Roy Lee: UE deve "manter firme apoio a Taiwan" face à pressão da China

Taiwan realizou eleições presidenciais e legislativas sob o olhar atento de Pequim, Washington e Bruxelas.
Taiwan realizou eleições presidenciais e legislativas sob o olhar atento de Pequim, Washington e Bruxelas. Direitos de autor Louise Delmotte/Copyright 2024 The AP. All rights reserved
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De  Stefan GrobeJorge Liboreiro
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Artigo publicado originalmente em inglês

A União Europeia (UE) deve manter-se "firme no apoio a Taiwan" e ao seu governo democrático para fazer face ao comportamento "intimidante e corrosivo" da China, afirma o enviado de Taipé para a UE, Roy Lee.

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"Nos próximos quatro anos será ainda mais crítico não só melhorar as relações bilaterais, mas também dizer ao governo de Pequim (China) que tem de respeitar a ordem internacional e o resultado do processo democrático de Taiwan. O apaziguamento só encoraja Pequim a agravar a situação", disse Roy Lee à Euronews, em reação às eleições presidenciais e legislativas, realizadas no fim de semana, na ilha autónoma.

O vice-presidente Lai Ching-te, do Partido Democrático Progressista (DPP), de centro-esquerda, venceu a corrida presidencial com mais de 40% dos votos. Pela primeira vez, nenhum partido obteve a maioria absoluta.

A disputa entre o DPP e o Kuomintang (na oposição) centrou-se, entre outros temas, na coexistência entre a ilha e o continente chinês. Tradicionalmente, o Kuomintang tem-se oposto aos pedidos de independência e defende o estreitamento dos laços com Pequim, segundo o princípio de "Uma só China". 

Em contrapartida, o DPP questiona a validade deste princípio e defende uma identidade taiwanesa distinta. No entanto, o partido argumenta que não é necessária uma declaração formal, uma vez que a ilha é uma nação independente de facto.

A vitória de Lai foi imediatamente criticada por Pequim, que considera Taiwan como parte integrante da China e considera a reunificação uma "inevitabilidade histórica". O Ministério dos Negócios Estrangeiros criticou os países que felicitaram Lai por interferirem nos "assuntos internos".

Bruxelas, entretanto, manteve a sua cuidadosa linha oficial.

"Esperamos continuar a desenvolver as nossas relações com Taiwan e a apoiar os valores comuns subjacentes a este sistema de governação", afirmou um porta-voz da Comissão Europeia, na segunda-feira, referindo os direitos humanos, o comércio, a conectividade, o emprego e a luta contra a desinformação como áreas de cooperação.

Com o DPP a manter a presidência para um terceiro mandato, espera-se que Taipé mantenha a política externa iniciada por Tsai Ing-wen, a atual presidente, que se esforçou por reforçar as relações com as democracias ocidentais, apesar dos repetidos avisos de Pequim. 

Pressão do Parlamento Europeu

Durante os oito anos de governo de Tsai, Taiwan registou um fluxo regular de visitas de representantes internacionais, incluindo a primeira viagem oficial de uma delegação do Parlamento Europeu.

Os eurodeputados têm vindo a manifestar cada vez mais a sua posição pró-Taiwan, uma vez que as relações entre a UE e a China continuam num impasse desde o início da pandemia de COVID-19, cujas origens Pequim tem protegido de uma investigação aprofundada. 

A decisão da China, em março de 2021, de sancionar oito eurodeputados enfureceu o hemiciclo, tal como a relutância da China em denunciar a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia.

O apoio firme e o consenso da UE sobre a manutenção do status quo tornam-se ainda mais importantes porque esperamos que a China se torne ainda mais intimidante e corrosiva nos próximos meses.
Roy Lee
Enviado de Taiwan à União Europeia

O Parlamento Europeu aprovou, no ano passado, uma resolução não vinculativa que apela ao aprofundamento dos laços entre a UE e Taiwan, à cooperação contra a coerção económica e ao início de negociações para um acordo de investimento bilateral, uma petição que a Comissão Europeia ignorou.

Embora alguns Estados-membros, tais como a Lituânia, a Estónia e a Chéquia tenham feito esforço de maior abertura para com o governo de Taipé, as relações com Taiwan continuam a ser um assunto espinhoso na UE, uma vez que "ainda há algum nervosismo em relação a ofender a China", diz Mareike Ohlberg, membro sénior do centro de estudos The German Marshall Fund of the US.

Atualmente, o único estado europeu que reconhece Taiwan como uma nação soberana é a Cidade do Vaticano.

"Vários governos europeus vieram comentar a conclusão bem sucedida das eleições. Mas, nalguns casos, o presidente eleito, Lai Ching-te, não foi mencionado pelo nome", disse Ohlberg à Euronews.

O aumento das visitas oficiais registado nos últimos anos é, "em grande parte", uma tentativa de compensar a falta de garantias de segurança que a UE não consegue - ou não quer - oferecer a Taipé, acrescentou Ohlberg. Em vez disso, o que o bloco pode fazer é "sinalizar ao governo chinês que a Europa tem interesse na estabilidade" do Estreito de Taiwan, uma rota essencial para o comércio internacional e o fornecimento de semicondutores.

Roy Lee também vê esta convergência de pontos de vista em todo o bloco em defesa da democracia de Taiwan e da necessidade de preservar a paz na região a todo o custo.

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"O apoio firme e o consenso da UE sobre a manutenção do status quo tornam-se ainda mais importantes porque esperamos que a China se torne ainda mais intimidante e corrosiva nos próximos meses, se não anos, em relação a Taiwan", afirmou o enviado, citando a recente decisão de Nauru de cortar as relações diplomáticas com Taiwan a favor da China.

"Este é apenas o início de uma série de intimidações", acrescentou Lee.

"O problema é que a China nunca ouve o povo de Taiwan e não analisa as implicações do resultado do processo democrático. Tentam sempre fazer as coisas unilateralmente, na sua própria perspetiva", disse o enviado.

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