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Qual será a nova face da agricultura europeia nos próximos anos?

Qual será a nova face da agricultura europeia nos próximos anos?
Direitos de autor  euronews

Primeiro, foi a onda de ar frio siberiana a afetar os olivais na Itália. Depois, veio o verão abrasador, com temperaturas extremas e seca. Seguiram-se outubro e novembro, com cheias e chuva excessiva. Segundo a publicação profissional Olive Oil Times, em 2018, a Itália perdeu cerca de 27% da sua produção de azeitona, tendo sido também afetadas outras colheitas e árvores de fruto. Seguiu-se a Espanha, em 2019, com a seca a afetar negativamente 44% da sua produção.

"As alterações da temperatura e da precipitação, assim como os extremos meteorológicos e climáticos, estão já a influenciar os rendimentos das culturas e a produtividade da pecuária na Europa", afirmou Blaž Kurnik, especialista no impacto das alterações climáticas e adaptação da Agência Europeia do Ambiente. "As projeções sugerem um aumento da frequência das condições meteorológicas e acontecimentos climáticos extremos em todo o continente. Prevê-se que o valor da terra arável sofra uma redução superior a 80% até 2100 nalgumas regiões do sul da Europa, o que poderá levar ao abandono de terrenos agrícolas", referiu o Dr. Kurnik.

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Pelo menos 22 milhões de agricultores e trabalhadores agrícolas da UE estão expostos a extremos climáticos; 44 milhões de empregos ligados ao setor alimentar podem estar também a sentir o seu impacto. Na origem de um oitavo da produção de cereais, dois terços do vinho e três quartos do azeite de todo o mundo, a Europa está a enfrentar o desafio de adaptar todos os seus sistemas agrícolas às alterações climáticas.

As alterações climáticas determinarão o futuro da agricultura

Em janeiro último, o Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus (C3S) anunciou que 2019 foi o quinto de uma série de anos excecionalmente quentes, e o segundo mais quente alguma vez registado em todo o mundo. Por seu lado, a Europa sofreu o ano mais quente registado, por uma pequena margem. Antes da publicação do relatório do estado do clima europeu de 2019, prevista para abril de 2020, o relatório de 2018 indicava já que as temperaturas na Europa revelavam uma tendência clara de subida nas últimas quatro décadas, tanto em termos das médias anuais como das sazonais. 2018 foi um dos três anos mais quentes registados na Europa (juntamente com 2014 e 2015), com uma anomalia térmica de cerca de +1,2 °C relativamente ao período 1981-2010.

A precipitação no norte da Europa aumentou até 70 mm/década desde os anos 60 do século passado, enquanto no sul diminuiu até 90 mm/década, segundo um estudo da consultora HHFA. As previsões sugerem que as alterações climáticas afetarão negativamente a agricultura em muitas regiões da Europa, explica Kurnik. "Prevê-se que as regiões mais afetadas sejam a mediterrânica e o sudeste europeu, principalmente em virtude da redução da precipitação e do aumento da temperatura, ambos levando a secas mais longas e intensas e à escassez de água", referiu Kurnik.

Projeções das temperaturas médias diárias sazonais no inverno e no verão no final do século (2071-2100) comparadas com o clima atual (1981-2010), tendo como base o cenário RCP8.5 (fonte: Dosio, 2018)

A chuva intensa que afeta as colheitas e inunda as terras agrícolas pode também sofrer um aumento que pode chegar aos 35% na Europa Central e Oriental, de acordo com um relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA). No entanto, o aumento das temperaturas tem vindo a permitir a expansão das culturas para norte nos últimos 40 anos; as previsões sugerem que esta transição venha a prosseguir, e os rendimentos têm potencial para aumentar.

Cada cultura exige uma combinação específica de condições para atingir o máximo potencial; os respetivos ciclos estão ajustados a acontecimentos específicos em momentos determinados. Por isso, se algo muda, as culturas reagem. As temperaturas mais elevadas levam a que as culturas cresçam mais cedo e se desenvolvam mais rapidamente. Prevê-se que os cereais como o trigo e o milho floresçam e atinjam a maturação uma a três semanas mais cedo, especialmente na Europa Ocidental e Setentrional, refere a AEA.

