Yevgeny Prigozhin, líder do grupo de mercenários russos Wagner, foi dado como morto esta quarta-feira
O chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, é dado como morto após ser confirmado como passageiro num avião que caiu esta quarta-feira na Rússia, de acordo com a autoridade de aviação do país. E agora?
Qual o possível impacto político damorte de Prigozhin?
"O Kremlin cortou a cabeça da Hidra [serpente fabulosa das histórias da Grécia Antiga]", explicou Stephen Hall à Euronews.
O especialista sugere que o governo da Rússia tentou neutralizar uma possível ameaça. "O regime temia que algo como a revolta do Wagner pudesse voltar a acontecer".
O líder da força mercenária irritou muitos membros do Kremlin nos últimos meses. Criticou repetidamente - e de forma pública - a campanhamilitar na Ucrânia, ao mesmo tempo que desafiava a narrativa do Kremlin sobre o conflito.
O ministério da Defesa russo ripostou e tentou assumir o controlo do grupo - algo que muitos afirmam ter despoletado a rebelião de Prigozhin em junho.
Embora tal não possa ser confirmado por agora, muitos analistas ocidentais e oficiais de segurança sugerem que Putin e os seus aliados orquestraram o acidente desta quarta-feira, que eliminou uma série de figuras de topo do grupo Wagner.
Já Hall acredita que o alvo poderia ser a elite russa em geral. "Putin envia sinais às pessoas e penso que este é um sinal muito claro de que é isto que acontece aos traidores".
"Prigozhin morreu a sangue frio. Aqui está um homem que disse que a guerra está a correr mal e que o regime é corrupto, e eles acabaram com ele", acrescenta.
Pouco depois do início do motim do Wagner a 24 de junho, o presidente da Rússia denunciou o ato como "traição" e uma "punhalada nas costas", prometendo vingança.
Os grupos nacionalistas e patrióticos russos têm-se manifestado cada vez mais contra a campanha militar do seu governo na Ucrânia, acusando-o frequentemente de má gestão e manobras de combate falhadas. No entanto, o investigador diz que o incidente desta quarta-feira também pode fazer com que o Kremlin "pareça fraco".
"Algumas pessoas dirão que se trata de Putin a consolidar o poder, o que é plausível. Mas penso que é também o testemunho de um regime desesperado. Estão a tentar enviar um sinal de que vão eliminar aqueles que se revoltem contra eles... [mas isso] também mostra às elites que há conspiradores à solta", explica.
O que se segue para o Wagner?
A existência do grupo de mercenários tem sido posta em causa desde o motim falhado em junho.
O grupo terá sido transferido para a Bielorrússia, num acordo secreto entre Putin e Prigozhin, para evitar a rebelião. O Wagner terá então perdido o financiamento que alegadamente recebia do Estado.
"O que vamos ver é que o Wagner ou vai mudar de nome e obter um novo símbolo - o Kremlin gosta de manter as estruturas que já criou - ou vai ser dissolvido", disse Hall.
No início desta semana, Prigozhin apareceu em vídeo pela primeira vez desde o motim fracassado e revelou que a força mercenária estava em África. Não se sabe o que acontecerá à operação do grupo neste continente, onde está envolvido na exploração mineira e na ajuda à segurança de regimes fracos.
Alguns comentadores insinuam que o Estado russo poderá assumir o controlo da força, embora isso não seja claro.
Reação da população russa
Apesar de ter feito inimigos nos corredores do poder, parte do povo da Rússia respeitava o discurso de Prigozhin. É incerto como é que a população vai reagir à sua alegada morte.
"É verdade que ele era popular, particularmente entre os grupos mais patrióticos e nacionalistas, embora não fosse certamente popular entre os liberais", diz Hall. "Muitos russos vão ficar bastante zangados".
Ainda assim, Stephen Hall é cauteloso sobre as previsões futuras. "A política russa sempre foi misteriosa. E, nos últimos 18 meses, tem-no sido particularmente".
"Não sabemos o que o futuro nos reserva em termos de política. Embora soubéssemos que Prigozhin tinha os dias contados, foi certamente surpreendente a forma como terminou".