Veja aqui relatos na primeira pessoa da revolução, começada há exatamente dez anos, que acabou por conduzir à atual guerra com a Rússia.
Foi a 1 de dezembro de 2013 que começaram as manifestações contra o poder então vigente na Ucrânia. O volte-face do então presidente Viktor Yanukovych, que da promessa de um acordo de associação com a União Europeia passou a um acordo com a Rússia, foi o ponto de viragem para a revolta, que acabou por sofrer um efeito de bola de neve. Eis alguns relatos de pessoas que viveram esses dias:
Marina Chankova, produtora e realizadora de documentários
"Naquela altura, para qualquer ucraniano, já não havia escolha entre protestar ou não, quero dizer, para qualquer ucraniano consciente. Sabíamos o que queríamos e compreendíamos que o nosso governo, o presidente Yanukovych, por alguma razão, decidiu enganar-nos. Primeiro disse que iríamos avançar para a integração na UE, mas depois, de repente, assinou um acordo com a Rússia e percebemos que não estávamos a ir para onde queríamos".
Yevhenii Monastyrskyi, historiador ucraniano
"Para mim, é uma história muito pessoal, porque sou de Luhansk, mas nos primeiros dias do protesto pró-UE estava em Kiev absolutamente por acaso. Fui até lá para ver o que se estava a passar e é o primeiro momento de que me lembro muito bem. Um pequeno grupo de estudantes juntou-se na primeira noite e depois, no segundo e terceiro dias, fiquei a ver como, a meio do dia de trabalho, outras pessoas se juntaram".
Peter Dickinson, diretor do Ukraine Alert do Conselho Atlântico
Muitas pessoas disseram: "Fui para a cama em Kiev e acordei em Moscovo". E nessa altura, os protestos cresceram em massa. Foi no dia 1 de dezembro de 2013.
No dia seguinte, em poucas horas, havia quase um milhão de pessoas nas ruas do centro de Kiev. Os edifícios foram ocupados. Foi criada uma cidade de tendas permanente em Maidan. E o que tinha sido um movimento de protesto bastante modesto tornou-se numa revolução, essencialmente".
Sergio Cantone, ex-chefe do gabinete de Kiev, Euronews
"Estava muito frio e os manifestantes queimaram os pneus. Era a guerra do gelo e do fogo. Havia barreiras de fogo, com fumo negro, com um efeito de cortina de fumo. E, claro, as bombas de atordoamento utilizadas pela Berkut".
Marina Chankova, produtora e realizadora de documentários
"As pessoas no centro da cidade foram mortas pelo nosso governo. Foi um ponto de viragem que causou uma indignação ainda maior. Naquele momento, o povo ucraniano tomou a decisão de ir até ao fim".
Yevhenii Monastyrskyi, historiador ucraniano
"Foi o momento da transformação. O longo caminho de criação da sociedade civil, que começou no início dos anos 2000, atingiu o seu primeiro pico em fevereiro de 2014, quando se tornou claro que somos seres humanos, cidadãos da Ucrânia, sociedade civil. Chegámos a um momento em que já não podíamos coexistir com este governo e algo tinha de ser mudado."