Hungria diz-se vítima da "corrente liberal internacional dominante"

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Em entrevista à euronews, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria diz que o seu governo é atacado por ser contra a "corrente liberal internacional dominante"

As possíveis sanções contra a Rússia devido à detenção de Alexei Navalny, os esforços para atenuar as tensões com a Turquia e a questão das vacinas da Covid 19 são alguns dos temas abordados com os ministros dos Negócios Estrangeiros da Hungria e da Grécia, em entrevista à euronews.

euronews: “Esteve em Moscovo na sexta-feira. Exigiu a libertação de Navalny?"

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Tínhamos assuntos bilaterais muito importantes na agenda. Tive de negociar a compra de vacinas da Rússia. Devido à atual situação de emergência, o nosso regulador nacional autorizou o uso da vacina russa. E, por outro lado, tive que garantir o nosso abastecimento em gás, para o futuro, porque o nosso contrato de compra de gás russo vai expirar no outono. Tínhamos questões bilaterais muito importantes na agenda e as negociações cingiram-se apenas às questões bilaterais ”.

"A diversificação das fontes e rotas de gás é muito importante"

euronews: “Em relação à questão do gás, muitas pessoas aqui em Bruxelas dizem que a Alemanha deveria interromper os projetos Nord Stream 2 por causa da questão Navaliy. Acha que é um cenário realista? ”

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Devemos deixar a Alemanha discutir e tomar decisões em relação a essa questão. Mas o que posso dizer é que a questão da diversificação, quando se trata do abastecimento de gás da Europa, tanto a diversificação das rotas como das fontes, é importante. O gás ainda desempenha um papel muito importante no abastecimento de energia de todo o continente. ”

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Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio da Hungriaeuronews

euronews: “Com a presidência de Joe Biden, inicia-se uma nova era nas relações húngaro-americanas. A Hungria foi um dos poucos países a apoiar abertamente Donald Trump. O primeiro-ministro Orbán disse que não tem um plano B. E agora, o governo húngaro tem um plano B? ”

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Não é exagerado dizer que entre 2016 e 2020 tivemos o melhor relacionamento político de sempre entre os dois países, em grande parte devido ao ótimo relacionamento pessoal entre o ex-presidente dos Estados Unidos e o primeiro-ministro da Hungria. Agora, esperamos que as nossas relações políticas permaneçam tão fortes como nos últimos quatro anos. ”

euronews: “Criticou pessoalmente Joe Biden e o filho. Pediu que fosse esclarecida a questão da alegada corrupção na Ucrânia. Arrepende-se de o ter feito? ”

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Quando citamos os factos, temos que ser exatos. O que aconteceu foi o seguinte. Não critiquei ninguém. O meu trabalho não é discutir a qualidade dos candidatos à presidência de outros países. Mas Biden criticou a Hungria e disse que éramos um país autocrático. Isso mostra uma espécie de falta de respeito e de confiança. Embora isso se tenha passado na campanha eleitoral e pode explicar-se pelo facto de, nas campanhas eleitorais, se dizerem coisas que não se dizem depois. Mas, obviamente, pedimos mais respeito em relação à Hungria. E, temos quase certeza de que, se o novo presidente quiser negociar com a Europa Central, estamos prontos para cooperar”.

Para nós, a vacina não é uma questão política. Para nós, a vacina não é uma questão de ideologia.
Péter Szijjártó
Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio da Hungria

euronews: "É responsável no governo húngaro pela compra de vacinas da Covid 19 fora da União Europeia. E critica duramente a estratégia de Bruxelas de negociar em conjunto a compra de vacinas. Isso não é um segredo, mas, gostaria de saber: a Hungria estaria melhor sem a estratégia europeia comum e a competir com a Alemanha, a França e outros países?"

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “O que eu observo é o seguinte: o fabricante a quem a União Europeia deu prioridade está a entregar mais vacinas aos EUA, ao Reino Unido e a Israel do que aos estados membros da UE. É um facto que tem de ser explicado pelo menos em parte. As expectativas eram muito altas e agora vemos que as entregas são muito mais lentas e há muito menos vacina do que o esperado. Mesmo assim, algumas instituições e alguns burocratas europeus continuam a atacar os países que procuram alternativas. Para nós, a vacina não é uma questão política. Para nós, a vacina não é uma questão de ideologia. É a vida das pessoas que temos de salvar. É por isso que negociamos com os russos, ou chegamos a acordo com os russos, porque nosso regulador nacional deu uma autorização, de emergência, para o uso da vacina russa na Hungria. ”

euronews: "Quem será o responsável pelo uso da vacina russa?”

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria:“O nosso regulador nacional estudou a vacina, fisicamente e virtualmente. Recebeceu as amostras, visitou os locais onde as vacinas estão a ser produzidas, estudou a documentação e aprovou o uso da vacina russa. Entendo que todos gostem de falar sobre questões filosóficas, mas o nosso regulador nacional aprovou a vacina russa com base na documentação, e teve em conta os eventuais efeitos secundários, eu, enquanto político, não podia fazer mais nada senão um acordo com os russos. As questões científicas devem ser deixadas para as pessoas formadas para o efeito.

