Michel Sapin: Há que deixar que a Europa reencontre a iniciativa e o dinamismo

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O convidado do Global Conversation desta semana é o Ministro das Finanças francês, Michel Sapin.

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O nosso convidado de hoje é o Ministro das Finanças francês, Michel Sapin.

Michel Sapin
Bom dia.

EURONEWS
Começaremos, claro, pelo escândalo conhecido como Panama Papers, o caso de evasão fiscal que atingiu proporções planetárias. Em causa estão líderes políticos estrangeiros como o Primeiro-ministro islandês, o Presidente da Argentina, o Presidente ucraniano, o Rei da Arábia Saudita ou o círculo de pessoas próximas de Vladimir Putin e do Presidente chinês.Se tudo se confirmar, como classificaria o comportamento deste dirigentes internacionais?

Michel Sapin, Ministro das Finanças francês: Uma biografia política

  • Michel Sapin nasceu a 9 de abril de 1952.
  • Membro do Partido Socialista francês desde 1975 (PS), foi eleito deputado pelo Departamento de Indre (Região Centre-Val de Loire) em 1981 e pelo Departamento Hauts-de-Seine (Região Paris Ile-de-France) em 1986, antes de voltar para o seu primeiro posto em 2007.
  • Ministro delegado para o Ministro da Justiça sob a Presidência de François Miterrand, posteriormente Ministro da Justiça, Ministro da Economia e das Finanças até março de 1993.
  • Foi ainda Ministro da Função Pública e da Reforma do Estado entre 2000 e 2002.
  • Foi ainda Presidente do Concelho Regional da região Centre entre 1998 e 2000 e entre 2004 e 2007.
  • Ministro do Trabalho, do Emprego e da Formação Profissional e do Diálogo Social entre 2012 e 2014.
  • Em abril de 2014, é nomeado Ministro das Finanças e das Contas Públicas.

Michel Sapin
Peço desculpa desde já por responder desta forma, mas não pretendo imiscuir-me nos debates políticos internos ou falar acerca do funcionamento da justiça em cada um dos países, que deverão analisar o que se aconteceu, seja ou não legal tudo o que se passou. Não devo meter-me nesses assuntos. O que me parece realmente importante em todas estas revelações é que há uma tomada de consciência que nos permite ver que não encaramos diferentes fenómenos nacionais adicionáveis, mas de um fenómeno à escala planetária. E, para lutar contra esse fenómeno planetário, coisa que, de resto, já fazemos desde há alguns anos, é necessária a cooperação internacional.

EURONEWS
O Panamá assumiu o compromisso de começar, a partir de 2018, com a troca de informações automatizada com outros Estados. Mas não parece que o país tenha vindo a cooperar. É essa a realidade?

Michel Sapin
A realidade é que o país parece brincar às escondidas e essa é uma situação que não podemos suportar. Há certos países, muitas vezes, países muito pequenos, que, no fundo, têm o desejo de continuar a servir de paraísos fiscais.Umas ilhas e uns territórios.

EURONEWS
Podemos dizer os seus nomes?
Como as Bahamas?

Michel Sapin
Sim, como as Bahamas.

EURONEWS
E as Seychelles ?

Michel Sapin
Sim, mas as Seycheles mudaram o seu sistema. São umas ilhas, por aqui e por ali.

EURONEWS
Guernesey?

Michel Sapin
Guernesey mudou as regras também.Pelo que, como pode ver, há coisas que mudaram. Antigamente, falávamos da Suiça.
Agora, já não há problemas na Suiça.Até porque muitos dos documentos encontrados sobre o sistema organizado no Panamá relacionam-se com uma necessidade de fugir da Suiça, onde já não podem ser escondidas fortunas ou rendimentos.

EURONEWS
Falemos agora do défice e das contas públicas francesas. A França conseguiu reduzir o défice público em 2015.Para os que gostam de números, a redução foi de zero virgula cinco ou seja, para três virgula cinco do PIB. Uma boa notícia. Mas o vicepresidente da Comissão Europeia sublinhou que são dados influenciados pelo chamado ciclo de atividade, ou seja, que não ficavam a dever-se às vossas políticas.Enganou-se?

