Execuções, torturas e pilhagens: grupo Wagner acusado de abusos em África

Esta fotografia sem data, distribuída por militares franceses, mostra três mercenários russos, à direita, no norte do Mali.
Esta fotografia sem data, distribuída por militares franceses, mostra três mercenários russos, à direita, no norte do Mali. Direitos de autor AP/AP
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De  Joshua Askew
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Artigo publicado originalmente em inglês

Autoridades do Mali estão a ser pressionadas para pôr termo a estas violações e pedir contas aos responsáveis.

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Os mercenários do grupo Wagner, que trabalham com grupos armados locais, foram acusados de cometer graves violações dos direitos humanos no Mali.

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) diz que os mercenários russos e as forças armadas do Mali "executaram sumariamente e fizeram desaparecer à força várias dezenas de civis" desde dezembro de 2022.

A organização sediada nos EUA afirma que o grupo paramilitar Wagner também destruiu e saqueou propriedade civil, tendo, alegadamente, torturado detidos num campo do exército.

O grupo, dirigido por Yevgeny Prigozhin, está envolvido há anos em negócios obscuros no continente africano.

A empresa acumulou uma enorme fortuna "protegendo regimes africanos fracos em troca das suas minas de ouro", disse Mark Beissinger, professor de política na Universidade de Princeton, à Euronews, em março.

"Estava no mercado quando começou o tiroteio e vi três helicópteros militares a voar baixo e um deles a disparar", disse um homem de 28 anos do Mali à HRW.

"As pessoas fugiram em todas as direções. Peguei na minha mota e fugi o mais depressa que pude. Vi duas pessoas a caírem no chão atrás de mim, atingidas pelos tiros dos helicópteros."

Entre março e maio, a HRW falou com 40 pessoas, incluindo testemunhas, famílias das vítimas e oficiais, e analisou provas em vídeo, concluindo que as forças armadas do Mali tinham cometido graves abusos enquanto combatiam militantes islâmicos no centro do país.

Durante todas as operações, exceto uma, as testemunhas relataram ter visto homens armados que descreveram como "russos" ou “Wagner."

Em fevereiro, um grande número de combatentes estrangeiros "brancos", fardados, assaltaram a aldeia de Séguéla, o que resultou em espancamentos, pilhagens e na detenção de 17 homens.

Oito corpos foram encontrados mais tarde.

"Estes casos são uma fração dos abusos cometidos pelas forças armadas do Mali e pelos combatentes estrangeiros afiliados no Mali no ano passado", afirmou a HRW.

O Mali não admitiu oficialmente que os mercenários estão no país, apesar das provas crescentes das suas atividades e abusos.

Em dezembro de 2021, o governo afirmou que instrutores militares russos estavam no país no âmbito de um acordo bilateral. Este facto provocou a condenação dos EUA e dos seus aliados europeus.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, reconheceu anteriormente que o grupo Wagner "fornece serviços de segurança" no Mali.

Os mercenários russos preencheram uma lacuna deixada por França, antiga potência colonial, que anteriormente estava a trabalhar no combate aos grupos jihadistas na região, mas que se retirou em 2022 no meio de uma onda de sentimentos anti-franceses.

Em resposta à HRW, a 20 de julho, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Mali afirmou que as forças armadas do seu país "conduzem operações militares de forma completamente autónoma."

Na semana passada, o chefe do grupo paramilitar Wagner, Prigozhin, disse que os seus mercenários iriam para o continente africano, após o curto motim.

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Vamos treinar, elevar o nosso nível e partir para uma nova viagem a África", afirmou.

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