. O território situa-se entre a Lituânia e a Polónia.

"É melhor viver aqui do que geralmente se supõe", afirmou um diplomata do Consulado da Alemanha em Kaliningrado, um dos poucos diplomatas de países ocidentais na cidade.

Kaliningrado, o antigo porto de Koenigsberg, pertencia à Alemanha mas foi cedido à União Soviética após a Segunda Guerra Mundial.

Atualmente o enclave alberga a frota russa do Báltico bem como mísseis Iskander, capazes de transportar ogivas nucleares. É também é um dos centros industriais mais importantes para o país, com o único porto livre de gelo da Rússia.

A sua história, arquitetura e beleza natural, fazem do enclave um local desejável para viver, escolhido por muitos russos nos últimos dez anos.

Por outro lado, o território tem uma importância estratégica para a Rússia. Situado a apenas 300 km da ilha sueca de Gotlândia, o enclave é fundamental para o controlo do mar Báltico.

"Os russos do Báltico são uma esperança para o futuro do seu país", afirmou esta semana o membro do Parlamento Europeu, Radek Sikorski. O eurodeputado polaco apelou para medidas que permitam aos residentes de Kaliningrado viajar, residentes que descreveu como "os mais céticos de Vladimir Putin na Rússia."

Antes da invasão russa da Ucrânia, os residentes de Kaliningrado podiam obter uma permissão especial para entrar na Polónia sem visto e, em geral, os países da União Europeia eram destinos populares.

Segundo o porta-voz do consulado da Alemanha na cidade, em geral os residentes são pró-ocidentais, gostam da Europa e, em particular, gostam de ir à Polónia para fazer compras.

Moscovo fica a 1200 km de Kaliningrado, enquanto Berlim fica a apenas metade da distância.

A reação dos residentes às sanções

Quando a Lituânia anunciou, esta semana, a decisão de impedir a circulação ferroviária de mercadorias para o enclave russo de Kaliningrado através do seu território, a resposta do Kremlin não tardou. Moscovo considerou a medida "sem precedentes e ilegal" e ameaçou retaliar contra a proibição, que incide sobre o carvão, metais, materiais de construção e tecnologia avançada.

Os bens que são alvo da proibição representam cerca de 50% dos bens que chegam a Kaliningrado, mas não incluem alimentos nem medicamentos.

Apesar da reação de Moscovo, os residentes de Kaliningrado não se mostram preocupados com o impacto da medida, pelo menos por enquanto.

Segundo o estudante Konstantin Savva, "talvez haja alguns problemas com a entrega de mercadorias, mas por enquanto ainda não nos sentimos afetados." 

Para Olga Klimova, funcionária municipal, "é claro que as sanções – tal como as anteriores - deixarão a sua marca na nossa região... os bens mais escassos provavelmente irão desaparecer, mas será por pouco tempo e acho que o governo encontrará uma solução e tudo será resolvido no futuro próximo. Não estamos em pânico."

"Não estou preocupado porque já estávamos todos preparados para isso. Não sei por que é que o governo está a falar sobre o assunto só agora e por que estão tão chocados," afirmou Semen Shchegolyatov, marinheiro.

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AFP
Nesta foto de arquivo tirada em 19 de junho de 2018, um barco navega num rio em Kaliningrado.AFP

O renascimento de Kaliningrado

Desde o colapso da União Soviética em 1991, a cidade tem vindo a redescobrir a sua história. Tanto pela parte das gerações mais antigas como pela parte dos mais jovens, há um interesse renovado nos vestígios enterrados da história da região, uma espécie de renascimento da Prússia Oriental.

"Claro que ainda se encontram zonas degradadas, ruas com estradas deixadas ao abandono e prédios em ruínas. Moscovo foi sempre uma "madrasta" para Kaliningrado" detalhou o porta-voz do consulado da Alemanha em Kaliningrado à Euronews. "Mas tem havido muito investimento em infraestrutura, mesmo após o Mundial de futebol de 2018. Durante a pandemia de Covid-19, o turismo aumentou, muitos russos de outras partes do país vieram de férias para as praias do Báltico,” acrescentou. 

"Kaliningrado é um local especial para os russos, devido ao seu passado histórico como antiga capital da Prússia Oriental. Ciente desse legado cultural, a Rússia está não só a preservar edifícios antigos, mas também a regulamentar a contrução nova de acordo com o estilo arquitetónico antigo," explicou o porta-voz do consulado.

Mas este esforço tem custos elevados e, segundo o Cônsul da Alemanha em Kaliningrado, as empresas estão à procura de investidores.

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Se, por um lado, existem múltiplas iniciativas que visam preservar o património cultural, por outro existe uma facção mais voltada para Moscovo, que teme a germanização do enclave, concluíu o diplomata.

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