O que mudou na Síria e na Turquia nos cinco meses que se seguiram ao terramoto devastador? Um representante da UNICEF e um voluntário dos Capacetes Brancos sírios falam sobre a situação atual.
A ajuda será necessária durante muito tempo
Em fevereiro, terramotos devastadores atingiram o sul da Turquia e o noroeste da Síria, afectando gravemente a vida de milhões de pessoas.
Falámos com Paolo Marchi, representante da UNICEF na Turquia, sobre o que foi feito desde então e sobre as necessidades das áreas afetadas.
A vida está a voltar ao normal, mas a UNICEF estima que cerca de quatro milhões de crianças ainda precisam de assistência humanitária e 1,6 milhões estão a viver em tendas ou outros abrigos temporários. As necessidades humanitárias são ainda maiores para as pessoas que vivem fora das cidades.
Mas mesmo nas cidades as pessoas têm grandes necessidades. Na Turquia, estão a ser propostas novas medidas, como a redução dos impostos.
A situação será complexa durante muito tempo: a tragédia afetou cerca de 15 milhões de pessoas na Turquia e mais de 5 milhões na Síria.
Pão, água e escolas
Há ainda muitos desafios pela frente. Um deles é fazer chegar água potável às populações. Num verão por si só já quente isto é, particularmente, importante. De acordo com a UNICEF, 1,6 milhões de pessoas que vivem em acampamentos temporários na Turquia ainda não têm acesso regular à água. A situação na Síria é dificultada pelos combates.
Outro problema é o acesso das crianças ao ensino. O país está em período de férias de verão e o Ministério da Educação está a tentar preparar o novo ano letivo para que as crianças das zonas afetadas possam ir à escola, regularmente.
Entretanto, nos centros de aprendizagem temporários, as crianças estão a recuperar, durante estas férias, o que perderam durante a tragédia.
Na Síria, nos territórios controlados pelos rebeldes, autocarros transformados em salas de aula móveis funcionam em campos para pessoas deslocadas.
Médicos e psicólogos na linha da frente
As pessoas estão traumatizadas tanto pelo que aconteceu como pela sua nova vida quotidiana. Os médicos e os psicólogos são muito requisitados. A UNICEF Turquia está a tentar enviar o maior número possível de especialistas para as áreas afetadas.
A UNICEF está a tentar criar um ambiente protetor para as crianças falarem sobre os seus traumas. Foram criados mais de 50 centros para o efeito, mas são necessários mais. Aqueles que sobreviveram ao terramoto de 1999, quando eram crianças, dizem agora, enquanto adultos, que gostariam de ter tido o apoio psicológico que as crianças recebem, atualmente.
Mas, de qualquer modo, o trauma psicológico perdura para toda a vida.
No noroeste da Síria, as pessoas que viviam em campos antes dos terramotos ainda lá estão, e alguns dos feridos ainda esperam tratamento adequado. Também elas estão traumatizadas com o que aconteceu, mas, ao contrário da Turquia, não podem contar com a ajuda qualificada de psicólogos.
Ismail Abdullah, voluntário dos Capacetes Brancos, uma organização não-governamental que atua nos territórios controlados pelos rebeldes, explicava que este tipo de apoio não existe ali.
"Primeiro, temos de acabar com a guerra!"
Os voluntários dos Capacetes Brancos passaram à fase seguinte: estão a trabalhar para limpar os escombros; a ajudar as pessoas a sair de áreas onde os edifícios podem ruir a qualquer momento; a montar campos de tendas e a construir estradas para facilitar o acesso aos campos.
Mas dizem que o trabalho de reconstrução é dificultado pelos bombardeamentos incessantes e que as necessidades das pessoas só são satisfeitas em 10-20%.
"Há bombardeamentos e receios de uma nova ofensiva no terreno por parte da Rússia e das forças do regime. Se ao menos pudéssemos levar as pessoas para casa, ajudá-las a abandonar os campos... É essa a necessidade mais urgente", afirmava Ismail acrescentando que, para o conseguirem é preciso_"acabar com a guerra"._