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Contudo, as temperaturas mais altas conducentes ao desenvolvimento mais rápido das culturas não lhes dão o tempo necessário para acumular material biológico suficiente, o que pode reduzir a produtividade; os rendimentos das culturas de milho, trigo e cevada foram já afetados nas regiões centrais e do sul da Europa. No futuro, os rendimentos da cultura do milho em Portugal poderão sofrer uma redução de 20 a cerca de 29 kg/ha/ano entre 2051 e 2080. Por outro lado, alguns estudos advertem para uma possível deterioração da qualidade das uvas para vinho espanholas.

“Os acontecimentos extremos durante a floração são especialmente perigosos para muitas culturas, tais como as dos cereais”, referiu a Dra. Margarita Ruiz-Ramos, especialista em adaptação dos sistemas agrícolas às alterações climáticas do CEIGRAM. "Esse é o caso do calor e das secas no Mediterrâneo, os quais poderão agora também ocorrer ocasionalmente na Europa Central", referiu a Dra. Ruiz-Ramos.

Em 2010, a onda de calor estival na Rússia afetou negativamente 30% da cultura cerealífera; as autoridades russas limitaram os danos proibindo a exportação de trigo, o que fez disparar os preços mundiais do cereal. Na última década, os acontecimentos meteorológicos e climáticos extremos associados às alterações climáticas custaram à infraestrutura agrícola e rural italiana cerca de 14 mil milhões de euros, segundo a Coldiretti, a principal associação italiana de agricultores. A Sardenha, onde as temperaturas médias neste inverno foram 3 °C superiores às normais, e com longas secas alternadas com cheias extensas, arrisca uma importante redução dos rendimentos cerealíferos nos próximos 30 anos, de acordo com o especialista da Meteonetwork Alessandro Gallo. A AEA estima que a maior parte do território de Portugal, a Galiza, o norte da Escandinávia e a Turquia irão enfrentar secas mais rigorosas; se as temperaturas globais aumentarem 2 °C, os crescentes défices aquíferos em Chipre, na Grécia, na Itália e em Espanha aumentarão a procura de água de irrigação entre 4 e 18% até 2100.

"Outros acontecimentos extremos ligados a cheias ou a excesso de água no solo durante a sementeira e a colheita podem também ser problemáticos em determinadas regiões da Europa Central e do Norte", acrescentou Ruiz-Ramos. "No Norte, embora a estação de crescimento se prolongue, o maior rendimento potencial das colheitas pode ser prejudicado por novas pragas e doenças".

A adaptação prossegue com o auxílio de dados climáticos

"A adaptação do setor às alterações climáticas será fundamental; o sucesso do planeamento e da implementação das políticas de adaptação a vários níveis é importante", afirmou o Dr. Kurnik.

Contudo, os agricultores já se estão a adaptar. Na ilha da Sicília, as culturas de frutos tropicais como a manga, a papaia e a líchia já são parte da paisagem, com os agricultores a tirarem partido das condições atmosféricas mais quentes. Em Espanha, um inquérito revelou que 64,7% dos agricultores alteraram já a forma como gerem as culturas, especialmente no que respeita ao uso da água. "Estão a investir em sistemas de rega mais eficientes, transitando de uma abordagem de irrigação total para uma de rega apenas em momentos-chave", afirmou a Dra. Ruiz-Ramos. "Os agricultores espanhóis estão também a alterar as datas das colheitas e as variedades cultivadas para adaptarem os ciclos de vida das espécies à meteorologia, ajustando também a quantidade de fertilizante que utilizam", acrescentou a Dra. Ramos.

