Terry King, de 23 anos, teve problemas disciplinares em Seul, foi multado, esteve preso e era para ser repatriado, mas escapou e pode ter agravado a sua situação
Um soldado americano estará detido na Coreia do Norte após ter cruzado a fronteira a partir da Coreia do Sul, informou o Pentágono esta terça-feira.
Pyongyang ainda não comentou a eventual captura do soldado norte-americano, que terá desertado durante uma visita turística à zona de segurança conjunta entre ambas as coreias após ter fugido das autoridades que o tentavam repatriar para os Estados Unidos uma semana após ter saído da prisão em Seul.
O Pentágono identificou o soldado como Travis King e disse que o militar estaria em processo de ser repatriado para os Estados Unidos devido a um problema disciplinar ocorrido em Seul, em fevereiro.
A agência de noticias Yonhap explica que Travis King, de 23 anos, tinha sido multado em fevereiro em 5 milhões de won sul-coreanos (cerca de 3.500 euros) por ter pontapeado e danificado um carro da polícia e ter recusado colaborar com as autoridades.
O militar, que teria estado envolvido ainda num caso de agressão a um cidadão coreano num clube noturno em Seul em setembro, mas do qual não foi apresentada queixa, foi ainda condenado a dois meses de prisão, que terminaram a 10 de julho.
Na segunda-feira, Travis King terá sido escoltado para o aeroporto para embarcar num avião rumo aos Estados Unidos, para se apresentar no Fort Bliss, no Texas, onde deveria ser alvo de um processo disciplinar e ser despedido das forças armadas.
Lloyd Austin, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, explicou que um militar americano, "que se encontrava numa excursão, cruzou de livre vontade e sem autorização a fronteira militar demarcada" entre as duas Coreias.
"Estamos a acompanhar de perto, a investigar a situação e a trabalhar para notificar a família do soldado e tentar resolver este incidente", disse Austin.
A correspondente da Associated Press no Pentágono especula que a fuga do militar terá tido por base uma tentativa para "simplesmente tentar evitar a acusação" e escapar à sanção nas forças armadas dos Estados Unidos.
"Agora que está na Coreia do Norte, provavelmente, tornou a situação muito pior", considera Tara Copp.
Travis King não é o primeiro norte-americano a ficar sob custódia da Coreia do Norte. Os últimos três americanos detidos na Coreia do Norte, de que se sabe, foram libertados em 2018, mas um outro, o estudante Otto Warmbier, morreu em 2017, dias depois de ter sido libertado em coma após 17 meses de cativeiro.
Há quem veja neste novo caso um bom trunfo para a propaganda do regime de Kim Jong-un, numa altura em que os Estados Unidos e a Coreia do Sul inauguraram as reuniões do Grupo Consultivo Nuclear que visam reforçar as medidas de dissuasão militar, que incluem armas nucleares.
A reunião, no domingo, coincidiu com a chegada a Busan do "USS Kentucky", um submarino estratégico norte-americano com capacidade nuclear, o primeiro do género a visitar a Coreia do Sul desde 1981.
Algumas horas após a suposta detenção deste último soldado americano, a Coreia do Norte disparou dois novos mísseis balísticos na direção do Mar do Japão, onde caíram após voar mais de 500 quilómetros.
Se os mísseis foram uma resposta de Pyongyang à reunião, ao submarino ou à deserção do soldado americano, fica por confirmar.