David Bowie: a herança artística do homem que passou a vida a reinventar-se

David Bowie: a herança artística do homem que passou a vida a reinventar-se
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De  Elza GONCALVES
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David Bowie, o homem que passou a vida a reinventar-se, deixa-nos uma herança artística colossal. Ao longo de cinquenta anos de carreira, o “camaleão

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David Bowie, o homem que passou a vida a reinventar-se, deixa-nos uma herança artística colossal.

Ao longo de cinquenta anos de carreira, o “camaleão do rock” gravou 25 álbuns. Cada obra é a síntese de uma busca artística constante.

Criativo e excêntrico, Bowie explorou territórios musicais e criou personagens e universos que marcaram várias gerações.

Numa entrevista em 2003, o músico britânico afirmava que escrevia todos os dias: “A escrita faz parte da minha vida, 24 horas por dia. Todos os dias escrevo um pouco. Às vezes, detesto fazê-lo, é como uma obrigação que tenho de cumprir. Outras vezes, só tenho um desejo: sentar-me e escrever”.

Na última digressão, em 2004, o músico deu 112 concertos na Europa, na América e na Ásia.

Nos palcos, cantou “Never get old” (nunca envelheça) um dos temas do álbum “Reality”. David Bowie sofria de cancro há dezoito meses mas a doença não era conhecida publicamente.

“Quando somos jovens pensamos que muitas coisas são importantes, incluindo nós próprios. Mas quando envelhecemos sentimos que há cada vez menos coisas importantes exceto as coisas fundamentais, amar o próximo, amar a vida, tomar conta da família, dos amigos e das pessoas que fazem parte de um círculo que se vai alargando”, contou o músico, em 2004.

O ano de 2003 marca o início de uma longa pausa no ritmo desenfreado com que lançava álbuns. Alguns pensavam que ele nunca mais lançaria um disco. Mas, dez anos depois, em 2013, Bowie regressava à ribalta com “The Next Day” e o single “The Stars (Are Out Tonight)”.

O álbum seguinte, o último, não se fez desejar. “Blackstar” foi lançado a 8 de janeiro de 2016, no dia em que Bowie celebrava 69 anos, dois dias antes de morrer.

No último videoclipe, o do tema “Lazarus”, Bowie aparece numa cama de hospital e canta : “vou ser livre como aquele pássaro azul”.

O produtor Tony Visconti descreveu “Blackstar” como “uma prenda de despedida” da parte de “um homem extraordinário cheio de amor e de vida”.

Os cinquenta anos de carreira do artista estão resumidos numa grande exposição organizada pelo museu londrino Victoria & Albert.

A retrospetiva já foi apresentada em Londres e Paris e mostra a forma como Bowie influenciou a música, a moda, as artes visuais e os estilos de vida contemporâneos. Atualmente, a mostra pode ser visitada no museu Groninger , na Holanda, até 13 de março.

Entrevista a Martin Talbot, da Official Charts Company, do Reino Unido

Alasdair Sandford, euronews:

Junta-se a nós, em Londres, Martin Talbot, da Official Charts Company, empresa responsável pelos dados mais fidedignos da indústria da música no Reino Unido, e que dá origem às tabelas de vendas.

Os fãs foram, claramente, afetados. Há pessoas a dizer que vão lembrar-se, para sempre, onde estavam quando David Bowie morreu. Qual é o significado deste momento?

Martin Talbot – Official Charts Company, Reino Unido:

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David Bowie era, absolutamente, colossal na indústria da música e do entretenimento. Ele não era só músico era um fenómeno. Na perspetiva musical estamos a falar de algo com o mesmo significado que o Elvis Presley, os Beatles… Não há muitos, de facto, que possamos colocar no mesmo nível. Este é um momento muito importante.

Euronews:

E no que diz respeito ao seu último álbum, “Blackstar”, editado há pouco. Deve tê-lo gravado doente. Como é que o vê, hoje? É um bom trabalho?

Martin Talbot:

Penso que tem algo de notável. O produtor Tony Visconti, com quem trabalhava há longo tempo, disse que a sua vida foi uma obra de arte e, na verdade, a sua morte foi também uma obra de arte. O álbum, que é muito sombrio, fala em subir ao céu enquanto se vê o mundo, lá em baixo, e até no vídeo do primeiro single, “Lazurus”, há uma imagem dele a levitar de uma cama, como se ele tivesse morrido. Agora, há todo o tipo de mensagens que são tiradas disso. Ele, sabia, claramente, o que ia acontecer, sabia que mesmo que estivesse por cá, ainda que por um curto período de tempo, depois do lançamento do álbum, para promovê-lo ou ver se seria bem-sucedido, penso que ele sabia que não seria por muito tempo e que esta era, seguramente, a sua última contribuição enquanto artista, um artista icónico da música.

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Euronews:

Muito foi dito sobre a carreira de David Bowie, o facto de estar sempre a reinventar-se, de estar à frente do seu tempo, é verdade?

Martin Talbot:

Em uma década, nos anos setenta apenas, David Bowie produziu meia dúzia – dependendo de como vê toda esta música – produziu meia dúzia, talvez dez registos inacreditavelmente importantes, absolutamente criativos. Mas reinventando-se em cada um, aparecendo como um personagem diferente, fosse ele o David Bowie original, que anteriormente tinha sido uma espécie de ator vanguardista, com Ziggy Stardust, Aladdin Sane, o magro duque branco. Ele saiu dessa era de, agora bem documentados abusos enormes de droga, na segunda metade dos anos setenta, com Scary Monsters, mais um personagem diferente e de novo com Let’s Dance, nos anos oitenta, como uma espécie de cantor soul. Até mesmo nesse período particular ele produziu imenso, isso foi notável.

Euronews:

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Ele teve um impacto que foi sentido, claramente, para lá do mundo da música devido aos tributos que lhe têm feito, como o Primeiro-Ministro britânico, o Vaticano, o governo alemão disse que ele ajudou a derrubar o Muro de Berlim…

Martin Talbot:

Ele desempenhou, claramente, um papel importante na história de Berlim. Três dos seus registos mais aclamados, Heroes, Low e Lodger, foram gravados em Berlim, num estúdio ao lado do Muro de Berlim. Um tempo em que a cultura não estava muito desenvolvida na cidade, mas também não saía grande coisa do panorama mundial, não da forma como aconteceu depois do lançamento destes três registos. Ele teve, de facto, uma relação íntima com Berlim.

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