Presidente do Brasil discursa diante de um grupo de manifestantes com exigências anticonstitucionais, incluindo o regresso de uma polémica lei da ditadura militar
O Presidente do Brasil participou este domingo num protesto em Brasília, por ocasião do Dia do Exército, onde era pedida uma intervenção militar e o regresso do AI-5, um decreto emitido pela ditadura militar vigente no país no final dos anos 60.
Uma vez mais a surgir em público sem respeitar as recomendações de saúde contra a Covid-19, inclusive tossir sem proteger a boca, Jair Bolsonaro parou diante dos manifestantes, que envergavam cartazes antidemocracia onde se lia por exemplo "intervenção militar com Bolsonaro no poder".
O chefe de Estado cumprimentou o grupo e discursou, empoleirado num veículo, sem se preocupar em manter o distanciamento social de quem o acompanhava.
Sem referir a pedida intervenção militar, o Presidente disse "acreditar" em que estava ali, na manifestação, e que quem estava ali acreditava no Brasil. A mensagem era clara.
No final da semana passada, Jair Bolsonaro impôs a troca do ministro da Saúde após semanas de discordância com o anterior titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta.
Na tentativa de ter mais apoio na tutela para afrouxar as medidas contra a pandemia, o Presidente nomeou para a Saúde o oncologista e empresário Nelson Teich, que já havia sido consultor da campanha presidencial em 2018 e feito parte do governo como assessor.
O objetivo de Jair Bolsonaro é acabar com o distanciamento social imposto pelo anterior ministro da Saúde e reativar tão rápido quanto possível a economia do país.
O presidente tem contado com o apoio de diversas manifestações pelo país, com milhares de pessoas a concentrarem-se nas ruas pelo fim do confinamento social e laboral.
A oposição ao presidente tem-se manifestado à janela, nomeadamente batendo tachos e panelas como aconteceu quinta-feira após a troca de ministros da Saúde.
O Presidente insiste em contrariar as recomendações de saúde contra a epidemia e promover o fim do distanciamento social apesar da tragédia provocada pelo novo coronavírus estar a agravar-se rapidamente pelo Brasil.
De acordo com a atualização de domingo à noite, houve mais 115 mortes associadas à Covid-19, elevando o total de óbitos no âmbito da epidemia para as 2.462 mortes (um aumento de 4,9%).
O número de infeções no país aumentou mais de 100% no espaço de uma semana, ultrapassando já os 2.400 casos confirmados.
São Paulo continua a ser, de longe, o estado mais afetado pela tragédia com1.015 mortes e mais de 14.200 casos de infeção. O Rio de Janeiro é o segundo, com quase 4.800 infeções e mais de 400 mortos.