Quase metade dos europeus concorda que a União Europeia (UE) deve aperfeiçoar a sua estratégia de defesa militar, numa altura em que o bloco enfrenta uma Rússia beligerante e a possibilidade de um governo dos EUA menos cooperante.
Mais de um terço dos eleitores mais eurocéticos acredita que a UE deve dar prioridade a uma política de defesa comum, revela uma sondagem exclusiva produzida pela IPSOS para a Euronews, com 26 mil eleitores.
Quase metade é a favor da partilha de poderes militares - um resultado que será provavelmente um conforto para a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que fez da defesa um ponto central da sua campanha para a reeleição pelo Partido Popular Europeu.
A sondagem feita em 18 países que representam 96% da população da UE mostrou que os eleitores estão mais preocupados com a inflação, a desigualdade e a migração.
Mas o reforço das defesas continua a ser mais popular do que o envio de ajuda à Ucrânia, devastada pela guerra, ou a proteção das minorias, segundo a sondagem.
Mais autonomia industrial na defesa
Muitos Estados-membros estão a começar a reforçar as suas forças armadas depois da guerra em grande escala na Ucrânia, e perante os sinais de que os EUA liderados pelo republicano nacionalista Donald Trump poderão mostrar menos empenho na NATO.
Embora seja mais uma superpotência económica e regulamentar do que militar, a UE quer tornar a aquisição de armas mais eficiente e o comissário europeu para o Mercado Único, Thierry Breton, chegou a propor um fundo de defesa de 100 mil milhões de euros.
Segundo a sondagem, o reforço da defesa da UE é particularmente popular em países tais como a Finlândia e a Polónia, que enquanto vizinhos da Rússia mostram estar mais preocupados com a sua crescente beligerância.
Mas o apoio é muito menor na Hungria, cujo governo tem bloqueado repetidamente as sanções contra a Rússia e o apoio à Ucrânia; e na Áustria, cuja Constituição salvaguarda a neutralidade.
O apoio é maior entre os eleitores com mais de 50 anos e nos partidos centristas que provavelmente apoiarão a candidatura de von der Leyen para um segundo mandato.
Mas também é surpreendentemente forte entre aqueles que normalmente desconfiam da transferência de poderes para Bruxelas. Quase metade (45%) dos eleitores dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e mais de um em cada três apoiantes do grupo mais nacionalista Identidade e Democracia (ID) são a favor de políticas militares reforçadas.
"A defesa comum das fronteiras e dos interesses europeus é uma das poucas coisas para que a União Europeia é útil", disse o eurodeputado Nicola Procaccini (Itália/CRE) durante um debate em fevereiro.
Mas as promessas de von der Leyen de europeizar as despesas com a defesa podem enfrentar obstáculos, uma vez que, no passado, foram sempre os Estados-membros a criar exércitos.
A transformação da Europa numa superpotência de defesa é um "ataque direto à soberania das nossas nações", afirmou o eurodeputadi Jean-Paul Garraud (França/ID) durante o mesmo debate: "Os soldados não estão dispostos a morrer pela Europa".
Este ceticismo é partilhado por aqueles que planeiam votar na extrema-esquerda, cujo manifesto para 2024 - de uma aliança que inclui vários partidos comunistas e o Die Linke da Alemanha - se compromete a reduzir as despesas militares e a libertar a Europa das armas nucleares.