Michel Sapin
Reconheceu diante de mim ter-se enganado quando usou esse tipo de expressões.
Estive com ele minutos depois e disse-me que as ideias foram mal transmitidas.
A Comissão reconhece a verdade das coisas. A França fez esforços consideráveis para controlar o défice.
Em 2015, atingimos um objetivo superior ao previsto pela Comissão.E com condições que não foram fáceis de cumprir. Foi preciso acelerar a diminuição do défice e proceder ao mesmo tempo, ao corte nos impostos, isto depois de terem sido implementadas uma série de taxas obrigatórias. E tivemos ainda de fazer face a um conjunto de gastos suplementares relacionados com situações de urgência. Sofremos os atentados em 2015. Aumentámos os gastos com segurança. Decidimos aumentar, de forma contundente, as depesas com a defesa nacional, pois o exércico encontra-se no nosso território para proteger os franceses, e presente também para combater o terrorismo internacional na origem.

EURONEWS
Falemos do Banco Central Europeu.
Mario Draghi, como sabe, utilizou a “bazuca monetária” há umas semanas com novas medidas pouco convencionais para relançar o crescimento. Como julga o resultado destas medidas? Porque, por um lado, é verdade que o euro e as taxas de juro baixaram. Por outro, a inflação ainda não se encontra na meta dos dois por cento definidos por Draghi e o crédito bancário arranca de forma tímida.
Um resultado mediano?

Michel Sapin
Enfrentamos enormes obstáculos.
Temos uma inflação extremamente baixa e até negativa, pelas razões que já conhece. Além de que a produção de matérias primas, em particular no setor agrícola, passou por grandes dificuldades, colocando os profissionais em situações complicadas. Tendo em conta este panorama extremamente difícil, reconhecemos que temos um banco central pertinente, corajoso e determinado.
O que é uma grande sorte para nós.

EURONEWS
E nada mais sobre esse assunto?

Michel Sapin
É uma grande sorte. Se não tivessemos podido contar com o banco central nos últimos dois ou três anos, onde nos encontrariamos? A única coisa que posso dizer é uma frase de Mario Draghi:
A política monetária não pode resolver tudo. Pode resolver muita coisa e ainda mais. E há uma grande determinação em lutar contra esta inflação demasiado baixa e contra esta atividade económica também demasiado baixa, mas não se pode fazer tudo. Cada membro deverá levar a cabo políticas orçamentais o mais inteligentes possível.

EURONEWS
E deverá o Banco Central Europeu manter esta política de perfusão monetária enquanto a inflação não volte aos dois por cento?

Michel Sapin
Não posso tomar decisões pelo Banco Central Europeu.
Posso ouvir o que dizem, ou seja, que é possível chegar mais longe e que deverá ser combatida a inflação, ou seja, que os dois por cento ainda não foram atingidos.
A atividade económica europeia não recuperou completamente.

EURONEWS
Acaba de publicar “Jamais sem a Europa” com o (seu) homólogo alemão Wolfgang Schäuble, um defensor da Europa.
É desde sempre, um europeísta convicto.
O problema é que são cada vez menos na Europa. O crescimento dos partidos populistas e xenófobos são uma prova disso. Como voltar então a esse sentimento inicial, numa Europa que, hoje, é preciso confessar, deixou de fazer-nos sonhar?

Michel Sapin
Há que ver essa realidade em França.
A realidade do aumento de popularidade dos populismos. E do que preocupa as pessoas nos nossos dias. As pessoas querem que o país cresça económicamente e que haja emprego. Querem que o país esteja protegido contra um determinado conjunto de elementos a nível internacional, como o terrorismo ou as pressões migratórias. Mas será que conseguiremos atingir tais objetivos cada um no seu canto? Fechando-nos sobre nós próprios? Claro que não.
Não haverá desenvolvimento económico se não existe um espaço para o mesmo.
Nem haverá proteção possível se cada um se preocupa apenas por si próprio.

Poderemos realmente proteger as nossas fronteiras, mas imagina que fecharíamos todas as fronterias de França? Imagine a perda de liberdadem de fluidez para todos e também em termos económicos.
É necessário encarar a realidade e dar um novo fôlego à iniciatia europeísta e não apenas ao ideal europeísta.
Não encontraremos soluções para os grandes problemas assim, sozinhos.
Não podemos pôr de lado a Europa.Há soluções, mas não imediatas, nem miraculosas,mas que é necessário construir. Há que deixar que a Europa reencontre a iniciativa e o dinamismo.

EURONEWS
Obrigado, Michel Sapin, pela entrevista.

Michel Sapin
Obrigado.

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