Vilnius, na Lituânia, ambicionava ficar para a história com a capital em que a União Europeia (UE) conquistou influência geopolítica sobre meia dúzia de ex-territórios soviéticos.
Nessa ambição, a Comissão Europeia punha esperanças, sobretudo, na Ucrânia: país de 600 mil km2, 46 milhões de habitantes e um dos mais importantes mercados emergentes mundiais devido à capacidade produtiva na indústria e agricultura.
A assinatura de um acordo de associação seria o primeiro passo da Ucrânia em direção à eventual adesão à UE e afastaria a ex-república soviética da órbita da Rússia pela primeira vez.
Mas o presidente russo, Vladimir Putin, não esteve nunca pelos ajustes e ameaçou cortar o fornecimento de gás e criar outras dificuldades comerciais. Moscovo teme perder influência política e um mercado para as suas exportações, substituídas pelas europeias.
A suspensão do acordo, decretada pela Ucrânia a uma semana da cimeira de Vilnius, foi um duro golpe para a estratégia de alargamento da UE a leste, liderada pelo comissário Štefan Füle, entrevistado pelo correspondente da euronews, Andrei Beketov.
Andrei Beketov/euronews (AB/euronews): “Na Rússia está em curso uma grande campanha mediática e reuniões de alto nível com o objetivo de demover a Ucrânia de se aproximar do oeste. Por que é que não existe esse sentimento de urgência em Bruxelas?”
Štefan Füle/Comissão Europeia (SF/CE): “Temos um sentimento de responsabilidade e de compromisso, enquanto há quem tenha preferido expressar essa sensação de urgência nas últimas semanas. Temos sido o maior contribuinte para a Ucrânia desde que se declarou independente. Ao longo dos anos, desde 1991, já concedemos à Ucrânia 3300 milhões de euros.”
AB/euronews: “A UE não pode financiar ainda um pouco mais?”
SF/CE: “Não estamos num concurso de beleza, nem é algo sobre quem põe mais dinheiro em cima da mesa à última da hora! O primeiro ano após o acordo de associação permitiria às empresas exportadoras da Ucrânia pouparem até 500 mil milhões de euros em impostos aduaneiros. Os benefícios para o Produto Interno Bruto são estimados num crescimento de 6,2% à conta do acordo de associação. Os nossos amigos em Kiev sabem melhor do que nós de que não vamos negociar como se estivessemos num mercado, a ver quem regateia mais, se Bruxelas ou se Moscovo.”
AB/euronews: “Quando haverá outra oportunidade para avançar nesse sentido?”
SF/CE: “Temos trabalhado muito para que isso aconteça e que o acordo de associação seja assinado em Vilnius. Penso que seriam necessários muitos esforços para voltar a criar outra oportunidade. Mas da nossa parte há um total e definitivo compromisso.”
AB/euronews: “Qual é a mensagem para os países que estão comprometidos com o projeto europeu, e que querem dele participar, mas que temem enfrentar as duras reformas necessárias? Países que são menos ativos no esforço de modernização em relação ao que a UE desejaria?
SF/CE: “Não existe outro caminho a não ser o das reformas, não existem atalhos para a prosperidade, que é alcançável só através das reformas. Podemos comparar a Polónia com a Ucrânia. Em 1991, os dois países estavam mais ou menos ao mesmo nível de produção de riqueza. Mas agora veja como é que está um e como é que está o outro. Essa é a minha mensagem principal e a segunda é de que podem sempre contar com o nosso apoio”.
AB/euronews: “Ainda acredita no sucesso da Parceria de Leste, tendo apenas países como a Geórgia e a Moldávia a quererem avançar?”
SF/CE: “Acredito na Parceria de Leste e que ela pode ser uma associação entre a UE e seis países que têm diferentes aspirações, ambições e percurso histórico. Da nossa parte tentamos implementar políticas abrangentes que beneficiem esses países e que permitam também maior cooperação regional entre eles. Ao mesmo tempo, criamos programas à medida de cada um e apoiamos várias atividades. A cimeira de Vilnius será extremamente importante para avançar nesse caminho.”