Agência Europeia do Ambiente (2019)

A existência de dados climáticos úteis para os agricultores é fundamental para a adaptação da agricultura europeia aos extremos meteorológicos e climáticos. Alguns programas do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus (C3S) estão a adaptar os seus dados e modelos climáticos para ajudarem a agricultura a responder melhor às alterações climáticas. O Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas Copernicus pretende disponibilizar dados praticamente em tempo real em apoio às decisões agrícolas diárias e à avaliação das culturas. "A segurança alimentar é uma preocupação à escala global e o efeito do clima na agricultura não pode estar circunscrito apenas a um país ou região", explica o diretor do C3S, Carlo Buontempo. "Disponibilizamos dados que podem ser introduzidos em modelos de culturas, bem como uma série de indicadores relevantes para o setor", o que inclui dados históricos e atuais, além de indicadores e estatísticas sobre o clima, as culturas e a água no futuro.

Os exemplos de adaptação assentes em dados climáticos estão a aumentar. Na região italiana de Castiglione, a consultora GECOsistema utilizou os dados do C3S para apoiar uma autoridade regional dos recursos territoriais e hídricos no planeamento de estratégias de irrigação sustentáveis; recorrendo a cenários climáticos para 2020, 2050 e 2080, foram associadas projeções da disponibilidade da água ao rendimento de seis culturas, incluindo o kiwi, o pêssego e o milho.

"O projeto atual apresenta um enfoque mais global, tendo sido alargado para incluir indicadores para o trigo, o arroz, a soja e o milho", explicou Ronald Hutjes, professor associado e chefe de projeto na Wageningen University and Research, o parceiro com responsabilidades de liderança no desenvolvimento deste serviço global.

Na Toscânia, os Agricultural Climate Advisory Services utilizaram as previsões climáticas do C3S para efetuar projeções sobre a forma como uma praga de insetos afetaria as oliveiras em condições climáticas em mudança. Os resultados revelam que invernos mais quentes podem favorecer as pragas e ameaçar os rendimentos das culturas da azeitona. Estas informações podem ajudar os agricultores a ajustarem os seus processos.

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A adaptação da produtividade das colheitas às alterações do clima assenta também na seleção de variedades vegetais mais resistentes aos perigos meteorológicos e à variabilidade climática, explicou a Dra. Ramos. O International Maize and Wheat Improvement Center (CIMMYT) está a usar os dados do C3S para melhorar as colheitas; analisando a forma como as plantas se desenvolvem em várias condições meteorológicas, os investigadores centram-se na seleção de variedades de cereais resistentes à seca e ao calor.

Um dos principais produtores portugueses de Vinho do Porto está a testar uma aplicação climática destinada a melhorar a resistência da vinha às alterações climáticas. A Vineyards Integrated Smart Climate Application (VISCA), uma iniciativa da UE, combina informações climáticas, agrícolas e específicas de cada agricultor para adaptar o planeamento das culturas às alterações climáticas. O "crop forcing", uma das técnicas usadas, envolve deslocar o período de maturação dos meses quentes do verão para meses posteriores mais frescos por meio de poda suplementar, interrompendo o ciclo natural da vinha e forçando-a a iniciar a maturação mais tarde.

Levar os dados climáticos aos pequenos agricultores é um desafio: um projeto de adaptação piloto no Quénia constitui um bom exemplo disso. "Traduzimos os dados climáticos para os ajustar às necessidades dos agricultores e dos técnicos de extensão rural que lhes dão apoio, utilizando visualizações fáceis de compreender", referiu o Dr. Hasse Goosen, diretor dos Climate Adaptation Services. "Convertemos os dados do C3S em indicadores específicos para cada cultura, e desenvolvemos narrativas apoiadas em mapas para explicar como e quando as culturas específicas são afetadas ao longo da estação". O projeto disponibiliza também uma ferramenta de criação de mapas para determinadas variáveis com impacto nas culturas.

A utilização de dados climáticos é também fundamental para proteger os agricultores contra os prejuízos dos extremos meteorológicos. "Estamos a utilizar dados para modelar os riscos", referiu Anexa Mayer-Bosse, gestora de desenvolvimento de negócios na MunichRE, uma seguradora que serve o setor agrícola. "Com o cada vez maior uso da tecnologia de satélite e da digitalização, há um acréscimo contínuo de dados disponíveis que servem de aproximação aos riscos da agricultura. Com base nesses conjuntos de dados, os produtos de seguros podem ser adaptados aos parâmetros climáticos".