Hasni Abidi: "É mais vantajoso (para o Hamas) rejeitar proposta de paz"

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Depois da rejeição da trégua pelo Hamas, proposta pelo Egito e aceite por Israel, Gaza treme de novo com os bombardeamentos.
Uma das exigências do hamas era o fim do bloqueio a gaza e a reabertura do posto fronteiriço entre Rafah e o Egito – alé do fim da agressão que, no entanto, é um resultado e não uma causa.

As condições impostas dividiram o próprio povo palestiniano, nomeadamente, a ala militar e ala política. Mas o Hamas está surdo a tudo e a todos e persiste na sua lógica de braço de ferro à conta do sofrimento da própria população.
O porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, ameaça:

“O anúncio da ocupação israelita do fim da luta armada, de uma das duas partes, não significa nada para nós nem tem nenhum valor para o Hamas. O que exigimos não é o fim dos combates, mas o fim da injustiça contra a população palestiniana de Gaza”.

Desde que tomou o poder em Gaza, o Hamas apresenta-se como único e fiável interlocutor do povo, sem dar azo a que outros movimentos expressem a vontade popular. Torna-se indispensável, como se fosse o único grupo capaz de defender os interesses dos palestinianos de Gaza contra a ocupação do inimigo.

Só que a estratégia da força provocou a debandada de alguns aliados do Hamas. Desde a eleição do general Al Sisi, no Egito, as relações com a ex-potência protetora tornaram-se tensas.

O Egito aceitou abrir as passagens fronteiriças, pontualmente, e apenas para prestar ajuda à população. Durante décadas, os túneis de Rafah serviram para aprovisonar as milícias do Hamas, mas também a logística dos palestinianos em geral, para toda a construção civil e comércio.

Mesmo isolado diplomaticamente, o Hamas tem muita força militar. Os mísseis e roquetes chegam do Irão e da Síria e a sua sofisticação apurada envia-os cada vez mais próximo do coração do inimigo.

O Estado de Israel, que bombardeia em força, principalmente com drones, não estava preparado para uma intervenção de tal amplitude. O número considerável de vítimas civis vai provocar um aumento da escalada de guerra e tornar-se um terreno fértil para os radicais de ambas as partes. Neste contexto, o Hamas não tem nada a perder.

Entrevista
Para compreender as motivações do Hamas, falámos com Hasni Abidi, especialista do mundo árabe.

Euronews – Mais de 200 mortos numa semana, um elevado nível de destruição. Que interesse tem o Hamas numa nova guerra? Quais as motivações do movimento?
Abidi – O Hamas está a tentar aproveitar-se da escalada de violência dos dois lados. O lado mais extremista está a pensar, evidentemente, nos dividendos políticos. Para o movimento é mais vantajoso rejeitar a proposta de paz do que aceitá-la. O Hamas vai sair reforçado do ponto de vista político, enquanto tenta levantar totalmente o bloqueio. Mas, mais importante, acaba por minar o seu parceiro, a Autoridade Palestiniana.

Na última noite, os israelitas destruíram as casas de quatro dirigentes do Hamas. Há já uma semana, as forças israelitas bombardearam Gaza. O movimento responde com o lançamento de roquetes. Onde Hamas vai buscar esta capacidade de resistência?
O equilíbrio de forças favorece, claramente, Israel, mas o Hamas surpreendeu toda a gente, inclusive militares israelitas. Penso que Hamas já se preparava para isto há muito tempo. Acreditamos que nos últimos dois anos, sobretudo, após a queda de Morsi, no Egito, o Hamas compreendeu que a situação internacional deixou de ser favorável ao movimento. Perdeu todos os aliados e era importante estar preparado para um momento difícil, para um confronto com Israel. É, no entanto, evidente que mantém fortes ligações com antigos patrocinadores como o Irão.

Falemos, então, do apoio ao Hamas: Dada a atual situação na Síria e no Iraque, podemos dizer que os islamitas do Hamas estão mais fortes?
Como sabe, os jihadistas palestinianos, a Jihad Islâmica ou o Hamas são uma emanação nacional e a sua luta é nacional. É muito difícil de ter ligações com o movimento jihadista internacional tendo em conta o que está a acontecer na Síria e no Iraque. No entanto, o desempenho do Estado Islâmico do Iraque e do Levante dá ideias, especialmente, à ‘jihad’ islâmica. Como pensam que os Estados árabes perderam força e que nada podem fazer pela sua causa, era necessário agir.

Um dirigente do Hamas disse, recentemente, a propósito de uma eventual operação terrestre israelita que a resistência sonha com isso e que Gaza será seu cemitério. Na sua opinião, dado o número de vítimas e a destruição, acha que os habitantes de Gaza continuam a apoiar a posição do Hamas?
A maioria dos habitantes de Gaza quer acabar com a violência e chegar a um cessar-fogo durável, acima de tudo, com as condições que já são conhecidas: a reabertura das fronteiras, o fim do bloqueio e a libertação dos prisioneiros. É importante, sublinhar, que os habitantes de Gaza estão limitados isto porque os Hamas não é, apenas, um movimento político, mas é também uma organização militar, uma estrutura económica e que após a saída da Autoridade Palestiniana o dia-a-dia da população é definido pelo Hamas. Por isso, e apesar de tudo, existe quase uma fusão entre os habitantes de Gaza e o Hamas, desde logo, porque não há outra perspetiva. Especialmente, quando a único ponto de passagem com o Egito está fechado, torna-se muito difícil para os habitantes se rebelarem contra o Hamas.

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