"Os Estados Unidos têm razão em exigir mais despesas com a defesa e segurança", diz o vice-ministro polaco da Defesa, Paweł Zalewski, numa entrevista à Euronews.
Embora tenha havido consenso entre todos os países para aumentar as despesas com a defesa, alguns dias antes do início da cimeira da NATO, não é segredo que continuam a existir divisões.
"Nos últimos anos, as divisões tradicionais entre o chamado sul e o leste desapareceram. Todos parecem compreender a realidade das ameaças, incluindo, sobretudo, a atitude agressiva da Rússia. As divisões atuais são, na verdade, a atitude face a um fardo. Há também, sempre presente, uma hierarquização interna informal de acordo com o critério de fornecedores e recetores de segurança", diz Tomasz Szatkowski, antigo vice-ministro da Defesa da Polónia (e então chefe do posto polaco na NATO) e agora conselheiro do presidente Andrzej Duda, numa entrevista à Euronews.
De um lado do campo de batalha está Espanha, que teoricamente concordou em aumentar as despesas, embora haja rumores de que vai beneficiar de um regime especial. Do outro estão a Polónia e outros países do flanco oriental, para quem mais dinheiro para a defesa é uma questão de interesse nacional e de verdadeira segurança. E, por fim, há países que respeitam as novas regras, mas sem grande entusiasmo.
Varsóvia está agora a destacar-se como líder, o resultado de uma política de defesa de muitos anos.
"A Polónia levou a sério a questão da partilha de encargos com os aliados quase desde o momento em que aderiu à NATO, introduzindo uma lei que exigia cerca de 2% (do PIB) em despesas com a defesa, com exceção dos anos de 2008 a 2014, quando essa lei não foi respeitada, descendo para cerca de 1,8% do PIB. Ainda assim, não foi um mau resultado, tendo em conta a tendência da NATO na altura. A partir de 2015 estas situações deixaram de ocorrer e, em 2022, foi aprovada uma lei que obriga a gastar um mínimo de 3% do PIB", diz Tomasz Szatkowski.
Como resultado, este ano, cerca de 4,7% do PIB deve ser gasto em segurança. Há alguns meses, o presidente polaco, Andrzej Duda, enviou uma carta aos líderes dos outros países a apelar a um aumento do limite de despesas. Pediu também que houvesse uma alteração constitucional sobre as despesas com a defesa na própria Polónia.
Varsóvia está também assim a tornar-se um forte aliado dos Estados Unidos, com uma forte legitimidade para fazer apelos aos aliados.
"Nos últimos anos, as despesas de defesa dos Estados Unidos não desceram abaixo dos 3 / 4% do PIB, o que levou a uma situação em que os Estados Unidos têm sido a principal garantia da segurança da Europa, que explorou esta situação de forma injusta", diz Szatkowski.
O atual vice-ministro da Defesa, Pawel Zalewski, concorda: "Durante anos, foram os Estados Unidos que garantiram o guarda-chuva protetor e pagaram a segurança dos aliados europeus, para os quais esta era uma situação muito confortável. No entanto, é altura de crescermos e de assumirmos a responsabilidade por nós próprios. Sobretudo porque a situação geopolítica mudou radicalmente. Até uma certa altura, o principal inimigo era sobretudo a Rússia. Atualmente, a Rússia continua a ser uma ameaça, mas a China representa um risco ainda maior para a segurança mundial", explica Zalewski, justificando a necessidade de um reforço da defesa.
Tradicionalmente, a delegação polaca na NATO é chefiada pelo presidente, que é acompanhado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, nomeadamente Radosław Sikorski e Władysław Kosiniak Kamysz. Apesar das divisões internas, os polacos falam a uma só voz na cimeira da NATO. Nos últimos meses, foi desenvolvida uma posição comum, com representantes do gabinete do presidente a participarem nas reuniões do governo e vice-versa.
Para Andrzej Duda, esta é a última cimeira da NATO como presidente polaco e um dos últimos eventos internacionais em que participa neste cargo. O segundo mandato de Duda termina a 6 de agosto. O sucessor, Karol Nawrocki, promete continuar o mesmo caminho no que diz respeito ao papel do país na NATO, ao rearmamento, à modernização do exército e às fortes relações transatlânticas.