O que acontece depois da morte de Prigozhin, chefe do grupo Wagner?

Mulher chora num memorial informal junto ao antigo centro da empresa militar privada Wagner, em São Petersburgo, na Rússia, esta quinta-feira.
Mulher chora num memorial informal junto ao antigo centro da empresa militar privada Wagner, em São Petersburgo, na Rússia, esta quinta-feira. Direitos de autor Dmitri Lovetsky/Copyright 2023 The AP. All rights reserved
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De  Joshua Askew
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Artigo publicado originalmente em inglês

Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários russos Wagner, foi dado como morto esta quarta-feira

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O chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, é dado como morto após ser confirmado como passageiro num avião que caiu esta quarta-feira na Rússia, de acordo com a autoridade de aviação do país. E agora?

Qual o possível impacto político damorte de Prigozhin?

"O Kremlin cortou a cabeça da Hidra [serpente fabulosa das histórias da Grécia Antiga]", explicou Stephen Hall à Euronews.

 O especialista sugere que o governo da Rússia tentou neutralizar uma possível ameaça. "O regime temia que algo como a revolta do Wagner pudesse voltar a acontecer".

O líder da força mercenária irritou muitos membros do Kremlin nos últimos meses. Criticou repetidamente - e de forma pública - a campanhamilitar na Ucrânia, ao mesmo tempo que desafiava a narrativa do Kremlin sobre o conflito.

O ministério da Defesa russo ripostou e tentou assumir o controlo do grupo - algo que muitos afirmam ter despoletado a rebelião de Prigozhin em junho.

Embora tal não possa ser confirmado por agora, muitos analistas ocidentais e oficiais de segurança sugerem que Putin e os seus aliados orquestraram o acidente desta quarta-feira, que eliminou uma série de figuras de topo do grupo Wagner.

Já Hall acredita que o alvo poderia ser a elite russa em geral. "Putin envia sinais às pessoas e penso que este é um sinal muito claro de que é isto que acontece aos traidores".

"Prigozhin morreu a sangue frio. Aqui está um homem que disse que a guerra está a correr mal e que o regime é corrupto, e eles acabaram com ele", acrescenta.

Pouco depois do início do motim do Wagner a 24 de junho, o presidente da Rússia denunciou o ato como "traição" e uma "punhalada nas costas", prometendo vingança.

A guerra está a correr mal e algumas elites estão insatisfeitas. Ao matar Prigozhin, o Kremlin envia o sinal de que, se se revoltarem, terão um fim muito brutal.
Stephen Hall
Investigador especialista na Rússia

Os grupos nacionalistas e patrióticos russos têm-se manifestado cada vez mais contra a campanha militar do seu governo na Ucrânia, acusando-o frequentemente de má gestão e manobras de combate falhadas. No entanto, o investigador diz que o incidente desta quarta-feira também pode fazer com que o Kremlin "pareça fraco".

"Algumas pessoas dirão que se trata de Putin a consolidar o poder, o que é plausível. Mas penso que é também o testemunho de um regime desesperado. Estão a tentar enviar um sinal de que vão eliminar aqueles que se revoltem contra eles... [mas isso] também mostra às elites que há conspiradores à solta", explica.

O que se segue para o Wagner?

A existência do grupo de mercenários tem sido posta em causa desde o motim falhado em junho. 

O grupo terá sido transferido para a Bielorrússia, num acordo secreto entre Putin e Prigozhin, para evitar a rebelião. O Wagner terá então perdido o financiamento que alegadamente recebia do Estado.

"O que vamos ver é que o Wagner ou vai mudar de nome e obter um novo símbolo - o Kremlin gosta de manter as estruturas que já criou - ou vai ser dissolvido", disse Hall.

No início desta semana, Prigozhin apareceu em vídeo pela primeira vez desde o motim fracassado e revelou que a força mercenária estava em África. Não se sabe o que acontecerá à operação do grupo neste continente, onde está envolvido na exploração mineira e na ajuda à segurança de regimes fracos.

Alguns comentadores insinuam que o Estado russo poderá assumir o controlo da força, embora isso não seja claro.

Reação da população russa

Apesar de ter feito inimigos nos corredores do poder, parte do povo da Rússia respeitava o discurso de Prigozhin. É incerto como é que a população vai reagir à sua alegada morte.

"É verdade que ele era popular, particularmente entre os grupos mais patrióticos e nacionalistas, embora não fosse certamente popular entre os liberais", diz Hall. "Muitos russos vão ficar bastante zangados".

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Ainda assim, Stephen Hall é cauteloso sobre as previsões futuras. "A política russa sempre foi misteriosa. E, nos últimos 18 meses, tem-no sido particularmente".

"Não sabemos o que o futuro nos reserva em termos de política. Embora soubéssemos que Prigozhin tinha os dias contados, foi certamente surpreendente a forma como terminou".

Outras fontes • Verónica Romano (tradução)

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