Estamos a ser atacados devido às nossas ideias sobre a imigração, sobre a família e sobre patriotismo. Não tem nada a ver com o Estado de Direito.
Péter Szijjártó
Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio da Hungria

euronews: “Em dezembro, a União Europeia aprovou o orçamento para os próximos sete anos. Há uma nova ferramenta associada ao orçamento, o chamado mecanismo de Estado de Direito. Acha que, por causa desse mecanismo, a Hungria vai receber menos fundos europeus? ”

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Não. Por que razão deveria ser assim? Não temos problemas com as condições do Estado de direito nem com as condições da democracia. Somos uma democracia e o Estado de direito está claramente em vigor na Hungria. “

euronews: "Então, por que razão a Hungria vetou o documento?

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Por causa da nossa experiência. Desde que chegámos ao poder, temos sido atacados por questões políticas e ideológicas. Dizem que se trata do Estado de Direito, mas, esses ataques não têm nada a ver com o Estado de Direito. Estamos a ser atacados devido às nossas ideias sobre a imigração, sobre a família e sobre patriotismo. Não tem nada a ver com o Estado de Direito. Estamos continuamente sob ataque por razões políticas, porque a corrente liberal internacional dominante não digere o que estamos a fazer, porque representamos uma abordagem patriótica e democrata-cristã. Mas a verdade é somos bem sucedidos.”

Estamos continuamente sob ataque por razões políticas, porque a corrente liberal internacional dominante não digere o que estamos a fazer, porque representamos uma abordagem patriótica e democrata-cristã.
Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio da Hungria
Péter Szijjártó

euronews: “No entanto, 25 estados membros apoiaram o mecanismo. Fazem todos parte da corrente liberal? ”

Péter Szijjártó, Ministro dos Negócios Estrangeiros e do Comércio, Hungria: “Nunca comentei as posições de outros países porque o respeito mútuo é importante. Respeito a posição deles e o facto de verem essa questão sob um ângulo diferente. Eles não estão sob ataque há 11 anos. E entendo que eles tenham uma abordagem diferente. Nunca fiz comentários em relação a isso. Eles têm o direito de fazê-lo, da mesma maneira que nós temos o direito de exercer um veto sobre essa questão, porque o exercício do veto em relação a esta e a outras questões é garantido pelo tratado da União Europeia. Questionar o nosso direito a discutir a questão e pôr em causa o nosso direito ao debate é muito antidemocrático. ”

euronews
Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros da Gréciaeuronews

"Esperemos que a Turquia veja "onde está o interesse da sociedade turca"

A euronews entrevistou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Grécia sobre as relações com a Turquia e com os Estados Unidos.

euronews: "Estamos em Bruxelas com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Grécia, Nikos Dendias. Em primeiro lugar, apesar dos apelos de alguns Estados-Membros, incluindo os Estados Bálticos e a Polónia, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE decidiram evitar novas sanções, contra representantes da Rússia, pela detenção de Alexei Navalny. Concorda com esta abordagem? Como é a Europa deve lidar com a Rússia nesta fase?"

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Concordamos com a posição da grande maioria dos Estados-Membros expressa por Josep Borrell, ou seja, devemos dar uma oportunidade à Rússia para reconsiderar o problema. E daqui a 30 dias, vamos discutir o assunto novamente.

euronews: "Vamos falar das sanções discutidas durante meses sobre as atividades ilegais da Turquia no Mediterrâneo Oriental O ministro dos Negócios estrangeiros alemão disse claramente que a nova atmosfera positiva que vem do lado turco não deve ser prejudicada por novas sanções. Acha que essa atmosfera recente justifica a retirada das sanções?

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Deixe-me dizer que as sanções não estavam em cima da mesa. Heiko Maas disse exatamente o que acabou de dizer, mas as sanções não foram discutidas, não estavam na agenda. O que estamos a discutir são assuntos da atualidade, como referiu, a grande mudança na política turca. Depois da diplomacia das armas, a Turquia começou a esforçar-se para convencer toda a gente de que está a tornar-se num interlocutor normal e de que vai discutir connosco com base no direito internacional. Vamos esperar para ver o que os turcos vão fazer.

O verdadeiro interesse da sociedade turca e da própria Turquia reside nas boas relações com a União Europeia.
Nikos Dendias
Ministro dos Negócios Estrangeiros da Grécia

euronews: "Quer dizer que as sanções ainda estão em cima da mesa?"

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "A União Europeia afirma que as sanções estão em cima da mesa e espera que não sejam implementadas. E para que não seja implementadas, a Turquia deve respeitar o direito internacional.

euronews: Será que não há um risco de a Turquia querer obter algo graças a essa atitude positiva em relação à UE e, finalmente, voltar ao que era antes?

