Newsletter Boletim informativo Events Eventos Podcasts Vídeos Africanews
Loader
Encontra-nos
Publicidade

Hasni Abidi: "É mais vantajoso (para o Hamas) rejeitar proposta de paz"

Hasni Abidi: "É mais vantajoso (para o Hamas) rejeitar proposta de paz"
Direitos de autor 
De Euronews
Publicado a
Partilhe esta notícia Comentários
Partilhe esta notícia Close Button
PUBLICIDADE

Depois da rejeição da trégua pelo Hamas, proposta pelo Egito e aceite por Israel, Gaza treme de novo com os bombardeamentos.
Uma das exigências do hamas era o fim do bloqueio a gaza e a reabertura do posto fronteiriço entre Rafah e o Egito – alé do fim da agressão que, no entanto, é um resultado e não uma causa.

As condições impostas dividiram o próprio povo palestiniano, nomeadamente, a ala militar e ala política. Mas o Hamas está surdo a tudo e a todos e persiste na sua lógica de braço de ferro à conta do sofrimento da própria população.
O porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, ameaça:

“O anúncio da ocupação israelita do fim da luta armada, de uma das duas partes, não significa nada para nós nem tem nenhum valor para o Hamas. O que exigimos não é o fim dos combates, mas o fim da injustiça contra a população palestiniana de Gaza”.

Desde que tomou o poder em Gaza, o Hamas apresenta-se como único e fiável interlocutor do povo, sem dar azo a que outros movimentos expressem a vontade popular. Torna-se indispensável, como se fosse o único grupo capaz de defender os interesses dos palestinianos de Gaza contra a ocupação do inimigo.

Só que a estratégia da força provocou a debandada de alguns aliados do Hamas. Desde a eleição do general Al Sisi, no Egito, as relações com a ex-potência protetora tornaram-se tensas.

O Egito aceitou abrir as passagens fronteiriças, pontualmente, e apenas para prestar ajuda à população. Durante décadas, os túneis de Rafah serviram para aprovisonar as milícias do Hamas, mas também a logística dos palestinianos em geral, para toda a construção civil e comércio.

Mesmo isolado diplomaticamente, o Hamas tem muita força militar. Os mísseis e roquetes chegam do Irão e da Síria e a sua sofisticação apurada envia-os cada vez mais próximo do coração do inimigo.

O Estado de Israel, que bombardeia em força, principalmente com drones, não estava preparado para uma intervenção de tal amplitude. O número considerável de vítimas civis vai provocar um aumento da escalada de guerra e tornar-se um terreno fértil para os radicais de ambas as partes. Neste contexto, o Hamas não tem nada a perder.

Entrevista
Para compreender as motivações do Hamas, falámos com Hasni Abidi, especialista do mundo árabe.

Euronews – Mais de 200 mortos numa semana, um elevado nível de destruição. Que interesse tem o Hamas numa nova guerra? Quais as motivações do movimento?
Abidi – O Hamas está a tentar aproveitar-se da escalada de violência dos dois lados. O lado mais extremista está a pensar, evidentemente, nos dividendos políticos. Para o movimento é mais vantajoso rejeitar a proposta de paz do que aceitá-la. O Hamas vai sair reforçado do ponto de vista político, enquanto tenta levantar totalmente o bloqueio. Mas, mais importante, acaba por minar o seu parceiro, a Autoridade Palestiniana.

Na última noite, os israelitas destruíram as casas de quatro dirigentes do Hamas. Há já uma semana, as forças israelitas bombardearam Gaza. O movimento responde com o lançamento de roquetes. Onde Hamas vai buscar esta capacidade de resistência?
O equilíbrio de forças favorece, claramente, Israel, mas o Hamas surpreendeu toda a gente, inclusive militares israelitas. Penso que Hamas já se preparava para isto há muito tempo. Acreditamos que nos últimos dois anos, sobretudo, após a queda de Morsi, no Egito, o Hamas compreendeu que a situação internacional deixou de ser favorável ao movimento. Perdeu todos os aliados e era importante estar preparado para um momento difícil, para um confronto com Israel. É, no entanto, evidente que mantém fortes ligações com antigos patrocinadores como o Irão.

Falemos, então, do apoio ao Hamas: Dada a atual situação na Síria e no Iraque, podemos dizer que os islamitas do Hamas estão mais fortes?
Como sabe, os jihadistas palestinianos, a Jihad Islâmica ou o Hamas são uma emanação nacional e a sua luta é nacional. É muito difícil de ter ligações com o movimento jihadista internacional tendo em conta o que está a acontecer na Síria e no Iraque. No entanto, o desempenho do Estado Islâmico do Iraque e do Levante dá ideias, especialmente, à ‘jihad’ islâmica. Como pensam que os Estados árabes perderam força e que nada podem fazer pela sua causa, era necessário agir.

Um dirigente do Hamas disse, recentemente, a propósito de uma eventual operação terrestre israelita que a resistência sonha com isso e que Gaza será seu cemitério. Na sua opinião, dado o número de vítimas e a destruição, acha que os habitantes de Gaza continuam a apoiar a posição do Hamas?
A maioria dos habitantes de Gaza quer acabar com a violência e chegar a um cessar-fogo durável, acima de tudo, com as condições que já são conhecidas: a reabertura das fronteiras, o fim do bloqueio e a libertação dos prisioneiros. É importante, sublinhar, que os habitantes de Gaza estão limitados isto porque os Hamas não é, apenas, um movimento político, mas é também uma organização militar, uma estrutura económica e que após a saída da Autoridade Palestiniana o dia-a-dia da população é definido pelo Hamas. Por isso, e apesar de tudo, existe quase uma fusão entre os habitantes de Gaza e o Hamas, desde logo, porque não há outra perspetiva. Especialmente, quando a único ponto de passagem com o Egito está fechado, torna-se muito difícil para os habitantes se rebelarem contra o Hamas.

Ir para os atalhos de acessibilidade
Partilhe esta notícia Comentários

Notícias relacionadas

Tropas israelitas dizem que atacaram mais de 150 alvos na Cidade de Gaza

Pelo menos 72 palestinianos mortos em ataques israelitas em Gaza, segundo o Ministério da Saúde

Israel prepara-se para deslocar palestinianos para o sul de Gaza no âmbito de operações militares alargadas