Japão: será o yen ainda um refúgio seguro?

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De  Nelson Pereira
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Nesta edição de Business Middle East, discutimos a recessão que atinge a economia japonesa. Depois de um curto período de crescimento, a terceira

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Nesta edição de Business Middle East, discutimos a recessão que atinge a economia japonesa.

Depois de um curto período de crescimento, a terceira maior economia do mundo entrou de novo em recessão. Tudo indica que as políticas do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que visavam reanimar a economia, não deram fruto, pois este é o segundo recuo económico do Japão desde que Abe chegou ao poder em 2012.

Surgem hoje muitas questões sobre a eficácia dos contínuos programas de flexibilização quantitativa do Japão e sobre o impacto dos atentados da passada semana em Paris sobre a moeda japonesa e o mercado de câmbio na região árabe.

As causas da retração japonesa

A economia japonesa sofreu uma retração de 0,2% entre julho e setembro, como mostram os dados apresentados pelo governo.

Foram apontadas várias razões para este recuo, entre elas a redução de gastos nas empresas japonesas, traduzidas em ausêcia de aumentos salariais e numa redução dos investimentos – assim como numa diminuição da procura na China.

No entanto, de acordo com os especialistas, a principal razão é o aumento do imposto sobre vendas aplicado pelo governo no ano passado. E está previsto um novo aumento no próximo ano.

Na quinta-feira, o Banco do Japão confirmou que não haverá alteração na política de estímulo.

Para o governador do banco central japonês, Haruhiko Kuroda, o objetivo é agora chegar o mais rapidamente possível à taxa de inflação de 2%. Isto indica que o banco central japonês não hesitará em aliviar a política monetária, se as condições económicas o exigirem.

Na semana passada, a bolsa japonesa fechou ligeiramente em alta, com o índice Nikkei a subir 1,4%, acumulando ganhos pela quinta semana consecutiva.

No entanto, após a reunião do Banco do Japão, o yen subiu face às restantes divisas de reserva e ganhou face ao dólar (na quinta-feira e na sexta-feira) – ganhando 0,9% em relação ao dólar norte-americano; 1,19% em relação ao euro; e 1,24% contra a libra.

O yen também subiu em relação às moedas da região do Médio Oriente e Norte de África, MENA, (na quinta-feira e na sexta-feira), o que incluiu um aumento de 0,80% face ao riyall saudita, e 0,89% contra o dirham dos Emirados Árabes Unidos.

Para uma análise da economia japonesa e do comportamento do yen, a euronews foi ouvir Nour Eldeen al Hammoury, especialista em estratégia de mercados da ADS Securities em Abu Dhabi, que responde às questões de Daleen Hassan.

Banco do Japão aguarda a decisão da Reserva Federal

euronews:

Nour, apesar da continuidade do programa de flexibilização quantitativa, o Japão voltou a cair em recessão. Porquê?

Nour Eldeen AL-Hammoury:

Temos avisado que a manutenção demasiado prolongada dos programas de flexibilização quantitativa teria um impacto negativo. O programa de flexibilização quantitativa não é recente no Japão, foi introduzido há mais de 15 anos .
Apesar disso, não teve o sucesso previsto no apoio à economia, devido a muitas razões, a primeira das quais é a natureza do consumidor japonês e a segunda as reformas económicas.
O governo está a tentar mudar a abordagem da economia para um modelo de incentivo ao consumo, e isto é muito difícil no Japão.

euronews:

Quais os desafios que enfrenta o primeiro-ministro Shinzo Abe?

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Nour Eldeen AL-Hammoury:

Esta segunda quebra durante o seu mandato é considerada um fracasso. As promessas do governo eram mais otimistas.
A economia japonesa sofre retração há mais de cinco anos. É de prever uma mudança de governo? Não creio que seja de esperar, mas o imposto sobre as vendas não será certamente aumentado no próximo ano, como estava previsto. É possível que comecem a surgir apelos à demissão do governo, porque a recessão está aí pela segunda vez durante o mandato deste executivo e é a quarta consecutiva nos últimos cinco anos.

euronews :

O Banco Central do Japão decidiu manter a sua política de estímulo inalterada, apesar de na semana passada terem sido avançadas expectativas de intensificação do programa de flexibilização quantitativa. Porquê?

Nour Eldeen AL-Hammoury :

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Sim, há uma probabilidade muito alta de que o Banco Central do Japão prefira esperar pela decisão da Reserva Federal americana em dezembro, antes de tomar qualquer medida. Além disso, o yen permanece na área preferencial do banco central contra o dólar.
Se a Reserva Federal avançar em dezembro, não esperamos qualquer novo movimento por parte do banco central japonês. Mas se a reserva americana adiar a decisão de aumentar as taxas de juros, o Banco Central do Japão passará à ação em dois dias para manter o yen fraco.

euronews :

Tem acreditado no yen como refúgio seguro para investidores dos países do Médio Oriente e Norte de África (MENA). Mantém esta opinião depois dos acontecimentos da semana passada? Pode explicar-nos como tem o yen sido negociado no Médio Oriente?

Nour Eldeen AL-Hammoury :

Como dissemos na semana passada, sim, ainda vemos que o yen é uma moeda-refúgio segura, face ao aumento contínuo do dólar. Apesar dos recentes acontecimentos, vemos uma grande procura do yen durante o período passado, e mesmo face aos números mais recentes verificamos uma grande procura do yen em todas as nossas plataformas, tanto no Médio Oriente como na Ásia e na Europa, o que mostra que o yen continua a ser considerado uma moeda-refúgio segura. Existe também algo muito importante – desde a Segunda-feira Negra , o yen é a segunda moeda estável após o yuan chinês, o que atraíu a atenção dos mercados no Médio Oriente e explica a procura atual destas duas moedas.

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