UE compete com China no investimento em países em desenvolvimento

A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recebeu líderes e ministros de países parceiros em Bruxelas, a 25 de outubro, para o fórum Global Gateway
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recebeu líderes e ministros de países parceiros em Bruxelas, a 25 de outubro, para o fórum Global Gateway Direitos de autor Dati Bendo/ EU/Dati Bendo
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De  Mared Gwyn JonesIsabel Marques da Silva
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Artigo publicado originalmente em inglês

A UE anunciou uma série de novos acordos de investimento para infraestruturas em países em desenvolvimento, no âmbito de um fórum sobre o Global Gateway, o plano de parcerias do bloco para rivalizar com a Iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota", da China.

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Os países em desenvolvimento precisam de milhares de milhões de euros de investimento em infraestruturas para melhorar as condições básicas de vida e a UE está a pôr dinheiro em cima da mesa, numa política que também visa aumentar a influência geopolítica do bloco no mundo.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recebeu mais de 40 chefes de Estado e de governo  e ministros de países parceiros da UE, em Bruxelas, na quarta-feira, para o primeiro dos dois dias da cimeira, onde apresentou a UE como uma "melhor escolha" para o financiamento e a construção de infra-estruturas limpas.

Ursula von der Leyen afirmou que muitos podem oferecer dinheiro, mas a Europa está a fazê-lo com uma abordagem baseada em valores: "O Global Gateway consiste em dar aos países opções, melhores opções". 

"Porque, para muitos países em todo o mundo, as opções de investimento não são apenas limitadas, mas os contratos vêm com alíneas "em letra miúda" e um preço muito elevado. Por vezes, é o ambiente que paga o preço. Por vezes, são os trabalhadores que são privados dos seus direitos. Por vezes, trabalhadores estrangeiros são levados para lá. E, por vezes, é a soberania nacional que fica comprometida", acrescentou von der Leyen.

As novas iniciativas da UE incluem acordos sobre matérias-primas essenciais com a República Democrática do Congo e a Zâmbia e sobre hidrogénio verde com a Namíbia, bem como cooperação em matéria de energia de fronte renovável com o Bangladesh e o Vietname.

China já acelerou há uma década

A UE está a tentar recuperar o atraso com 300 mil milhões de euros até 2027, sabendo que a iniciativa chinesa "Uma Faixa, Uma Rota" já investiu um bilião de euros na última década.

Na semana passada, o presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o presidente russo, Vladimir Putin, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, e representantes dos talibãs que estão no poder no Afeganistão para celebrar "Uma Faixa, Uma Rota".

Os críticos afirmam que o governo de Pequim está a seguir uma política de "diplomacia da armadilha da dívida", obrigando os países em desenvolvimento a suportar níveis de dívida insustentáveis e aumentando a sua dependência estratégica da China. Mas 18 Estados-membros da UE, inlcuindo Portugal, também fazem parte da iniciativa chinesa.

Países como a Arménia, a Namíbia, a Mauritânia e o Senegal estiveram representados no fórum Global Gateway por chefes de Estado, enquanto a Albânia, o Bangladesh, o Egipto, a Geórgia e Marrocos estiveram entre os países representados pelos seus primeiros-ministros.

Mas os países da UE não conseguiram igualar o seu peso diplomático, com a Alemanha a enviar o seu secretário para o Clima e a França o seu secretário para o Desenvolvimento.

A Tunísia foi um dos países do Norte de África que não esteve representado no fórum, na sequência de uma polémica sobre um acordo de cooperação que levou a Tunísia a devolver 60 milhões de euros de fundos da UE e a proibir a entrada de funcionários da UE no seu território.

Em resposta à ausência da Tunísia, um porta-voz da Comissão Europeia afirmou que "com a Tunísia, em qualquer caso, continuamos a trabalhar ao abrigo do Memorando de Entendimento".

O Global Gateway é a proposta da UE para desenvolver infra-estruturas inteligentes e úteis e fazer outros investimentos nos países nossos parceiros. Isso não significa que seja dirigida contra qualquer outra entidade.
Comissão Europeia

O caso do novo grupo consultivo

A Comissão Europeia foi também questionada sobre a inclusão da Energias de Portugal (EDP), uma empresa energética detida a 20% pelo Estado chinês, no grupo consultivo da Global Gateway. O executivo da UE está a seguir um plano de "desarriscar" as suas cadeias de abastecimento e investimentos para reduzir as dependências estratégicas em relação à China.

"Não existe qualquer critério que impeça uma empresa em que uma participação minoritária possa ser detida por um país não europeu de integrar efetivamente o grupo consultivo empresarial", afirmou um porta-voz.

O grupo consultivo empresarial inclui 60 empresas encarregadas de orientar a Comissão nos seus investimentos estratégicos.

A Comissão também rejeitou a ideia de que o plano é uma resposta à iniciativa chinesa "Uma Faixa, Uma Rota".

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"O Global Gateway é a proposta da UE para desenvolver infra-estruturas inteligentes e úteis e fazer outros investimentos nos países nossos parceiros. Isso não significa que seja dirigida contra qualquer outra entidade", afirmou um porta-voz da Comissão Europeia.

Embora o Global Gateway tenha sido aclamado como um plano ambicioso para aumentar os investimentos globais da UE em tecnologias limpas, um estudo sobre o programa apresentado esta semana ao Parlamento Europeu criticou o plano por não ter uma "ideia clara do funcionamento e da forma como podem participar nele".

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