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Esperemos que o presidente Erdogan e meu amigo Mevlüt Çavuşoğlu vejam claramente onde está o interesse da sociedade turca. E sou uma das pessoas que acredita que o verdadeiro interesse da sociedade turca e da própria Turquia reside nas boas relações com a União Europeia. E talvez, quem sabe, no futuro, a Turquia possa ser membro da União Europeia. Mas isso implica relações mais estreitas e uma adesão plena ao acervo europeu. Mas permita-me que recorde que o acervo europeu consiste também, naturalmente, na Convenção Internacional sobre o Direito do Mar. A Turquia deve aceitá-la.

euronews: "Falemos das conversas exploratórias retomadas pela primeira vez em cinco anos. Qual é a expectativa realista em relação a este processo?"

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Tenho de concordar com todos os que dizem que se trata de um passo importante. Mas devo dizer que não é um grande passo. As conversas exploratórias não são negociações, são conversações ao nível dos embaixadores, que procuram definir os termos de referência para que haja negociações reais. Tivemos a primeira reunião desse tipo em cinco anos. Mas, sejamos francos, a Turquia interrompeu as reuniões em 2016, não foi a Grécia, como afirma a Turquia, mas bom, tudo bem, avancemos. O importante é que o diálogo foi retomado. Houve a primeira reunião. Foi apenas um "encontro para marcar o reencontro". Vamos ver o que se passa a partir daí".

Queremos envolver a Turquia em tudo. Mas fazê-lo em função das regras do direito internacional.
Nikos Dendias
ministro dos Negócios Estrangeiros da Grécia

euronews: "Quais são as suas linhas vermelhas neste processo?"

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Não vamos definir as discussões em função de linhas vermelhas, vamos tentar ver o lado positivo das coisas. A Turquia decidiu, afinal, que a diplomacia das armas não leva a nada e fizeram um esforço para chegar a um entendimento com a Grécia, com Chipre, com a União Europeia. É algo extremamente importante e espero que possamos trabalhar a partir daí".

euronews: "Na semana passada, a Grécia estendeu as águas territoriais nacionais em direção ao oeste e ao mar Jónico e, disse que quer fazê-lo também a leste. Continua a insistir nesse ponto apesar das advertências repetidas da Turquia em relação a uma eventual ação militar?"

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Isso já foi anunciado pelo primeiro-ministro Mitsotakis em agosto de 2020. E estender as águas territoriais do país é um direito que não tem de ser negociado com mais ninguém. É um direito soberano da Grécia e a Grécia não deixará de o excercer sempre que o governo grego considerar que é o momento apropriado. Além disso, essa questão não servirá de base a qualquer negociação nem com a Turquia, nem com ninguém".

euronews: "Quando falamos dos diferendos entre a Grécia e a Turquia no Mediterrâneo oriental, centramo-nos principalmente na exploração dos recursos naturais. A Grécia fez muitos acordos com vários países da região, incluindo Israel e o Egito. Isso significa que a Grécia pode seguir em frente sem a Turquia?"

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Mas, não queremos excluir a Turquia do que quer que seja. Isso seria absolutamente errado. Queremos envolver a Turquia em tudo. Mas fazê-lo em função das regras do direito internacional. A Grécia gostaria muito de ter uma relação cordial e mutuamente benéfica com a Turquia. Acho que é um caminho a seguir para a Grécia. E é um caminho a seguir para a Turquia. É o caminho a seguir para toda a gente".

A administração Biden é composta por pessoas que têm um profundo conhecimento dos Balcãs e do sudeste da Europa e conhecem a situação no terreno.
Nikos Dendias
ministro dos Negócios Estrangeiros da Grécia

euronews: "Olhando agora para lá da Europa, há uma mudança nos Estados Unidos, uma nova administração. Sabemos que Erdogan acabou de perder um grande amigo na Casa Branca. Significa que o novo governo será mais favorável aos interesses da Grécia?

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: "Não estamos à procura de favores da nova administração americana. E por falar na amizade entre o presidente Trump e o presidente Erdogan, devo dizer que a Grécia não tem nenhum problema com o secretário Pompeo, pelo contrário. O secretário Pompeo tinha um grande conhecimento dos problemas da região. Tudo o que ele tentou fazer foi recebido de forma muito positiva pelo lado grego. E a nova administração Biden é composta por pessoas que têm um profundo conhecimento dos Balcãs e do sudeste da Europa e conhecem a situação no terreno. Aguardamos com satisfação a oportunidade de trabalhar com os Estados Unidos, não porque esperamos favores da parte deles, mas porque trabalhar com pessoas que conhecem a região, é extremamente útil para resolver os diferendos existentes.

euronews: "Muitos funcionários e líderes da União Europeia dizem frequentemente que desejam coordenar a política externa com a nova administração dos Estados Unidos nesta nova era das relações transatlânticas. O que é que isso significa para si?

Nikos Dendias, ministro dos Negócios Estrangeiros, Grécia: “Vamos ser francos. É muito importante que a União Europeia e os Estados Unidos estejam em sintonia. Porque acreditamos nas mesmas regras e nos mesmos princípios. Por isso, é muito importante que nos aproximemos e, sejam quais forem as diferenças, que tentemos resolver esses problemas e seguir em frente juntos. Existe um entendimento profundo entre os Estados Unidos e a União Europeia. E eu tenho que sublinhar que é um ponto a partir do qual podemos construir algo".

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