UE: Mais de 70 eurodeputados pedem a demissão do comissário Várhelyi

O comissário europeu Olivér Várhelyi foi fortemente criticado por ter anunciado a suspensão de “todos os pagamentos” às autoridades palestinianas.
O comissário europeu Olivér Várhelyi foi fortemente criticado por ter anunciado a suspensão de “todos os pagamentos” às autoridades palestinianas. Direitos de autor European Union, 2023.
Direitos de autor European Union, 2023.
De  Jorge LiboreiroShona Murray & Sandor Zsiros
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Artigo publicado originalmente em inglês

Mais de 70 deputados ao Parlamento Europeu pediram a demissão de Olivér Várhelyi, o comissário europeu para a Vizinhança e Alargamento que anunciou a suspensão de “todos os pagamentos” às autoridades palestinianas.

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O facto do comissário europeu Várhelyi (de nacionaldiade húngara) ter anunciado a media numa rede social (X), sem consultar os colegas ou a presidente, Ursula von der Leyen, causou embaraço político e obrigou o executivo comunitário a corrigi-lo, dizendo que se tratava de fazer uma revisão sobre o eventual mau uso dos fundos de desenvolvimento, mas sem suspensão da ajuda humanitária.

“Não pode continuar tudo como de costume”, escreveu Várhelyi para justificar a sua decisão face ao ataque do Hamas contra Israel, a 7 de outubro.

Mais tarde, os porta-vozes da Comissão Europeia disseram que o não foi feita qualquer adomestação, ou recomendação sobre o uso de redes sociais, ao comissário Várhelyi; mas um grupo de 73 eurodeputados, de vários partidos, considera o caso grave e pediu a sua demissão, numa carta aberta à presidente Ursula von der Leyen.

“O comissário Várhelyi não tinha autoridade para decidir unilateralmente isto (a suspensão), nem para comunicar oficialmente nas suas contas das redes sociais sem que esta decisão fosse tomada com o devido processo”, escreveram. 

Estas críticas juntam-se à de vários governos dos Estados-membros, que claramente disseram haver falta de base legal para tal decisão. Portugal, Espanha, Bélgica, Luxemburgo e França foram dos países mais críticos sobre a atuação do comissário.

O caso dos "idiotas"

Para sublinhar o seu desagrado, os eurodeputados evocaram o episódio polémico, em meados de fevereiro, em que Várhelyi foi ouvido a perguntar “quantos idiotas ainda faltam?”, no hemiciclo do Parlamento Europeu, durante uma sessão sobre a região dos Balcãs Ocidentais.

“Já não perdoamos as ofensas do senhor Várhelyi às instituições da UE e ao seu funcionamento democrático. Pedimos, por isso, ao comissário Várhelyi que se demita ou que ele seja exonerado das suas funções”, dizem os eurodeputados na sua carta.

“Cara presidente, a Comissão Europeia precisa de ser exemplar no seu funcionamento democrático. As ações do senhor comissário Várhelyi minam não só a imagem das nossas instituições, mas a confiança que os cidadãos da UE depositam na Comissão”, acrescentaram.

Há bastante tempo que temos preocupações sobre a forma como o comissário Várhelyi entende a sua missão e o seu mandato. Muito frequentemente, tenho a sensação de que ele está a fazer a política do primeiro-ministro húngaro (Viktor Orbán) em vez da política da União Europeia.
Nathalie Loiseau
Eurodeputada, liberal, França

Nathalie Loiseau, eurodeputada liberal francesa e uma das signatárias, disse que  Várhelyi semeou confusão sobre a posição do bloco “no pior momento possível”.

“Há bastante tempo que temos preocupações sobre a forma como o comissário Várhelyi entende a sua missão e o seu mandato”, disse Loiseau, à Euronews. “Muito frequentemente, tenho a sensação de que ele está a fazer a política do primeiro-ministro húngaro (Viktor Orbán) em vez da política da União Europeia”, acrescentou.

O eurodeputado liberal irlandês Barry Andrews considera, por seu lado, que Várhelyi foi “muito além” das suas competências legais e a sua presença no executivo já "não é sustentável”, porque "arrastou a reputação da UE pela lama”.

“Qualquer pessoa tem de aprender com os seus próprios erros. Todos cometemos erros. É bom que seja dito. Mas lamento, foi uma má jogada, não foi uma boa ideia”, afirmou o eurodeputado socialista espanhol, Juan Fernando López Aguilar, outro signatário.

Apenas uma representante do Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, a maior formação do parlamento, acrescentou o seu nome ao texto: Maria Walsh.

Um porta-voz do PPE disse que acarta era uma iniciativa “de um bando de eurodeputados” e que o mais importante é garantir que não haja “desvio de fundos para as mãos da organização responsável pelo massacre de centenas de civis israelitas”, referindo-se ao Hamas, que a UE e os EUA consideram uma organização terrorista.

“Esta seria a melhor coisa que a Comissão deveria fazer para merecer a confiança dos cidadãos europeus”, afirmou o porta-voz, em comunicado.

Questionada sobre a carta, que foi enviada antes de uma reunião extraordinária dos líderes da UE, esta terça-feira, a Comissão Europeia disse que a presidente von der Leyen tinha “confiança no Colégio e estava focada na grave situação no terreno”.

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