Eleições na Catalunha com independência como horizonte

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As eleições para o parlamento regional na Catalunha, este domingo, fazem-se em pleno turbilhão da crise económica e da movimentação independentista.

Em plena Ramblas, a emblemática avenida de Barcelona, os vendedores de bandeiras independentistas, conhecidas por “estelades” não se queixam.

“Sempre vendemos algumas, mas não como agora. As pessoas procuram as estelades. Vendemos bem. Estão todos excitados e atentos ao que os políticos pretendem fazer. É como se fossem até ao fim, rumo à idependência”.

Com 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha é uma das mais ricas das 17 regiões autónomas do Estado espanhol.. tem uma língua oficial, o catalão, um governo autónomo com instituições como a polícia, a saúde e a educação. Mas não tem autonomia fiscal a 100%, como têm os bascos e os navarros.

Esta região industrial, muito bem situada turistica e logisticamente na margem do Mediterrâneo, foi o motor económico de Espanha durante muito tempo.
O PIB de 210 mil milhões de euros é equivalente ao de Portugal e representa 19,5 do PIB espanhol.

Mas a crise também afeta a Catalunha. Tal como em toda a Espanha, a população sofre com os cortes orçamentais do gouverno regional da CIU, Convergência e União, e o símbolo do marasmo económico é a expulsão sistemática dos proprietários de casas hipotecadas que não conseguem pagar as mensalidades dos créditos imobiliário.
No primeiro trimestre de 2012, 7 172 famílias foram alvo de expulsão de casa na Catalunha.

O desemprego atinge 22,56% dos catalães na idade ativa e a região acumula a dívida colossal de 44 milhões de euros, 22% do seu PIB.
O Estado espanhol já deu uma ajuda de 5 mil milhões de euros para resolver os problemas mais urgentes.

Mas para os independentistas catalães, a causa da crise é precisamente o montante dos impostos pagos pela Catalunha ao Estado espanhol. O presidente da Câmara da pequena localidade de Galiffa, Jordi Forna, recusa pagar mais:

“A crise, na Catalunha, especificamente, deve-se à dependência do Estado espanhol. Se deixarmos Espanha para trás também deixamos a crise. “

Para ajudar a compreender melhor a importância das eleições catalãs, Martí Carnicer, o antigo número dois das Finanças ao longo de sete anos do antigo governo de esquerda, falou com a euronews.

Vicenç Batalla, euronews – Negociou com Madrid formas para melhorar o financiamento da região, mas três anos depois, foi tudo abandonado porque o governo reclamava um pacto fiscal, como o do País Basco. O que aconteceu para as relações se degradarem ao ponto de se falar numa separação de Espanha?

Martí Carnicer, antigo secretário catalão da Economia – Julgo que há consenso em identificar duas razões principais. A primeira é a falta de acordo, de afeto, podemos dizê-lo de várias formas, do resto de Espanha para com a Catalunha. Isto manifestou-se, primeiro, com o recurso que o Partido Popular interpôs contra o Estatuto da Catalunha e, depois, com a própria sentença do Tribunal Constitucional. Mas este fator agrava-se depois com a crise económica, que fez com que todos os elementos de financiamento, de funcionamento da atividade da economia, estejam mais débeis do que então. O conjunto destes dois fatores – a falta de entendimento, falta de compreensão para com a posição da Catalunha e o agravamento da atividade económica – explicam em grande parte o que se passa com a Catalunha.”

euronews – Madrid não cumpriu os pactos na altura em que era secretário da Economia?

MC – Sim. Radicalmente sim. No que se refere ao financiamento, que é o que posso comentar. No que se refere ao Estatuto previam-se mecanismos, como a disposição adicional relativa às verbas a favor das comunidades autónomas, que Madrid não respeitou, de todo. É certo que Madrid não cumpriu a sua parte.

euronews – Parece que o modelo federal, em Espanha, é impossível. Mas uma Catalunha independente é economicamente viável, dentro ou fora da União Europeia?

MC – Os que querem a independência dizem que o modelo federal é impossível. Há quem pense que a independência é mais simples do que criar um Estado federal. Eu julgo que não. A lógica indica que deve ser mais fácil, mais possível e seguramente mais duradouro e mais justo estabelecer um Estado federal. Quer dizer estabelecer um acordo entre as diferentes partes de Espanha para continuar a avançar e a construir um espaço comum. Se o Estado federal é difícil, um facto que eu não nego, a independência será muito mais.

euronews – Acredita em algumas ameaças de boicote a produtos catalães vindas do resto de Espanha?

MC – Julgo que não temos de nos preocupar. A Catalunha tem uma projeção exterior relativamente importante. Conseguiu vendas de exportação com crescimento muito elevado. Possivelmente o mais elevado no conjunto do Estado espanhol. Por isso a competitividade da produção catalã está demonstrada. Se pode haver boicotes? Já aconteceu no passado, mas o tempo acaba por diluí-los. Julgo que não será o fator mais relevante a ter em conta.

euronews – Durante o período em que esteve no poder descobriram-se casos de corrupção relacionados com o partido Convergência e União, que reapareceram agora às páginas dos jornais. Acredita que possa haver uma relação direta com o atual presidente, Artur Mas?

MC – Confio, espero e desejo que não seja o caso. Que não haja qualquer tipo de relação. Mas serão os tribunais a decidir. É a justiça que deve pronunciar-se, dando a todos a possibilidade de se defenderem e de provar a inocência.

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